Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Kasparov, crítico de Putin, diz que hesitação faz preço de parar um ditador subir diariamente

Evento com enxadrista em Vancouver, no Canadá, marca primeira sessão presencial do TED em três anos

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Vancouver

"Isto não é xadrez, mas às vezes as coisas são preto e branco", disse o russo Garry Kasparov no domingo (10), ao comentar a guerra na Ucrânia, na primeira sessão presencial do TED em três anos, em Vancouver.

"Isto é uma batalha de valores opostos. Liberdade, vida e amor contra tirania, morte e ódio", acrescentou o enxadrista, ex-campeão mundial, ferrenho crítico do regime de Vladimir Putin —ele deixou Moscou em 2013, depois de ser preso e perseguido por autoridades do país.

Garry Kasparov discursa durante evento do TED em Vancouver, no Canadá
Garry Kasparov discursa durante evento do TED em Vancouver, no Canadá - Gilberto Tadday - 10.abr.22/TED/Divulgação

Kasparov, que alertou para os perigos dos avanços de Putin num livro de 2015, "Winter Is Coming" (o inverno está chegando), fez um apelo à comunidade internacional por mais ações.

"Todo mundo que me disse que eu estava errado uma década atrás agora diz que estou certo. Mas ainda estamos cometendo os mesmos erros [...] O preço de parar um ditador sobe diariamente com toda essa hesitação e atraso. Encontrar o mal no meio do caminho ainda é uma vitória do mal."

O TED deu início à palestra, no domingo, com uma sinfonia de violinos liderada por nove ucranianos escondidos em abrigos em Kiev, acompanhados online por outros 89 músicos espalhados pelo mundo.

O evento, conhecido pelos encontros de ciência, design, artes e temas polêmicos, acontece até quinta-feira (14) e terá apresentações de Elon Musk, Bill Gates, Al Gore e outras dezenas de personalidades.

Zoia Litvin, que falou após Kasparov, contou como deixou o marido e os pais na Ucrânia ao fugir para viver na Eslováquia com os filhos. Ela é fundadora da ONG Osvitoria, focada em educação para crianças de baixa renda. O que começou como a primeira plataforma educacional online do país, um investimento do governo devido à pandemia, foi transformada num espaço de ensino a distância durante a guerra.

"Nunca imaginamos que nosso projeto sem fins lucrativos seria tão necessário numa situação ainda mais horrível que a pandemia", disse Litvin. "Mas hoje quase 400 mil alunos aprendem nesta plataforma. Eles se conectam da Ucrânia e de 120 países onde estão refugiados no momento."

A educadora Zoia Litvin durante palestra no TED, em Vancouver, no Canadá
A educadora Zoia Litvin durante palestra no TED, em Vancouver, no Canadá - Gilberto Tadday - 10.abr.22/TED/Divulgação

A educadora também discorreu sobre sua bebê, que falou sua primeira palavra, o som de uma explosão, em 24 de fevereiro, início da invasão russa. "Naquela noite, acordamos com o barulho das janelas de nossas casas se estilhaçando", disse. "Putin pode tirar muito de nós, nossas casas, nossos empregos, nossos parentes queridos, nossa paz, mas não pode desfazer a educação. Conhecimento e curiosidade são tesouros inexpugnáveis", disse ela, lembrando que 900 escolas no país estão comprometidas e 84 foram completamente destruídas. Setenta e três crianças já morreram, segundo a ONU.

"Enquanto nossos filhos continuarem aprendendo e nossos professores continuarem ensinando, mesmo enquanto morrem de fome e são bombardeados, mesmo em campos de refugiados, estaremos invictos."

Após as falas de Kasparov e Litvin, o organizador do TED, Chris Anderson, fez um apelo por doações à luta ucraniana ao público presente, muitos dos quais pagaram até US$ 25 mil pelo ingresso da conferência.

Anderson pediu quatro valores diferentes, entre US$ 1.000 e US$ 1 milhão, que serão destinados a cinco organizações na Ucrânia. Dezenas de pessoas levantaram a mão para doar US$ 1.000 e até US$ 10 mil, mas ninguém se voluntariou publicamente para a oferta de US$ 1 milhão.

O valor total arrecadado será divulgado ao final do evento. "Acredito que, pelas mãos levantadas, estamos acima da promessa de US$ 1 milhão para as organizações. Vamos ver o que o resto da semana nos traz."

A jornalista viajou a convite do TED

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