Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia diz que diálogo com EUA sobre controle de armas nucleares está 'congelado'

Moscou afirma ainda que negociação de paz com Ucrânia depende do fim das sanções do Ocidente

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Kiev e Paris | Reuters e AFP

O diálogo entre Moscou e Washington sobre a estabilidade estratégica no que diz respeito ao controle de armas nucleares está formalmente "congelado", informou neste sábado (30) a agência de notícias russa Tass, citando uma autoridade do Ministério das Relações Exteriores.

Vladimir Iermakov, chefe de não proliferação nuclear do Ministério das Relações Exteriores russo, afirmou que esses contatos podem ser retomados assim que Moscou concluir o que chama de "operação militar especial" na Ucrânia —eufemismo do governo de Vladimir Putin para descrever a guerra em curso.

Prédio bombardeado em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, atacada neste sábado (30) - Ricardo Moraes/Reuters

Iermakov afirmou que Moscou acredita que os EUA pretendem finalizar projetos para implantar mísseis de médio e curto alcance na Europa e na Ásia-Pacífico —ele não exibiu evidências para sustentar o que disse. "O surgimento de tais armas nessas regiões vai piorar a situação e alimentará a corrida armamentista."

A autoridade russa, por outro lado, afirmou que os riscos de uma guerra nuclear devem ser reduzidos ao mínimo. Para ele, as potências globais devem seguir a lógica estabelecida em documentos oficiais destinados a prevenir um conflito nuclear, algo que, disse Iermakov, a Rússia claramente segue.

Também neste sábado, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse que a suspensão das sanções impostas ao país pelo Ocidente faz parte das negociações de paz com a Ucrânia. O chanceler, em comentário à Xinhua, agência de notícias estatal da China, afirmou que delegações dos dois países seguem discutindo diariamente por videoconferência um rascunho de um possível tratado.

A declaração parece ser uma reação ao que autoridades em Kiev alertaram na sexta-feira, de que as negociações sobre o fim da invasão da Rússia, agora em seu terceiro mês, correm o risco de entrar em colapso. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, tem insistido desde o começo da guerra, em 24 de fevereiro, que as sanções ocidentais precisam ser reforçadas e não podem fazer parte das negociações.​

Lavrov disse ainda que, se EUA e outros países da Otan, a aliança militar do Ocidente, estiverem realmente interessados em resolver o conflito, devem parar de enviar armas para Kiev. Em Washington, o pacote de ajuda de US$ 33 bilhões proposto pelo presidente Joe Biden para a Ucrânia, incluindo US$ 20 bilhões em armas, recebeu apoio tanto de democratas como de republicanos. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, disse na sexta-feira esperar que o Congresso aprove o pacote o mais rapidamente possível.

No front militar, as forças russas atacaram a região do Donbass, no leste da Ucrânia, neste sábado, mas, segundo militares ucranianos, não conseguiram tomar o controle de três áreas-alvo. Os russos tentaram capturar as áreas de Liman, em Donetsk, e Sievierodonetsk e Popasna, em Lugansk, de acordo com o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia. "Não conseguiram. A luta continua."

Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, também no leste, voltou a sofrer bombardeios de tropas russas. "A situação na região de Kharkiv é difícil, mas nossas Forças Armadas e nossa inteligência tiveram sucessos táticos significativos", disse Zelenski em discurso televisionado.

A polícia ucraniana também afirmou neste sábado ter encontrado mais três cadáveres com as mãos amarradas, os olhos vendados e sinais de tortura em uma vala comum em Butcha, subúrbio de Kiev. No início de abril, a descoberta de centenas de corpos pelas ruas e em valas após a retirada de tropas russas dos arredores da capital provocou reações em todo o mundo e denúncias de crimes de guerra.

Em telefonema a Zelenski, o presidente da França, Emmanuel Macron, reiterou sua "forte preocupação" com o bombardeio a cidades ucranianas e com a "situação insuportável" na cidade portuária de Mariupol e disse que intensificará o apoio militar e humanitário à Ucrânia.​ "A missão dos especialistas franceses que ajudam na coleta de evidências para lutar contra a impunidade e permitir o trabalho da justiça internacional sobre os crimes cometidos no âmbito da agressão russa continuará", disse o líder francês.

Segundo o Palácio do Eliseu, o auxílio humanitário francês à Ucrânia inclui "mais de 615 toneladas de material, incluindo equipamentos médicos, geradores para hospitais, alimentos e ajuda para alojamento".

O Ministério da Agricultura da Ucrânia afirmou neste sábado que as forças russas roubaram "várias centenas de milhares de toneladas" de grãos nos territórios que ocupam. "É um roubo total. E isso está acontecendo em todos os lugares do território ocupado", disse o ministro Mikola Solski.

Solski afirmou, ainda, que os episódios elevam os riscos à segurança alimentar global. O Kremlin negou as acusações.

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