Chanceler prevê Cúpula das Américas esvaziada e não confirma presença de Bolsonaro

Governo Biden escalou emissário para tentar convencer presidente a aceitar convite para reunião nos EUA

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Brasília

Diante dos gestos dos EUA para que o presidente Jair Bolsonaro (PL) compareça à Cúpula das Américas, em Los Angeles, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse que a reunião de líderes teve até o momento "baixa adesão" e que o nível de representação do governo brasileiro ainda não está definido.

As declarações foram dadas em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, realizada nesta quarta-feira (18). "Ainda não há uma definição, por parte da Presidência da República, sobre qual será o nosso nível de participação nesta nona Cúpula das Américas, mas devo dizer que é uma cúpula que tem tido, aparentemente, num primeiro momento, uma baixa adesão", afirmou.

O chanceler Carlos França ao lado do presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Alvorada, em Brasília
O chanceler Carlos França ao lado do presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Alvorada, em Brasília - Evaristo Sá - 20.abr.22/AFP

Como revelou a Folha, o presidente Joe Biden escalou um emissário para tentar convencer Bolsonaro a participar da reunião prevista para o início de junho. O escolhido foi o ex-senador Christopher Dodd, que tinha encontro previsto com o líder brasileiro na sexta (20), mas os americanos devem tentar remarcar a agenda para os próximos dias porque Dodd recebeu o diagnóstico de Covid, segundo interlocutores.

A Cúpula das Américas foi pensada por Washington para simbolizar o retorno da liderança dos Estados Unidos em assuntos da América Latina, após a Presidência de Donald Trump, durante a qual temas da região ficaram em segundo plano —na última cúpula, em 2018, o republicano não foi a Lima, no Peru, tornando-se assim o primeiro líder americano a faltar ao evento.

A reunião, entretanto, corre o risco de terminar esvaziada devido às sinalizações de Bolsonaro e do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, de que não pretendem comparecer.

Obrador disse na semana passada que só irá à cúpula caso os EUA convidem os governos de Cuba, Nicarágua e Venezuela, ditaduras consideradas párias por Washington.

Por isso, antes de vir ao Brasil, Dodd também tinha agenda no México, com o mesmo objetivo de convencer um líder de peso a reverter a decisão de não ir a Los Angeles. Devido à infecção por coronavírus, no entanto, ele realizou a conversa com Obrador por videoconferência.

"É natural que, quando um país convoca uma cúpula, ele mande emissários e enviados especiais para reforçar o convite e garantir a participação no mais alto nível possível", afirmou França nesta quarta, dizendo também que, até onde ele sabe, a visita de Dodd ao Brasil não está confirmada.

De acordo com diferentes interlocutores, uma série de fatores pesa para a falta de interesse de Bolsonaro em viajar aos EUA neste momento. A principal delas é o cenário interno no Brasil. O presidente está em pré-campanha pela reeleição e tem demonstrado resistência a sair do país. Embora tenha esboçado uma reação nas últimas pesquisas, ele ainda está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para a diplomacia, agendar um encontro com Biden nessas condições cria o risco de Bolsonaro desistir da viagem na última hora, o que geraria constrangimento com o líder da mais importante potência do mundo.

Apesar de um encontro com o presidente americano ser desejado por membros do governo —uma forma de reforçar o argumento de que o Brasil não está isolado, a foto com o democrata é vista pela pré-campanha do presidente como algo de pouco valor eleitoral, já que o brasileiro é aliado de Donald Trump.

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