Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia anuncia corte de gás a Polônia e Bulgária após sanções de Varsóvia

Países se tornariam os primeiros impactados por suspensão no fornecimento desde início da Guerra da Ucrânia

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Varsóvia e Sófia | Reuters e AFP

A companhia russa de energia Gazprom avisou a autoridades de Polônia e Bulgária nesta terça-feira (26) que irá suspender o fornecimento de gás, após Varsóvia impor novas sanções a indivíduos e empresas do país presidido por Vladimir Putin.

Com a medida, que começa a valer nesta quarta (27), os países se tornam os primeiros a ter o abastecimento do produto cortado pelo principal fornecedor da Europa desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro. O movimento indica uma resposta mais dura de Moscou às sanções do Ocidente —as quais o presidente russo já alegou serem "uma escalada da situação".

Bulgária e Polônia são membros da União Europeia e da Otan, a aliança militar ocidental.

Funcionário trabalha em planta da Gazprom na Sibéria
Funcionário trabalha em planta da Gazprom na Sibéria - Maxim Shemetov - 29.nov.19/Reuters

O anúncio da suspensão foi dado por Varsóvia e Sófia, que disseram nesta terça que suas estatais receberam um aviso sobre o corte. A empresa russa, por sua vez, alegou no caso polonês que não estava interrompendo o fornecimento, mas exigindo que o país pague pelo gás de acordo com as regras de sua nova "ordem de pagamento" —não foram feitos comentários sobre a Bulgária.

A referência é a uma determinação recente de Putin de que países que ele classifica como "hostis" teriam de abrir contas no Gazprombank para fazer os pagamentos pela importação do gás em euros ou dólares, que depois seriam convertidos em rublos.

Apenas alguns compradores, como a Hungria e a Uniper, principal importadora da Alemanha, disseram ser possível pagar pelo produto de acordo com nova regra sem que as sanções europeias sejam violadas.

A Bulgária afirma ter cumprido "plenamente suas obrigações" e feito os pagamentos estabelecidos pelo contrato "em seu devido tempo". O país dos Bálcãs denunciou ainda "o novo procedimento de pagamento em dois tempos proposto pela parte russa".

"Não se ajusta ao contrato vigente até o fim deste ano e apresenta riscos significativos para a parte búlgara, como realizar pagamentos sem receber nenhuma entrega de gás da parte russa."

Tanto Sófia como Varsóvia possuem contratos que expiram no fim deste ano e disseram nesta terça que não haverá escassez do produto mesmo em caso de corte.

O contrato da Polônia com a Gazprom é de 10,2 bilhões de metros cúbicos por ano, o que cobre cerca de 50% do consumo nacional. As autoridades declararam que o país possui armazenada 76% de sua capacidade de produção e tem alternativas de fornecimento disponíveis. "Desde o primeiro dia da guerra, declaramos que estamos preparados para a plena independência das matérias-primas russas", escreveu no Twitter a ministra do Clima, Anna Moskwa.

A estatal de gás polonesa, que já declarou que não concordaria com o novo esquema de pagamentos em rublos nem estenderia o acordo, informou que agiria para reinstaurar o fornecimento sob contrato e que buscará compensação pela violação das normas estabelecidas.

Do lado da Bulgária, cerca de 90% do gás consumido é fornecido pela Rússia.​ O governo declarou que havia realizado "ações para encontrar acordos alternativos para o abastecimento" e assegurou que por ora não está prevista nenhuma medida restritiva de consumo.

Ainda nesta terça, Kiev reagiu ao episódio acusando Moscou de estar chantageando a Europa. "A Rússia está tentando destruir a unidade dos nossos aliados. Também está provando que as fontes energéticas são uma arma", afirmou Andrii Iermak, chefe de gabinete do presidente Volodmir Zelenski.

"É por isso que a Europa precisa estar unida e impor um embargo aos recursos energéticos, privando os russos dessas armas."

Tom Marzec-Manser, líder de análise de gás na empresa de inteligência de dados ICIS, afirmou que a suspensão seria "um alerta sísmico" disparado por Putin. "A Polônia tem uma postura anti-Rússia e anti-Gazprom há vários anos, o que não é o caso da Bulgária. Então ver que a Bulgária terá cortado [o fornecimento de gás] é também um grande desenvolvimento por si só."

Vizinha da Ucrânia e destino de boa parte dos refugiados da guerra, a Polônia tem se mostrado um dos mais firmes opositores políticos da Rússia e está entre os europeus que buscam respostas mais duras à invasão.

Mais cedo nesta terça, o governo anunciou uma lista de 50 oligarcas e empresas russas, incluindo a Gazprom, que estariam sujeitos a sanções de acordo com uma lei aprovada no início do mês, permitindo que seus bens sejam congelados —a legislação é um adicional às medidas impostas pela UE.

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