Descrição de chapéu Deutsche Welle Rússia

A misteriosa onda de mortes de oligarcas russos

Em três meses, sete milionários do país foram encontrados mortos, em alguns casos junto com familiares

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Thomas Latschan
DW

Nos últimos três meses, sete milionários da Rússia morreram sob circunstâncias enigmáticas —alguns com suas famílias. A maioria deles tinha envolvimento com os setores de gás e petróleo.

Dezenove de abril, Lloret de Mar, na Catalunha: a polícia espanhola recebe uma ligação de Fedor Protosenia, filho de um oligarca russo cuja família é dona de uma mansão na cidade. Ele relata que durante horas tentou ligar para sua mãe a partir da França, mas ela não atendia o telefone.

Logo da Gazprombank, cujo executivo Vladislav Avaiev foi encontrado morto em Moscou
Logo da Gazprombank, cujo executivo Vladislav Avaiev foi encontrado morto em Moscou - Maxim Shemetov - 31.mar.22/Reuters

Quando a polícia chega à propriedade, encontra só os corpos de seus pais e irmã. A polícia presume que o pai de Fedor, o milionário Serguei Protosenia, esfaqueou as duas mulheres até a morte e depois se enforcou no jardim da casa. No entanto, dúvidas sobre o que realmente ocorreu surgem rapidamente.

Um dia antes, em Moscou, a 3.000 km de distância, a polícia fez outra descoberta terrível: Vladislav Avaiev, também multimilionário, sua esposa e filha de 13 anos estão mortos em seu luxuoso apartamento na capital russa. A agência de notícias estatal russa Tass informou que ele tinha uma pistola na mão. A suspeita das autoridades é que ele primeiro matou a mulher e a filha e depois disparou contra si mesmo.

Ambos os incidentes ocorreram dentro de um período de 24 horas, e os supostos cursos dos eventos são surpreendentemente semelhantes. Além disso, Protosenia e Avaiev eram oligarcas multimilionários dos mais altos escalões das indústrias russas de petróleo e gás. Protosenia chegou a ser vice-presidente da empresa de gás natural Novatek, enquanto Avaiev atuou como vice-presidente do Gazprombank.

Os casos são os mais recentes de uma misteriosa série de mortes de oligarcas russos —principalmente do setor de energia— ocorridas em 2022. No final de janeiro, um mês antes de as tropas russas invadirem a Ucrânia, Leonid Schulman, 60, um gerente de alto nível da empresa Gazprom, teria cometido suicídio.

Então, em 25 de fevereiro, Alexander Tiuliakov, outro ex-gerente do gigante de energia, foi encontrado morto em sua casa em São Petersburgo. Três dias depois, o magnata ucraniano do gás e do petróleo Mikhail Watford foi encontrado morto na garagem de sua propriedade rural em Surrey, no sul da Inglaterra.

Em 24 de março, o bilionário Vasili Melnikov, chefe da empresa de suprimentos médicos MedStom, foi encontrado morto ao lado da esposa, Galina, e dos dois filhos pequenos em seu apartamento na cidade russa de Ninzhni Novgorod. Os detalhes das mortes também têm paralelos com os de Protosenia e Avaiev.

E também há o caso de Andrei Krukovski. O homem de 37 anos era o diretor da estação de esqui Krasnaia Poliana, localizada perto de Sochi. Diz-se que o presidente russo, Vladimir Putin, convidou repetidamente seus amigos para esquiar no local. De acordo com o jornal russo Kommersant, Krukovski realizava uma caminhada no dia 2 de maio quando caiu de um penhasco.

Ligações com o Kremlin?

As mortes de sete russos super-ricos em três meses sob circunstâncias tão terríveis geraram todo tipo de especulação. Vários meios de comunicação especularam que os suicídios poderiam ter sido forjados.

Alguns deles chegaram a sugerir que o Kremlin —ou até mesmo o próprio Putin— poderia estar envolvido.

Nos últimos anos, ocorreram várias tentativas dramáticas de assassinato de críticos do Kremlin. Em agosto de 2020, o líder da oposição Alexei Navalni foi envenenado com o agente nervoso Novichok enquanto estava no aeroporto de Tomsk. Dois anos antes, Serguei Skripal, ex-chefe da agência de inteligência russa GRU, foi envenenado de forma semelhante. Tanto Navalni quanto Skripal sobreviveram.

Em 2006, Alexander Litvinenko, um ex-oficial de segurança russo que desertou para o Reino Unido, foi fatalmente envenenado com polônio radioativo em Londres. Em 2017, o jornal americano USA Today publicou os resultados de uma investigação que afirma que ao menos 38 oligarcas morreram ou desapareceram ao longo de três anos. O que chama a atenção nos incidentes de 2022 é que nenhum dos oligarcas mortos era conhecido por ter feito comentários públicos críticos sobre a invasão da Ucrânia. Ao mesmo tempo, nenhum deles estava nas listas de sanções internacionais impostas após a invasão.

Texto publicado nas mídias sociais pelo Warsaw Institut, think tank polonês especializado em Rússia e política de segurança, afirmou que tanto a polícia russa quanto os serviços de segurança da Gazprom iniciaram rapidamente investigações nos locais das mortes ocorridas na Rússia. "Possivelmente, algumas pessoas ligadas ao Kremlin estão agora tentando encobrir vestígios de fraude em empresas estatais."

Não há evidências para apoiar essa teoria ou sobre o envolvimento de terceiros. No caso de Serguei Protosenia, a polícia espanhola continua a presumir que as mortes foram homicídio seguido de suicídio. No entanto, Fedor Protosenia, filho do oligarca russo, afirma não acreditar que esse tenha sido o caso.

"Meu pai não é um assassino", disse ele a vários meios de comunicação britânicos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.