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Guerra na Ucrânia: Tomada de usina nuclear e ataques despertam temor de desastre

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São Paulo

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A guerra da Ucrânia, que dura 64 dias, disparou vários sinais de alerta, e um deles é uma "luz vermelha piscando". Assim o argentino Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, descreveu a situação da usina nuclear de Zaporíjia —a maior da Europa, que está ocupada pela Rússia desde 4 de março.

A agência, ligada à ONU, realizou uma missão nesta semana para avaliar as condições das plantas em meio aos ataques da Rússia. Grossi esteve em Tchernóbil e em Kiev, onde se encontrou com o presidente Volodimir Zelenski.

Mais da metade da energia elétrica da Ucrânia vem de seus 15 reatores nucleares em operação, que estão distribuídos em quatro usinas: Rivne (1), Khmelnitski (2), Sul da Ucrânia (3) e Zaporíjia (4). Além delas, o país mantém a estrutura da usina de Tchernóbil (5), mas suas unidades foram desativadas após o desastre nuclear de 1986.

Mapa mostrando a Ucrânia e cinco de suas usinas nucleares. As usinas ativadas são: Rivne, Khmelnitski, South Ukraine e Zaporíjia, marcadas com pontos de cor azul marinho; a desativada é a usina de Tchernobil, marcada com um ponto vermelho no mapa
Núcleo de Imagem

A situação mais preocupante é a de Zaporíjia. Em março, a tomada pelas tropas russas foi precedida de uma queda projétil que atingiu um centro de treinamento e provocou um incêndio a apenas 300 metros de uma das unidades da usina. A estrutura considerada essencial para o funcionamento dos reatores não foi atingida, mas a autoridade da ONU alertou que o evento colocou em risco os pilares da segurança nuclear.

Entre as demais usinas ativas, a agência informou nesta quinta que investiga o possível sobrevoo de um míssil sobre a usina do Sul da Ucrânia —o que, se confirmado, "seria extremamente grave". "Se tal míssil tivesse se desviado, poderia ter causado impacto severo na integridade física da usina, potencialmente levando a um acidente nuclear", disse a entidade.

Outro ponto de atenção é a usina desativada de Tchernóbil. A estrutura foi tomada no dia da invasão do país, em 24 de fevereiro, e as tropas russas se retiraram em 31 de março. Durante esse tempo, os funcionários foram mantidos no local para realizar as operações diárias e não puderam voltar para suas casas.

Entenda: Na época da explosão que causou um dos maiores desastres nucleares da história, em 26 de abril de 1986, Tchernóbil tinha quatro unidades em operação e duas em construção —que nunca foram concluídas. A unidade onde houve o acidente está protegida em uma zona de confinamento, enquanto as demais foram fechadas. Ainda há equipes trabalhando no local para monitorar a radiação e atuar na contenção de danos.

  • 31 pessoas morreram na época em consequência da explosão e da radiação;

  • cerca de 400 mil pessoas foram retiradas da região;

  • 5 milhões de pessoas foram atingidas pela nuvem liberada pela explosão.

Ainda que as usinas não sejam alvos deliberados de ataques —dado o risco de um novo desastre com implicações sem controle para tropas e civis dos dois lados— , a ação militar no território ucraniano representa perigo pela chance de atingir uma delas por engano, seja pela proximidade das operações ou por falhas no alcance dos mísseis.

Um mapa interativo elaborado pelo Greenpeace mostra a localização dos ataques reportados desde 24 de fevereiro e a sua proximidade em relação às usinas.

A tomada das usinas por militares sem treinamento ou proteção e a falta de comunicação com as unidades de controle também são uma preocupação das autoridades.

Não se perca

Quais são os possíveis interesses militares da Rússia na ocupação das usinas nuclares? Com a ajuda de Danielle Ayres, professora da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e vice-presidente da Abed (Associação Brasileira de Estudos de Defesa), listamos três:

  1. Corte de energia: A tomada de Zaporíjia, na região leste, está relacionada ao objetivo da Rússia de conquistar o Donbass e criar um corredor terrestre até o sul. Com o controle da principal fonte de energia da região, a Rússia pode dificultar a resistência
  2. Passagem: A ocupação de Tchernóbil teve uma importância tática no início da guerra, como ponto para facilitar a passagem das tropas vindas da Belarus em direção a Kiev. A saída dos militares russos ocorreu no contexto de redistribuição das forças rumo ao leste
  3. Controle das operações: No caso Zaporíjia, a Rússia pode se preparar para assumir as operações caso consiga a tomada do leste. Esse objetivo também pode representar uma ameaça a outras usinas em locais de interesse da Rússia, como a do Sul da Ucrânia, que fica próximo a Odessa

O que aconteceu nesta quinta-feira (28)

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António Guterres e Volodimir Zelenski estão sentados, frente a frente, ao fundo de uma grande mesa de madeira no gabinete do presidente; as bandeiras da ONU e da Ucrânia enfeitam a sala.
Secretário-geral da ONU, António Guterres, encontra Zelenski dois dias após reunião com Putin; ele criticou a continuidade das explosões durante a sua visita - Divulgação Presidência da Ucrânia/Reuters
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