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Xangai tem exaustão, protesto e censura durante lockdown por Covid

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Igor Patrick

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Com o lockdown iniciado no fim de março para conter o pior surto de Covid-19 na China desde Wuhan, o governo local tem dificuldades para reabastecer os estoques de alimentos, e a população reclama das decisões erráticas das autoridades.

Impedidos de sair às ruas inclusive para comprar comida, os xangaienses buscam formas de vocalizar a irritação.

Viralizou no Weibo (espécie de Twitter chinês) um vídeo mostrando gritos e palavras de ordem contra a quarentena. O narrador comenta que as pessoas estavam atingindo um ponto de "vida ou morte".

No Douyin, versão local do TikTok, um dos vídeos mais populares nas últimas semanas é a reprodução de uma ligação para a polícia. Na gravação, um homem diz aos oficiais que está propositalmente quebrando a quarentena naquele momento e pede para ser preso.

Ele então questiona: "Você tem alguma coisa para comer na prisão?", ao que o policial responde: "Vamos prendê-lo e mandá-lo de volta para casa. Nem nós sabemos onde podemos comprar comida".

Um trecho da chamada em que o homem diz entender "por que revoluções armadas derrubam governos quando os cidadãos passam fome" foi posteriormente censurado.

A censura, aliás, tem sido cada vez mais aplicada nas redes conforme o bloqueio avança. O Weibo tem banido tópicos sobre Xangai.

Na quinta-feira (14), por exemplo, a plataforma listava como os temas mais acessados os seguintes assuntos:

  • "desmentindo rumores sobre a pandemia em Xangai"
  • "EUA, o país com maior déficit de direitos humanos no mundo"
Moradores de Xangai passam óleo de cozinha por cima de barreira criada para o lockdown na cidade - Reuters/Aly Song


Como as postagens contrárias ao governo estavam desaparecendo do primeiro tópico, uma avalanche de comentários sobre o confinamento invadiu o segundo durante a madrugada.

  • Um perfil mencionou o preço dos aluguéis nas grandes cidades chinesas, a alta nos juros, baixa renda e ironizou: "A China definitivamente é o país com mais direitos humanos no mundo";
  • Outro mencionou as políticas de contenção à pandemia em Xangai: "Bloqueamos as portas das pessoas, matamos animais de estimação, desperdiçamos recursos médicos e deixamos de tratar pacientes com necessidades mais urgentes, mas nosso número de mortes é zero!"


Depois de acumular quase dois milhões de comentários, a página sumiu. Os internautas não perderam a chance de caçoar mais uma vez: "Os EUA derrubaram essa hashtag tão rapidamente… Não é à toa que eles são tão bons em guerra cibernética", escreveu um usuário em tom de sarcasmo.

Por que importa: os chineses reconhecem o trabalho do Partido Comunista na erradicação da miséria, mas também se lembram do Grande Salto Adiante, política de industrialização implementada por Mao Tsé-tung entre 1958 e 1962 responsável por matar mais de 30 milhões de pessoas de fome.

Quando submete os 26 milhões de habitantes da cidade mais rica do país a um lockdown que está efetivamente impedindo as pessoas de comer, o governo central faz uma aposta perigosa.

O objetivo é conseguir controlar as infecções e restaurar a estabilidade, mas os números até agora não são animadores, e os moradores de Xangai não parecem dispostos a tolerar o bloqueio por muito mais tempo.

o que também importa

A China reagiu ao que classificou de "coerção" dos EUA. O país asiático afirmou ter feito "esforços consideráveis para desescalar e neutralizar a crise" na Ucrânia e não responderá a "qualquer pressão ou coerção" quanto ao seu relacionamento com a Rússia.

Esse foi o recado dado pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, na quinta (14), ao comentar declarações da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen. A americana cobrou Pequim quanto ao apoio à Moscou na invasão russa da Ucrânia e disse que "o momento de escolher" de que lado os chineses estão está se aproximando.

"A China está desempenhando um papel construtivo", disse Zhao, que repetiu o posicionamento oficial do governo chinês. "A soberania e a segurança da Ucrânia devem ser preservadas, e as preocupações legítimas de segurança da Rússia também devem ser respeitadas."

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian. - REUTERS

Por 3 votos a 2, a Nova Zelândia concordou em enviar para a China um cidadão sul-coreano procurado no país por assassinar uma prostituta em 2009.

Kyung Yup Kim foi preso em 2011, atendendo a um pedido de Pequim. Ele é acusado de ter, em 2009, espancado e estrangulado uma prostituta em Xangai. O caso teve enorme repercussão, e as autoridades chinesas vêm lutando pela extradição dele desde então.

Sem um acordo de extradição com a Nova Zelândia, os chineses fizeram uma requisição especial ao país. Pequim afirmou que o acusado terá um julgamento justo. Foi permitido que ele receba visitas uma vez a cada 48 horas.

Grupos que defendem os direitos civis afirmaram temer que o caso abra precedentes para que outros países aceitem garantias diplomáticas da China e extraditem cidadãos não chineses.

fique de olho

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China publicou uma série de instruções para que quarentenas domiciliares sejam autorizadas pelas comunidades locais. Entre as regras, o órgão afirmou que exigirá que a casa tenha banheiro e quarto independentes para que pessoas contaminadas pelo coronavírus não dividam as instalações com demais membros familiares.

As autoridades sanitárias também disseram que uma avaliação por instituições de saúde deverá ser conduzida no local antes que uma pessoa com Covid receba autorização para isolamento em casa.

Por que importa: a notícia animou quem temia ser levado para os temíveis centros de quarentena, conhecidos pela lotação e pelas péssimas condições estruturais (a maioria não conta com chuveiros ou divisórias entre os quartos, por exemplo).

Com a lotação recente nas instalações para assintomáticos e pacientes com casos leves de Covid, é bastante provável que essas novas medidas apenas estabeleçam o marco legal para manter as pessoas em quarentena domiciliar até que uma vaga seja liberada e o contaminado seja transferido.

​para ir a fundo

  • Estão abertas as inscrições para o programa Schwarzman Scholars, mestrado oferecido pela Universidade Tsinghua, em Pequim. Considerado um dos mais concorridos e prestigiados programas do mundo, o Schwarzman oferece bolsa completa para jovens líderes que estudam por um ano na melhor universidade da China. (gratuito, em inglês)
  • Estão abertas até o dia 13 de maio as inscrições para o curso de redação e caligrafia chinesa promovido pelo Instituto Confúcio e o Consulado Geral da China em São Paulo. Os vencedores serão premiados com produtos eletrônicos e brindes das Olimpíadas. (gratuito)
  • O Centro Fairbank para Estudos Chineses, em Harvard, realiza na próxima sexta (22) um grande evento online para discutir como gênero e práticas legais se relacionam na China. As inscrições aos interessados estão abertas. (gratuito, em inglês)
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