Atirador do Texas enviou mensagens privadas sobre ataque minutos antes da ação

Salvador Ramos, 18, há havia publicado posts nos quais demonstrava fascinação por armas e indicava problemas familiares

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Washington

Salvador Ramos, 18, que invadiu uma escola e matou 19 crianças e dois adultos em Uvalde, no Texas, na terça (24), não tinha antecedentes criminais nem registro de transtornos mentais, disse o governador do estado, Greg Abbott. O sinal de que ele poderia cometer um crime, porém, estava nas redes sociais.

"Não houve nenhum alerta significativo deste crime. A única informação conhecida de forma antecipada foi postada pelo próprio atirador no Facebook aproximadamente 30 minutos antes de ele chegar à escola", afirmou o republicano durante entrevista coletiva realizada nesta quarta-feira (25).

Reprodução do perfil em rede social de Salvador Ramos, atirador que matou 21 pessoas em ataque a escola no Texas, nos EUA - 24.mai.22/AFP

"Na primeira publicação, ele escreveu 'vou atirar na minha avó'. A segunda foi 'eu atirei na minha avó'. A terceira, talvez 15 minutos antes de chegar à escola, foi: 'Vou atirar em uma escola primária'."

Andy Stone, porta-voz da Meta, dona do Facebook, questionou a fala de Abbott e disse que as mensagens sobre o ataque foram enviadas em uma conversa privada, não em mensagens públicas.

Segundo a CNN americana, Ramos teria enviado mensagens a uma menina de 15 anos na Alemanha, que conheceu pela rede social Yubo há algumas semanas. O conteúdo é similar ao citado por Abbott, mas imagens da conversa indicam que a interação se deu mesmo em um canal privado.

Pessoas próximas ao atirador disseram à imprensa que ele havia feito várias postagens em redes sociais que indicavam problemas familiares e interesse em armas nos meses anteriores ao ataque. Em uma delas, apareceu em uma discussão com a mãe, que tentava expulsá-lo de casa. "Ele estava gritando e falando com ela de modo realmente agressivo", disse uma colega de Ramos ao jornal The Washington Post.

Há um ano, Ramos publicou imagens de fuzis automáticos, capazes de disparar rajadas de tiros, e disse que eles estavam em sua lista de desejos. Alguns dias antes do ataque, divulgou uma foto com dois fuzis, que comprou logo após completar 18 anos, idade em que o acesso a armas é permitido no Texas.

Abbott também confirmou que Ramos disparou contra a sua avó antes de atacar a escola. "Qualquer um que atira em sua avó no rosto tem o mal no coração", afirmou, em tom de revolta. O governador chamou o atirador de "pessoa demente", usando o termo pejorativo associado a pessoas com transtornos mentais.

O republicano afirmou ainda que o agressor disparou ao menos 223 tiros durante a ação. O ataque deixou 19 crianças e dois professores mortos, além de 17 feridos, entre os quais três policiais que trocaram tiros com Ramos e não correm risco de morte, de acordo com as autoridades.

O democrata Beto O'Rourke, candidato ao governo do Texas nas eleições deste ano, marcadas para novembro, interrompeu a entrevista coletiva e fez críticas a Abbott. "Você não está fazendo nada. Isso é totalmente previsível", disse ele, aos gritos. Rourke foi retirado do local pela polícia.

Abbott, por sua vez, disse que discutirá com o Legislativo formas de aumentar a proteção às escolas, mas questionou a eficácia de medidas que visam a dificultar o acesso a armas e relativizou a violência armada.


Algumas das vítimas já identificadas

Amerie Jo Garza, 10
Foi morta enquanto tentava ligar para a polícia

Eliahna Garcia, 10
Adorava praticar esportes e dançar

Eva Mireles, 44
Professora há 17 anos, era casada com um policial

Jacklyn Jaylen Cazares, 10
Dizia gostar de ajudar as pessoas sempre que possível

Jaliah Nicole Silguero, 10
Não queria ir para a escola no dia do ataque

Jayce Carmelo Luevanos, 10, e Annabelle Rodriguez, 10
Eram primos e perderam o avô há duas semanas

Rojelio Torres, 10
Era considerado muito inteligente e carinhoso

Uziyah Garcia, 8
Treinava passes de futebol americano com o avô

Xavier Lopez, 10
Gostava de nadar e de fazer vídeos para o TikTok


"Odeio dizer isso, mas há mais pessoas levando tiros a cada fim de semana em Chicago do que nas escolas do Texas", afirmou. "A capacidade de uma pessoa de 18 anos comprar uma arma longa no Texas existe há mais de 60 anos. Quem atira contra os outros tem um problema de saúde mental."

Abbott tem sido questionado por uma publicação feita em 2015 em que afirma estar envergonhado pelo fato de o Texas ocupar a segunda posição no ranking de estados americanos com maior volume de vendas de armas. "Vamos acelerar o ritmo, texanos", escreveu o republicano à época.

Uma das medidas mais defendidas por ativistas, políticos e especialistas em segurança é aumentar a checagem de antecedentes de quem compra armas de fogo, para evitar que pessoas com histórico de violência ou de transtornos mentais tenham acesso fácil a armamentos.

O ataque desta terça ocorreu em Uvalde, condado que soma 24 mil habitantes e está a cerca de 100 km da fronteira com o México. Ali, três de cada quatro habitantes têm origem latina. Na manhã desta quarta, moradores fizeram filas em hospitais para doar sangue aos feridos.

O caso gerou revolta nos EUA e novos pedidos por medidas mais firmes para evitar novos massacres. Na noite de terça, o presidente Joe Biden usou o ocorrido para voltar a criticar o lobby pró-armas no país e para defender o controle no acesso a armamentos. "Estou cansado disso. Por que estamos dispostos a viver com essa carnificina? Por que continuamos deixando isso acontecer?", questionou.

Nesta quarta (25), o democrata repetiu o pedido ao Congresso para a aprovação de medidas que busquem evitar novos massacres, como confirmar a nomeação, feita por ele, para o Departamento de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo, pendente há meses. Ele disse ainda que visitará o Texas nos próximos dias.

O presidente assinou uma ordem executiva para ampliar a responsabilização de policiais que têm más condutas. A ordem prevê a criação de uma base nacional com registros de infrações, indica padrões de investigação e altera procedimentos da atuação de agentes federais, como o banimento do uso de sufocamento. A medida foi anunciada no dia em que o assassinato de George Floyd completa dois anos.

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