Vizinha da Ucrânia entra em alerta com ataques em área separatista russa

Cresce temor de que Moscou tenha interesse em envolver Transdnístria na guerra

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São Paulo

O governo da Moldova convocou uma reunião de emergência para discutir o acirramento da tensão na Transdnístria, após dois dias seguidos de ataques a instalações militares na região separatista russa aumentarem o temor de que Moscou possa envolvê-la na Guerra da Ucrânia.

Na segunda (25), houve uma série de explosões próximas ao prédio do Ministério da Segurança de Tiraspol, capital da Transdnístria, área autônoma conhecida como "a última república soviética", por manter a simbologia comunista e parte da estrutura de poder do tempo em que fazia parte da antiga república socialista da Moldávia até 1991.

Antenas de centro militar da Transdnístria destruídas após ataque na cidade de Maiak
Antenas de centro militar da Transdnístria destruídas após ataque na cidade de Maiak - Ministério do Interior da Transdnístria/AFP

Nesta terça (26), foi a vez de uma instalação militar próxima à cidade ser atacada, com a destruição de duas antenas de rádio de longo alcance. O ucraniano Volodimir Zelenski acusou Moscou, dizendo que o objetivo é desestabilizar a região, enquanto o Kremlin afirmou que acompanha a situação com preocupação, já que mantém 1.500 militares garantindo o status da Transdnístria desde uma guerra civil em 1992, mas que não crê em instabilidade. O temor é de outra natureza.

Na semana passada, um general do Comando Sul da Rússia afirmou candidamente que o objetivo da fase atual da guerra no país vizinho era o de estabelecer controle sobre toda a costa do mar Negro e do Donbass, a região de maioria pró-Rússia no leste da Ucrânia.

Mas acrescentou que tal controle "daria acesso" do território controlado pela Rússia à Transdnístria, que tem cerca de dois terços de sua população de quase 500 mil habitantes russófona. Sinais amarelos acenderam em Chisinau, capital moldávia, e também entre observadores europeus.

Assim, uma crise renovada na até aqui pacata Transdnístria poderia levar a uma intervenção mais ativa de Moscou. Aí, das duas, uma: ou estamos diante de uma operação de "bandeira falsa", na qual são simulados ataques para dar o pretexto a uma ação, ou a percepção de que os russos estão muito ocupados na Ucrânia animaram opositores do regime separatista e talvez de ucranianos.

Concorre em favor da última versão o incentivo que o Ocidente tem dado à militarização da Ucrânia. Nesta terça, o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, disse que alvos russos no exterior seriam legítimos para Kiev atacar. Há também a possibilidade de, no caso de ser uma "bandeira falsa", a crise servir apenas como elemento de tergiversação, atraindo eventual preocupação ucraniana e ocidental.

De todo modo, a posição da presidente Maia Sandu é difícil. Ela foi eleita com um discurso contrário a Vladimir Putin em 2020 e comanda a pequena nação de 2,6 milhões de habitantes (além do meio milhão na área separatista) sob pressão de políticos pró-Kremlin.

Após a reunião de seu Conselho de Segurança, ela disse que a suspeita maior era de "grupos pró-guerra" na Transdnístria, sem especificar de quem se tratariam. Afirmou ainda que se mantém aberta para as negociações de paz, que já duram décadas, mas que não iria procurar o governo russo.

Tiraspol decretou "alerta vermelho" contra atividades terroristas em seu território. Diferentemente do que ocorreu com as duas autoproclamadas repúblicas populares do Donbass antes da guerra, Putin nunca reconheceu a administração da Transdnístria como um país, embora na prática a proteja.

Sua posição, assim, é anterior à do Donbass e à das duas áreas rebeldes russas na Geórgia, a Abkházia e a Ossétia do Sul, objeto da guerra vencida pela Rússia em 2008. A Moldova é um dos países mais pobres da Europa, e Sandu namora a ideia de se unir à União Europeia, sem sucesso até aqui.

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