Descrição de chapéu refugiados

Líder anglicano condena medida do Reino Unido que enviará imigrantes ilegais a Ruanda

Justificativa oficial do governo de Boris Johnson é dificultar a vida de organizações criminosas que praticam tráfico humano

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Londres e São Paulo

O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, também líder espiritual da Comunhão Anglicana mundial, condenou uma medida do Reino Unido que permite enviar imigrantes que entram no país de forma irregular para buscar asilo em Ruanda, país no centro do continente africano.

Durante o sermão feito no domingo de Páscoa na Catedral de Canterbury, Justin Welby afirmou que o plano anunciado na semana passada pelo premiê do Reino Unido, Boris Johnson, enfrenta "sérias questões éticas".

Em um púlpito de madeira feito de madeira com detalhes entalhados em dourando, o arcebispo de Canterbury, usando uma camisa branca e colete preto, faz um discurso
O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, durante discurso na igreja de St Margaret, em Londres - Jonathan Brady/Reuters

"Não pode carregar o peso de nossa responsabilidade nacional como um país formado por valores cristãos, porque subcontratar nossas responsabilidades, mesmo para um país que procura fazer bem como Ruanda, é o oposto da natureza de Deus que assumiu a responsabilidade por nossos fracassos", disse o arcebispo Justin Welby, líder espiritual da Comunhão Anglicana mundial, que tem cerca de 85 milhões de devotos.

O governo afirmou que vai enviar imigrantes que entram no país de forma irregular para buscar asilo em Ruanda, país a 7.000 quilômetros de distância e que tem o 160º pior índice de desenvolvimento humano do mundo.

A justificativa oficial é dificultar a vida de organizações criminosas que praticam tráfico humano. Na prática, porém, a medida é um aceno ao eleitorado do Partido Conservador, que se opõe a políticas de imigração e que elegeu Boris Johnson para levar a cabo o processo do brexit, em 2016.

A medida, porém, recebeu críticas imediatas do meio político, instituições de caridade e organizações de direitos humanos —e inclusive da oposição em Ruanda. Há preocupações também com o histórico de abuso de direitos humanos no país africano, reconhecidos pelo próprio governo britânico no ano passado.

Para colocar de pé a medida, a Marinha Real Britânica vai assumir o comando da operação com refugiados no Canal da Mancha e o Executivo vai investir 50 milhões de libras (R$ 307 milhões) em pessoal e equipamentos como helicópteros, aviões e drones.

Imigrantes serão alocados em Ruanda de forma temporária em albergues e hotéis enquanto aguardam o trâmite legal de pedido de asilo.

Em 2021, mais de 28 mil migrantes e refugiados fizeram a travessia da Europa continental para o Reino Unido, número que vem crescendo ano após ano: foram 8.466 travessias em 2020 e 299 em 2018, segundo o Ministério do Interior.

A chegada em barcos precários tem sido fonte de tensão entre França e Reino Unido, que cresceu ainda mais desde novembro, quando 27 imigrantes se afogaram na travessia.

Boris Johnson quase deixou o cargo de primeiro-ministro no começo do ano após se ver atolado em denúncias de desrespeito a regras de quarentena durante a pior fase da Covid no país e perdeu o apoio de membros de seu próprio partido. Na última terça (12), foi multado pela polícia londrina, reascendendo a polêmica.

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