Papa pede perdão por violência contra crianças indígenas em escolas católicas no Canadá

Religioso, que teve encontros com lideranças dos povos originários, diz que pode visitar o país em julho

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Cidade do Vaticano | Reuters e AFP

O papa Francisco pediu desculpas formais nesta sexta-feira (1º) aos povos indígenas do Canadá pelo papel da Igreja Católica em internatos religiosos nos quais foram registrados casos de violência contra crianças e a cultura originária do país.

No ano passado, uma vala comum com 215 corpos de crianças indígenas foi descoberta na província de Colúmbia Britânica. Relatos indicam que os indígenas eram retirados de casa e levados à força para esses internatos católicos; muitos nunca voltaram, eram considerados desaparecidos, e suas famílias não recebiam explicações.

Integrante de delegação indígena do Canadá canta e dança diante do papa Francisco no Vaticano
Integrante de delegação indígena do Canadá canta e dança diante do papa Francisco no Vaticano - Divulgação Vaticano/AFP

Em julho, o papa já havia expressado tristeza pelo caso —o premiê Justin Trudeau fez reiterados apelos para que o Vaticano assumisse a responsabilidade por seu controverso papel na administração das escolas para povos originários.

"Pelo comportamento deplorável desses membros da Igreja Católica, peço perdão a Deus e gostaria de dizer a vocês do fundo do coração que estou muito triste", disse o papa nesta sexta. "Me junto aos meus irmãos bispos canadenses para pedir desculpas."

Nos últimos dias, ele teve encontros privados com delegações e líderes indígenas, que esperam que o pontífice repita o pedido de perdão em solo canadense. "Neste ano, eu espero estar com vocês [em 26 de julho]", afirmou Francisco, fazendo referência ao dia de santa Ana e confirmando a expectativa de uma viagem ao país.

Em sua primeira ida, em 2017, o esperado reconhecimento da responsabilidade da Igreja sobre o tratamento dado às crianças indígenas não aconteceu, e autoridades demonstraram insatisfação.

Agora, o premiê saudou a posição de Francisco. Em um vídeo, disse que o pedido de desculpas é resultado de décadas de mobilização dos sobreviventes e que espera que o papa vá em breve ao Canadá fazer a retratação presencialmente. "Isso representa mais um passo no caminho da verdade sobre o nosso passado", declarou.

Trudeau tinha postura crítica sobre o silêncio da Igreja. No ano passado, foi enfático e disse estar disposto a tomar "medidas mais fortes", possivelmente ações judiciais, caso a Igreja Católica não assumisse a responsabilidade e tornasse públicos documentos e registros da administração das escolas.

"Como católico, estou profundamente decepcionado com a posição que a Igreja Católica tem assumido agora e nos últimos anos", disse Trudeau à época. "Mas antes de começarmos a levar a Igreja aos tribunais, tenho muitas esperanças de que os líderes religiosos vão compreender que isso é algo em que precisam se envolver."

As escolas residenciais operaram no Canadá entre 1831 e 1996, com financiamento do governo e administração de várias denominações cristãs, principalmente a Igreja Católica.

A escola de Kamloops, onde os corpos das 215 crianças foram encontrados, chegou a ser a maior do país, tendo em seu auge 500 alunos. Foi administrada por líderes católicos de 1890 a 1969, quando voltou ao controle do governo federal até ser fechada em 1978.

Cerca de 150 mil crianças de diferentes comunidades indígenas foram separadas à força de suas famílias e distribuídas em centenas de escolas residenciais pelo país, onde eram impedidas de manter seus costumes, de estudar a cultura dos povos originários ou mesmo de falar em seus idiomas nativos.

Em 2015, a Comissão de Verdade e Reconciliação, grupo formado para investigar o que ocorria nessas escolas, definiu o sistema como "genocídio cultural". Os relatos são de que as crianças eram submetidas a violência, abusos, estupros e desnutrição. A estimativa oficial é de ao menos 4.100 mortes.

Francisco, que tornou-se papa 17 anos após o fechamento das últimas escolas residenciais no Canadá, já pediu perdão pelo papel da Igreja Católica no colonialismo das Américas. Mas, em geral, preferiu pedir desculpas durante visitas aos países e conversas com os povos nativos.

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