Em Moscou, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, reuniu-se nesta terça (26) com o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, e depois com o presidente Vladimir Putin.
Trata-se da primeira visita do português ao país desde o início da guerra, há mais de dois meses. A opção de ir primeiro ao país invasor, no entanto, foi considerada ilógica pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Enquanto o líder da ONU segue na missão diplomática, os EUA recebem em uma base militar na Alemanha representantes de quase 40 países para renovar os esforços para o envio de ajuda militar à Ucrânia.
A reunião busca passar a mensagem de quão longe o Ocidente está disposto a ir para enfrentar a Rússia.
Embora a expectativa acerca da viagem de Guterres seja baixa, visto que diversos líderes se encontraram com autoridades russas e não chegaram a avanços significativos em direção ao fim do conflito, Putin disse ao secretário-geral que ainda espera uma solução por meio da diplomacia.
"Apesar do fato de que a operação militar na Ucrânia está se desenvolvendo, continuamos esperançosos na capacidade de chegar a acordos por meio de canais diplomáticos. Estamos negociando, não estamos rejeitando [negociar]", disse o presidente russo.
Durante a conversa com Lavrov, Guterres pediu que o conflito seja encerrado com urgência. "Estamos extremamente interessados em encontrar maneiras de criar as condições para um diálogo efetivo, criar as condições para um cessar-fogo o mais rápido possível, criar as condições para uma solução pacífica."
O chanceler russo, por sua vez, disse que a Rússia está comprometida com uma solução por meio de negociações. Na véspera, porém, criticou o que chamou de falta de boa vontade de Kiev em dialogar.
A uma emissora estatal russa Lavrov disse ainda considerar o risco de o conflito evoluir a ponto de que sejam usadas armas nucleares —na prática, a Terceira Guerra— é "sério, real" e não deve ser subestimado.
Os EUA reagiram nesta terça à fala. Segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby, a declaração foi uma bravata, recurso retórico para escalar o conflito. Na prática, porém, Moscou estaria fragilizada, disse ele.
"Eles estão com as Forças Armadas mais fracas. Eles são um Estado mais fraco agora e estão se isolando ainda mais. Queremos que a Rússia não seja capaz de ameaçar seus vizinhos novamente no futuro."
A resposta de Kirby, em entrevista à TV americana, ecoa o que disse, nesta segunda-feira (25), o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin. "Queremos ver a Rússia enfraquecida a ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia. Moscou já perdeu muita capacidade militar, muitos soldados, e, francamente, queremos que eles não tenham a capacidade de reconstitui-la rapidamente."
Austin, ao lado do secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se com Zelenski em Kiev e encheu a Ucrânia de elogios por sua resistência "extraordinária e inspiradora". O militar chegou a dizer que Kiev pode vencer a guerra, desde que tenha "os equipamentos certos" e "o apoio adequado".
É isso que afirma querer articular na reunião na Alemanha. Algumas das principais lideranças do Ocidente, como os próprios EUA, Reino Unido e França, vinham se recusando a fornecer armas de ataque à Kiev.
Mas o cenário começa a mudar. A Alemanha anunciou nesta terça o envio de blindados de defesa antiaérea Gepard a Kiev. Trata-se de um equipamento usado, mas que marca uma mudança no tom do governo do premiê Olaf Scholz, visto como hesitante até agora. Durante a cúpula militar ocidental na base americana em Ramstein, no oeste da Alemanha, outros países devem fazer anúncios semelhantes.
Risco de catástrofe nuclear
A Energoatom, agência estatal de energia atômica da Ucrânia, acusou a Rússia nesta terça de conduzir novos ataques à cidade de Zaporíjia, com o risco de atingir a usina de mesmo nome e provocar uma catástrofe nuclear. Forças russas tomaram o local em 4 de março e, desde então, mantêm controle sobre a instalação com forte aparato militar, de acordo com a agência ucraniana.
Autoridades disseram que o ataque atingiu um prédio comercial na cidade, matando ao menos uma pessoa. Segundo comunicado da empresa, os mísseis de cruzeiro sobrevoaram a usina em baixa altitude.
"Mísseis podem atingir uma ou mais instalações nucleares, e isso ameaça uma catástrofe nuclear e de radiação em todo o mundo", disse a Energoatom no Telegram, acusando a Rússia de expor o mundo à repetição de uma tragédia como a de Tchernóbil, considerado o maior acidente nuclear da história.
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