Boris Johnson será investigado por mentir ao Parlamento sobre festas e vê liderança sob ameaça

Escândalo de eventos em meio a restrições da pandemia coloca governo do premiê novamente em xeque

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Londres | Reuters

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, sofreu um golpe em sua liderança nesta quinta-feira (21) após legisladores aprovarem uma investigação para apurar se ele mentiu deliberadamente ao Parlamento durante o escândalo da revelação de festas realizadas na sede do governo.

Boris tem lutado por sua sobrevivência política desde que atestou aos parlamentares, em dezembro, que os encontros em Downing Street seguiram as determinações das regras de isolamento que vigoravam para conter a propagação da Covid-19.

Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, durante visita ao templo Swaminarayan Akshardham em Gandhinagar, na Índia
Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, durante visita ao templo Swaminarayan Akshardham em Gandhinagar, na Índia - Stefan Rousseau/Reuters

Diversas publicações na imprensa, no entanto, contradisseram a versão do líder britânico, e uma investigação interna apurou a realização de festas regadas a bebidas alcoólicas durante o período em que todo o resto do país foi instruído a respeitar as restrições para evitar a disseminação do vírus.

Na época das primeiras revelações, o premiê disse que todas as regras haviam sido seguidas. Depois, pediu desculpas ao Parlamento por participar de um dos encontros, afirmando que acreditou à época se tratar de um evento de trabalho. Com o agravamento da crise, ele também se desculpou com a rainha Elizabeth 2ª, devido a uma das festas de sua equipe, realizada na véspera do funeral do marido dela, o príncipe Philip.

No final de janeiro, o relatório da investigação interna que apurou os eventos irregulares realizados em Downing Street concluiu, sem mencionar Boris diretamente, que houve "falhas de liderança e de julgamento" por diferentes membros do governo.

Desde a divulgação do documento, a polícia multou o premiê, que nega ter deliberadamente mentido ao Legislativo. De acordo com o código parlamentar, enganar conscientemente os legisladores é uma ofensa que deve resultar em renúncia.

Durante o debate nesta quinta, políticos de ambos os lados reforçaram os pedidos para que Boris deixe o cargo. O líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, encabeçou as críticas. "O primeiro-ministro foi acusado de repetida, deliberada e rotineiramente enganar esta Casa sobre as festas realizadas em Downing Street durante o lockdown", afirmou. "Isso é uma acusação séria e grave. Equivale a desrespeito ao Parlamento."

Antes um parlamentar conservador fiel ao premiê, Steve Baker acusou o político de quebrar a "letra e o espírito" da lei, acrescentando que o primeiro-ministro "deveria saber que o show acabou". Ex-ministro no governo Boris, Baker foi um grande apoiador do brexit e mantém certa influência sobre o partido após comandar a resistência às tentativas de diluir o divórcio com a União Europeia.

Do outro lado, a abordagem da gestão ao debate parecia desordenada. Uma emenda destinada a adiar a moção chegou a ser anunciada, mas foi depois retirada. Os legisladores apoiaram então a medida, segundo a qual as declarações "parecem enganar a Câmara" e deveriam ser investigadas pelo Comitê de Privilégios.

O governo agora se diz satisfeito com fato de que qualquer investigação parlamentar só irá ocorrer após o fim da apuração policial, mesmo sem a emenda. "Não quero que isso continue indefinidamente. Mas não tenho absolutamente nada, francamente, a esconder", disse Boris à emissora Sky News, quando questionado sobre as investigações, durante uma visita à Índia.

Com aprovação sem a objeção dos conservadores, o episódio reacende o debate sobre o futuro do premiê. As eleições locais em 5 de maio funcionarão como um termômetro da confiança dos eleitores em sua liderança e o quanto ela pode ter sido danificada com o "partygate".

Boris pode ainda ser alvo de novas multas, além da divulgação de mais evidências de festas —a polícia, no entanto, já afirmou que iria adiar quaisquer atualizações no caso para depois do pleito.

O premiê, por outro lado, viu sua posição ser recentemente fortalecida devido à Guerra da Ucrânia: alguns parlamentares conservadores defenderam que essa não seria a hora de mudar a liderança do país. Boris inclusive citou a guerra no Leste Europeu durante seu pedido de desculpas ao Parlamento nesta semana.

Outra ala, porém, sentiu-se incomodada com a perspectiva de manifestar oposição a uma investigação mais aprofundada de uma questão que prejudicou a confiança dos eleitores no governo.

Para desafiar a liderança de Boris, seria necessário que ao menos 54 dos 360 parlamentares do Partido Conservador enviassem o pedido a um órgão da legenda chamado Comitê de 1922. O número dos que já enviaram essa carta é conhecido apenas pelo presidente do comitê, mas, de acordo com a imprensa britânica, já chegou perto dos 30, no auge do escândalo —alguns teriam retirado sua assinatura depois.

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