Descrição de chapéu China Ásia

Pequim se prepara para o pior com surto de ômicron na China

Leia a edição da newsletter China, terra do meio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Pequim

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la todas as sextas no seu email? Inscreva-se abaixo.

Pequim iniciou nesta semana uma força-tarefa para conter o maior surto de Covid-19 na capital chinesa desde 2020. Embora não seja a primeira vez que autoridades locais precisem lidar com a doença (e sua variante mais contagiante, a ômicron), o volumoso número de casos assusta porque até agora não foi possível identificar quem trouxe o vírus para a cidade.

O surto começou na sexta-feira passada (22), com o registro de contaminações entre 11 alunos de uma escola secundária, além da contabilização de outras quatro infecções, todas sem correlação aparente. As aulas foram suspensas por uma semana, e os contatos próximos das pessoas com o vírus precisaram passar por exames.

Desde então, autoridades sanitárias identificaram diversos casos em diferentes pontos da capital. Como o rastreio de contatos não foi capaz de estabelecer a cadeia de transmissão, cresceu o temor de contaminação generalizada. Já são mais de 213 casos confirmados, 49 dos quais apenas na quinta-feira (28).

O anúncio da nova onda de contaminações espalhou histeria entre parte dos residentes, que temem ficar sob um lockdown semelhante ao imposto em Xangai. Ao longo do fim de semana, muitos correram para supermercados e esvaziaram as gôndolas, garantindo estoque de comida caso entregas fiquem comprometidas.

Pessoas fazem compras em mercados com prateleiras esvaziadas durante o surto de Covid-19 em Pequim, China - Tingshu Wang/Reuters
  • Na segunda (25), um shopping em Wudaokou, bairro do distrito de Haidian, foi fechado após o sistema de rastreio identificar que uma pessoa próxima a um contaminado tinha visitado o local. Policiais e funcionários do Centro de Controle de Doenças (CDC) obrigaram todos os clientes a serem testados ao longo da noite antes de poderem para voltar para casa;
  • No mesmo dia, Pequim isolou vários quarteirões no distrito de Chaoyang depois de algumas dezenas de casos terem sido encontrados lá. O plano era que o lockdown na área durasse três dias, mas o período foi renovado por mais uma semana na manhã desta quinta (28).


Para evitar que o coração político da China passe pelo mesmo caos de Xangai, autoridades anunciaram que todos os residentes vão ter de realizar três testes até o fim desta sexta-feira (29). Quem se recusar terá o código de saúde bloqueado, o que virtualmente impede que a pessoa entre em qualquer estabelecimento comercial ou instalação pública.

Universidades também apertaram o controle dos campus. Tsinghua e PKU, as duas maiores instituições de ensino superior na China, anunciaram que os estudantes só poderão sair se conseguirem provar urgência ou necessidades indispensáveis (pesquisa, entrevista de emprego ou consultas médicas).

Quem não faz parte da comunidade acadêmica está proibido de acessar as instalações, e todos os pedidos de entrada e saída deverão ser submetidos para revisão com pelo menos 24 horas de antecedência.

A cidade ordenou que boates, casas de show, fliperamas e cafés em Chaoyang sejam fechados até segunda ordem. Atividades em grupos, como jantares de negócios, ou excursões turísticas também estão banidas.

Por que importa: Pequim sempre foi muito mais rigorosa no controle da pandemia que o resto da China, sobretudo para minimizar riscos de instabilidade política em caso de lockdowns.

A chegada da ômicron com tanta velocidade e volume seguramente assustou as autoridades. As chances de um confinamento rigoroso nos próximos dias são grandes, e a cidade certamente vai impor quantas restrições forem necessárias para conter a transmissão.

o que também importa

Três professores chineses foram mortos em um ataque terrorista no Paquistão depois de uma van explodir próximo ao Instituto Confúcio da Universidade de Karachi. A atentado foi reivindicada pelo grupo separatista Baloch Liberation Army (BLA).

O BLA é considerado uma organização terrorista pelo governo paquistanês e foi fundado em 2000 por ex-espiões ligados à KGB. O grupo costuma atacar projetos de infraestrutura e recentemente tem mirado nacionais chineses para sabotar a Iniciativa de Cinturão e Rota.

O governo do Paquistão lamentou o ocorrido e disse investigar o caso. Pelo Twitter, Shah Mahmood Qureshi, ex-ministro das Relações Exteriores do país, chamou o ataque de "tentativa de sabotar a amizade sino-paquistanesa e de prejudicar o desenvolvimento econômico nacional".

Quarenta e oito por cento dos residentes estrangeiros em Xangai pretendem deixar a cidade dentro de um ano. O número foi constatado por uma pesquisa realizada com 950 pessoas, em meados de abril, pela plataforma This is Shanghai.

Entre os que pretendem sair, 31% dizem querer voltar para seus países de origem, e 22% pretendem se mudar para outros lugares na Ásia, enquanto 12% planejam ir para a Europa, 5% para a América Latina e 14% para outras partes do mundo.

O resultado preocupa o setor de educação local, já que 44% dos entrevistados trabalham em cursos de inglês, escolas internacionais ou universidades.

De acordo com a This is Shanghai, o êxodo de expatriados também pode dificultar a operação de multinacionais. Com o rigoroso lockdown, várias empresas consideram deixar a China continental caso não consigam conter a onda de demissões e fuga de cérebros.


fique de olho

Membro do comitê de política monetária do Banco Popular da China, Wang Yiming disse em entrevista no domingo (24) que o país vai precisar adotar "políticas mais contundentes para garantir que o crescimento econômico retome taxas acima de 5%". Wang mencionou a necessidade de controlar os surtos de Covid nas grandes cidades, subsidiar o consumo para famílias de baixa renda e estabelecer as cadeias de suprimento no país.

Por que importa: o recado foi ouvido pela liderança chinesa. O Comitê Central do Politburo, topo da pirâmide de poder na China, realizou uma reunião descrita como uma "oportunidade para fazer um bom trabalho econômico e social".

para ir a fundo

  • O Centro de Estudos de Ásia da UFPE e o Centro CASS-UNICAMP de Estudos sobre a China realizam em maio um seminário para discutir a soberania alimentar no Sul Global, com foco nas relações sino-latino-americanas. O curso tem duração de 90 horas e, as inscrições estão abertas (pago, em português e espanhol)
  • Em parceria com a editora Cai-Cai, o podcast BiYiNiao do Livro lançou uma versão em audiolivro da obra "A Menina que Amava Plantas". Assinada pelo chinês Xu Lu, a história narra a vida de Tu Youyou, cientista chinesa que descobriu a cura para a malária. (gratuito, em português)
  • Se você mora ou vai viajar para Brasília, não deixe de passar no Museu de Arte da cidade para ver a exposição "Atrás da Grande Muralha". Até o dia 22 de maio, visitantes poderão conhecer várias obras de arte contemporânea chinesa. Informações aqui. (gratuito, em português)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.