Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Retirada de civis de Mariupol sitiada volta a falhar na Ucrânia

Cruz Vermelha interrompeu comboio humanitário que seguia para local e disse que partes precisam respeitar acordos

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Sitiada, sem acesso a ajuda humanitária e principal exemplo dos impactos da guerra, a cidade portuária de Mariupol assistiu nesta sexta (1º) a mais uma tentativa frustrada de retirada de civis. A equipe da Cruz Vermelha que se dirigia para o local, com o objetivo de possibilitar a passagem segura das pessoas, teve de recuar.

Em nota, a organização humanitária explicou que a equipe, composta por três veículos e nove pessoas, voltou para a cidade de Zaporíjia porque "condições impossibilitaram" a continuidade da missão. E declarou: "Para o sucesso da operação, é fundamental que as partes respeitem os acordos e forneçam garantias de segurança".

Homem ajuda criança a descer de ônibus no centro de Zaporíjia, onde o Comitê Internacional da Cruz Vermelha tinha uma equipe esperando para seguir em direção à cidade sitiada de Mariupol - Emre Cailak - 1º.abr.22/AFP

Depois, já na noite desta sexta no Brasil, já madrugada do sábado (2) na Ucrânia, a entidade afirmou que fará uma nova tentativa de retirada de civis.

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou na quinta (31) que abriria um corredor humanitário na cidade localizada no sul da Ucrânia. Moscou alegou estar atendendo a pedidos do presidente da França, Emmanuel Macron, e do premiê da Alemanha, Olaf Scholz. A Cruz Vermelha também pleiteava que a operação fosse realizada.

Ao longo desta sexta, porém, os indícios de que a retirada dos civis seria mais uma vez impossibilitada começaram a surgir. O governador da região de Donetsk, no Donbass, Pavlo Kirilenko, acusou tropas russas de impedirem que o corredor humanitário fosse operacional.

Até que a Cruz Vermelha confirmou o novo fracasso no cessar-fogo durante a noite, tarde no Brasil. A organização, agente neutro nos conflitos, teve de deixar Mariupol há duas semanas devido à falta de capacidade operacional e ainda não sabe quando poderá retornar.

Embora a operação maior tenha falhado, foi possível retirar cerca de 3.000 pessoas da cidade que, antes da guerra, contava com 400 mil habitantes, informou a Presidência ucraniana. Ao todo, 6.266 civis foram retirados de cidades bombardeadas durante esta sexta.

Na quarta (30), o prédio sede da Cruz Vermelha na cidade portuária foi bombardeado, e a própria organização confirmou a autenticidade das imagens que registraram o ataque. Nenhum funcionário estava no local, e os suprimentos médicos que costumavam estar armazenados ali haviam sido totalmente distribuídos no início de março.

O fato despertou preocupação. Atacar intencionalmente equipes, instalações ou equipamentos envolvidos em missões de assistência humanitária é uma ação tipificada como crime de guerra pelo Estatuto de Roma e pelas Convenções de Genebra, balizas importantes do direito internacional quando o assunto são conflitos armados.

"Nos preocupa que um edifício com uma cruz vermelha possa ser seriamente atacado", disse a Cruz Vermelha em nota. "Infraestrutura civil, hospitais e equipe médica não podem ser alvos."

Esta não é a primeira vez que a tentativa de estabelecer um corredor humanitário no local fracassa. Ainda na primeira semana de março, Moscou e Kiev concordaram com um cessar-fogo para retirar civis, mas o acordo não foi posto em prática.

Autoridades russas haviam anunciado que interromperiam por algumas horas o bombardeio no local na quinta. Depois, voltaram atrás e disseram que isso só seria feito nesta sexta.

Milhares de civis estão presos em Mariupol há semanas sob constante bombardeio russo. O acesso a recursos básicos, como água e eletricidade, é limitado, e também não há reabastecimento de comida.

Em entrevista à rede americana CNN, o vice-prefeito Serguei Orlov disse que a cidade está "completamente destruída". "Não consigo nem descrever em palavras como está a vida em Mariupol", disse. "É comum termos apenas três refeições por semana."

A cidade é considerada estratégica por Moscou, uma vez que permitiria criar uma ponte terrestre entre a península da Crimeia, anexada em 2014, e as autoproclamadas repúblicas separatistas do Donbass, que Moscou reconheceu dias antes de iniciar a invasão.

Autoridades locais afirmam que mais de 5.000 civis morreram na cidade desde 24 de fevereiro, quando teve início a guerra. Somente o ataque a um teatro que servia de abrigo para deslocados internos do conflito deixou 300 pessoas mortas. A confirmação das cifras por organizações internacionais, porém, é difícil, justamente pela impossibilidade de acessar a região.

A Prefeitura da cidade estima que 90% dos edifícios foram danificados e 40%, completamente destruídos. Cerca de 290 mil pessoas teriam deixado Mariupol desde o início da guerra, mas outras 170 mil ainda estão presas ali.

O escritório de direitos humanos das Nações Unidas diz que, até a noite de quinta, 1.276 civis haviam morrido em todo o país e outros 1.981 ficaram feridos —reconhece, porém, que as cifras são subnotificadas. Das vítimas, ao menos 115 seriam crianças.

Com Reuters

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