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Guerra na Ucrânia: O que Finlândia e Suécia têm a ver com o conflito?

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São Paulo

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O recente acirramento dos ataques da Rússia na região do Donbass e a mudança de foco da guerra para o leste ucraniano —região a partir da qual Moscou poderia formar um corredor até a Crimeia— parecem deixar no esquecimento outro objetivo declarado por Vladimir Putin para iniciar o conflito, há 56 dias.

A tentativa de tomada do leste ucraniano está diretamente relacionada a três demandas do Kremlin:

Mas há outra exigência que continua na mesa e arrasta outros países europeus geograficamente próximos à Rússia: a não adesão à Otan.

Entenda: Putin quer que a Ucrânia inclua na sua Constituição uma garantia de que não vai aderir a blocos políticos ou militares, caso da Otan e da União Europeia. Alega que essa aproximação seria uma ameaça direta à segurança da Rússia.

Mas o que é a Otan e qual é a sua importância?

A Organização do Tratado do Atlântico Norte é uma aliança militar criada em 1949, no contexto da Guerra Fria, para aglutinar a América do Norte e os países da Europa Ocidental. Servia, essencialmente, para a proteção do bloco capitalista.

Na época, a Otan fazia frente com o Pacto da Varsóvia, de 1955, que compunha a zona de influência socialista. A partir do fim do bloco soviético, em 1991, a aliança ocidental passou por uma reformulação e alargou sua esfera:

  • 12 era o número de países que compunham a Otan na sua criação;

  • 30 é o número atual de membros, incluindo países do Leste Europeu, como Polônia e República Tcheca.

Antes restrita aos países ocidentais, a Otan passou a atuar em conflitos fora da sua área, como no Afeganistão e na Líbia.

Em 2008, uma sinalização de que Ucrânia e Geórgia seriam convidadas para intergrar o bloco —o que nunca foi formalizado— foi um dos motivos da invasão da Geórgia pela Rússia.

Desde então, Putin vem alertando que tomará medidas contra a expansão da Otan em seu entorno. O mais recente sinal ocorreu nesta quarta (20), diante do avanço no diálogo para a inclusão no bloco de dois países: Suécia e Finlândia.

"Fizemos todas as nossas advertências. Eles sabem disso, por isso não há surpresas", declarou a porta-voz Maria Zakharova.

No dia 13, as primeiras-ministras finlandesa, Sanna Marin, e sueca, Magdalena Andersson, se encontraram para tratar do tema. Tradicionalmente neutras em conflitos, as duas nações vinham negando a intenção de integrar a Otan.

Sim, mas: com a guerra, o debate foi retomado como opção de segurança no caso de eventuais novos conflitos. Isso porque o artigo 5º do tratado garante que qualquer país do bloco terá ajuda militar caso seja atacado. É o princípio da defesa coletiva, no qual um ataque a uma nação será considerado um ataque a todas.

  • A Finlândia diz que a decisão sobre aderir à aliança ou não deve ser tomada nas próximas semanas;

  • Na Suécia, fontes governistas dizem que o apoio à integração pode ser anunciado em junho.

Não se perca

Convidamos Clarissa Nascimento Forner, doutora em relações internacionais e professora da Universidade São Judas Tadeu, para explicar o que Finlândia e Suécia têm a ver com a guerra:

Qual é a preocupação da Rússia com a entrada de países como a Finlândia e a Suécia na Otan? Os dois países têm adotado uma postura de neutralidade em relação à Otan —de não adesão efetiva. A Finlândia, inclusive, mantém um acordo de cooperação e assistência mútua com a Rússia desde os anos 1950, então sua possível adesão efetiva à aliança militar teria um efeito de rompimento e de enfraquecimento desse poder simbólico da Rússia na região.

Além disso, há uma dimensão geopolítica muito forte, principalmente para a Finlândia, que faz fronteira com a Rússia.

Embora a Otan tenha revisto os seus conceitos estratégicos e a sua área de atuação após o fim da Guerra Fria, ela nunca alterou o seu foco principal, que é ser uma aliança militar. Então sua expansão é interpretada pela Rússia como uma ameaça direta.

Quais são os modelos de neutralidade que a Ucrânia poderia adotar? Ou abrir mão completamente de qualquer tipo de ingresso na Otan ou adotar esse modelo que tem sido observado tanto na Suécia e quanto na Finlândia, de não ser um membro pleno, mas poder manter eventualmente acordos de cooperação.

Mas o status da Ucrânia para a Rússia é muito diferente do de Suécia e Finlândia, que não possuem os mesmos laços culturais, históricos e geopolíticos com o país. Então me parece menos possível que a Rússia aceite a segunda opção.

O que aconteceu nesta quarta (20)

Imagem do dia

Charles Michel e Volodimir Zelenski apertam as mãos do lado de fora de um prédio do governo.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, cumprimenta Volodimir Zelenski em encontro em Kiev; liderança da União Europeia disse que o bloco fará o possível para que Ucrânia ganhe a guerra - Divulgação Presidência da Ucrânia/Reuters

O que ver para se manter informado

Um relato em vídeo da linha de frente da guerra e uma seleção de imagens que mostram o impacto do conflito no meio ambiente:

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