Novo atentado em mesquita no Afeganistão deixa dezenas de mortos

Explosão ocorreu durante ritual islâmico considerado herético por grupos linha-dura

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Cabul (Afeganistão) e Nova York | Reuters e AFP

Uma forte explosão deixou mais de 50 mortos após as orações desta sexta-feira (29) em uma mesquita em Cabul, segundo os líderes do templo, no mais recente de uma série de ataques a alvos civis no Afeganistão durante o Ramadã, mês sagrado para os islâmicos.

A explosão atingiu a mesquita Khalifa Sahib, no oeste da capital, disse o Ministério do Interior, segundo o qual o número oficial de mortos confirmados ainda é de dez vítimas. Órgãos de saúde consultados pela agência Reuters, porém, afirmam que hospitais da cidade receberam 66 corpos e atenderam 78 feridos.

O Estado Islâmico reivindicou, neste sábado (30), a autoria do atentado.

Ambulância retira feridos de atentado a mesquita em Cabul, no Afeganistão - Ali Khara/Reuters

O ataque ocorreu quando os fiéis se reuniram após as orações de sexta-feira para uma cerimônia conhecida como "zikr", ritual religioso praticado por alguns muçulmanos que constitui na repetição de mantras para se lembrar de Deus e que é visto como herético por alguns grupos sunitas linha-dura.

Sayed Fazil Agha, o chefe da mesquita, relatou o momento do ataque. Segundo ele, um homem se juntou ao grupo durante a cerimônia e detonou explosivos. "Uma fumaça preta subiu, cadáveres estavam por toda parte", disse ele, acrescentando que seus sobrinhos estavam entre os mortos. "Eu sobrevivi, mas perdi meus entes queridos." Mohammad Sabir, morador da região, disse à Reuters ter visto feridos sendo carregados em ambulâncias. "A explosão foi muito alta, pensei que meus tímpanos tinham sido rompidos."

O ataque foi rechaçado por órgãos internacionais. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou fortemente o atentado, por meio de comunicado. "Os ataques contra os civis e os bens civis, incluídas as mesquitas, são estritamente proibidos pelo direito internacional humanitário", diz o texto.

Segundo as Nações UNidas, ao menos dois funcionários da entidade e suas famílias estavam no local no momento do ataque. "Nenhuma palavra é forte o suficiente para condenar este ato desprezível", disse Mette Knudsen, que representa o secretário-geral no país.

O Talibã, grupo fundamentalista que comanda o país desde o ano passado, divulgou um comunicado condenando a explosão e dizendo que os autores seriam encontrados e punidos. Até agora, nenhum grupo reivindicou o ataque. O atentado ocorre na última sexta-feira do mês do Ramadã, no qual a maioria dos muçulmanos faz jejum diário, e antes do feriado religioso do Eid, na próxima semana.

Dezenas de civis afegãos foram mortos nas últimas semanas em explosões, algumas das quais reivindicadas pela unidade local do Estado Islâmico. O Hospital de Emergência disse que tratou mais de cem pacientes feridos em ataques em Cabul somente em abril.

O Talibã alega ter controle sobre o país desde que assumiu o poder, em agosto, e eliminado em grande parte a unidade local do EI, mas entidades internacionais e analistas veem risco de um ressurgimento do grupo radical. Muitos dos ataques têm como alvo a minoria xiita, mas mesquitas sunitas também foram atingidas, como ocorreu nesta sexta.

Bombas explodiram a bordo de duas vans que transportavam muçulmanos xiitas na cidade de Mazar-e-Sharif, no norte do país, na quinta (28), matando ao menos nove pessoas. Na última semana, uma explosão destruiu uma mesquita sunita durante as orações de sexta em Kunduz, deixando 33 mortos.

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