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Opositor de Ortega, diretor de maior jornal da Nicarágua é condenado a 9 anos de prisão

Juan Lorenzo Holmann, do La Prensa, foi acusado de lavagem de dinheiro; 46 críticos da ditadura foram presos

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Manágua | Reuters e AFP

A Justiça da Nicarágua condenou, nesta sexta-feira (1º), o diretor do jornal local La Prensa, Juan Lorenzo Holmann, a nove anos de prisão, por lavagem de dinheiro. A condenação é mais uma em meio à onda de perseguição a críticos da ditadura implantada pelo esquerdista Daniel Ortega.

O juiz responsável pelo caso também ordenou que as instalações do jornal permaneçam fechadas, assim como as gráficas responsáveis por imprimir o periódico. Na decisão, porém, o magistrado não especificou o tempo em que os locais devem manter as portas fechadas. Atualmente, La Prensa publica as notícias apenas digitalmente, com poucos funcionários e recursos, depois que suas contas bancárias foram bloqueadas.

Holmann foi preso em agosto, a três meses das eleições que garantiram o quarto mandato consecutivo de Ortega. Na ocasião, o jornalista foi o 33º opositor da ditadura a ser preso —atualmente, já são 46. Sua condenação já havia sido divulgada no mês passado, mas foi só nesta sexta que a pena foi divulgada.

Ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, acena após votar durante a eleição geral, em Manágua, Nicarágua
Ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, acena após votar durante a eleição geral, em Manágua, na Nicarágua - Cesar Perez - 7.nov.21/Presidência da Nicarágua/AFP

"Sou inocente e forte. Isso vai passar muito em breve", disse ele após ouvir sua sentença, segundo o La Prensa. Já sua defesa argumentou que não há provas de que Holmann tenha cometido crime e chamou o julgamento de "político".

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), ONG que acompanha os processos contra opositores também condenou o veredicto. Dos 46 opositores detidos, ao menos 42 foram declarados culpados em julgamentos e 40 deles foram condenados até 13 anos de prisão.

Também neste mês, a Justiça nicaraguense condenou, por lavagem de dinheiro, a vice-presidente do La Prensa, Cristiana Chamorro, que no ano passado se declarou pré-candidata à Presidência —a pena é semelhante à de seu colega: 8 anos. Além dela, foi considerado culpado seu irmão Pedro Joaquin Chamorro, ex-deputado e que hoje também faz parte da diretoria do jornal.

Ambos fazem parte de uma família influente da política da Nicarágua. Sua mãe, Violeta Barrios de Chamorro, governou o país entre 1990 e 1997 e chegou a derrotar o atual ditador nas urnas. Em junho do ano passado, quando foi presa, Cristiana estava à frente de Daniel Ortega nas pesquisas. Atualmente, ela cumpre a sentença em prisão domiciliar.

Em meio às prisões de opositores, as eleições de novembro não foram reconhecidas por grande parte da comunidade internacional. Na ocasião, Ortega concorreu contra outros cinco candidatos, todos considerados de fachada, já que eram aliados da ditadura. Ao final, obteve 76% dos votos, segundo os resultados oficiais.

Como forma de pressionar a ditadura, os EUA e a União Europeia ampliaram, em janeiro, as sanções econômicas e diplomáticas contra autoridades ligadas a Ortega. Os europeus anunciaram o congelamento de bens e a imposição de veto a viagens de dois filhos do ditador e de outras cinco pessoas vinculadas ao regime, à polícia, ao Conselho Supremo Eleitoral e ao Instituto Nicaraguense de Telecomunicações e Correios.

Daniel Ortega, 76, comanda a Nicarágua desde 2007 e tem como vice sua esposa, Rosario Murillo. A repressão contra críticos acirrou-se em 2018, quando mais de 300 manifestantes foram mortos em confronto com as forças de segurança e grupos paramilitares alinhados ao ditador.

No final de março, o embaixador do país na OEA (Organização dos Estados Americanos) se rebelou contra o governo e acusou o regime de ser uma ditadura que desrespeita direitos humanos e sufoca a população. Arturo McFields Yescas havia sido nomeado em novembro de 2021, portanto sob aval da administração de Ortega.

"Denunciar a ditadura do meu país não é fácil, mas defender o indefensável é impossível. Tenho que falar, ainda que tenha medo, e ainda que meu futuro e o da minha família sejam incertos", afirmou ele na ocasião.

No discurso, ele citou a falta de liberdade de imprensa na Nicarágua e disse que seu país "se converteu no único onde não há jornais impressos, não há liberdade para publicar em redes sociais, não há organismos de direitos humanos e não existem partidos políticos independentes".

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