Descrição de chapéu China Ásia

China admite que crescer PIB virou tarefa bastante difícil

Leia a edição da newsletter China, terra do meio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Pequim

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la todas as sextas no seu email? Inscreva-se abaixo.

Pela primeira vez, o premiê Li Keqiang admitiu a quadros do Partido Comunista que alcançar a meta de crescimento de 5,5% do PIB em 2022 será uma tarefa bastante difícil. A fala foi dada em uma conferência realizada na quarta (25) com quase 100 mil representantes vindos de 2.844 condados e distritos chineses.

Li tem enfatizado desde o mês passado a necessidade de medidas extraordinárias para aquecer a economia, mas a sucessão de lockdowns para combater a Covid virou um grande obstáculo.

Quadros do partido admitiram durante o evento que há a possibilidade de a China não crescer no segundo semestre.

A agência estatal de notícias Xinhua reproduziu as declarações do premiê, referindo-se à preocupação da liderança chinesa com os indicadores de desemprego, produção industrial, consumo de energia e transporte de cargas, todos os quais afetados pela pandemia.

Ainda segundo o veículo, a situação da pandemia de Covid-19 agora é, "em certa medida, muito mais desafiadora do que as vividas em 2020". Mesmo assim, a China não dá sinais de que vai abandonar a política de Covid zero.

Trabalhadores em macacões de proteção nas ruas de uma área residencial em lockdown, parte da política Covid zero, em Xangai - Reuters/Aly Song

Na reunião, Li reforçou a necessidade de "coordenar o controle da epidemia" para avançar no "desenvolvimento econômico e social de maneira eficiente, estabilizando o crescimento" do país.

O CCTV Evening News, telejornal mais importante da rede de TV estatal, dedicou dois minutos ao evento. Destacou os esforços nacionais para "promover o desenvolvimento de alta qualidade", mesmo termo anteriormente utilizado nas páginas do Diário do Povo para discutir as dificuldades econômicas da China em 2022.

Por que importa: com exceção dos turbulentos anos que se seguiram após o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, a China vem em uma trajetória de crescimento econômico desde 1978, algo sem precedentes na história moderna. O rápido desenvolvimento do país levou consigo vários outros parceiros, inclusive o Brasil, que se beneficiou enormemente da necessidade chinesa por commodities.

Uma China com crescimento lento (ou mesmo em recessão) é algo que o mundo não vê há décadas. Os efeitos certamente serão sentidos pela economia global, desde estagnação até o aumento da inflação.

O que também importa

O Canadá decidiu banir as chinesas Huawei e ZTE das redes de 5G do país. O governo local citou "sérias preocupações" quanto a possíveis prejuízos aos interesses nacionais.

  • O país disse temer que as duas companhias se vejam obrigadas a cumprir ordens do Estado chinês, o que colocaria a segurança canadense em risco;

  • Como espera-se que o 5G seja uma modalidade de conexão quase onipresente na vida das pessoas, o governo preferiu proibir a implantação de produtos e serviços de ambas as empresas.

Firmas que já possuem equipamentos Huawei ou ZTE instalados terão que removê-los até o final de 2027.

O logo da empresa chinesa Huawei - Reuters/Wolfgang Rattay

Uma universidade inteira foi colocada em quarentena após testes de rotina para a Covid apontarem um surto no campus em Pequim.

O Instituto de Tecnologia de Pequim em Fangshan também foi classificado de área de alto risco para a doença (o que, na prática, pode obrigar qualquer pessoa que circule pela área a se isolar).

Segundo o comitê responsável pela gestão da pandemia na capital, quatro pessoas receberam o diagnóstico de Covid na instituição. Cerca de 670 pessoas viviam no campus, mas a prefeitura não confirmou quantas foram enviadas para centros de quarentena.

Não é a primeira vez que algo do tipo acontece na China. No início de maio, após uma pessoa ter resultado positivo na campanha de testes em massa na Universidade de Shandong, no leste do país, ao menos 400 pessoas consideradas contatos próximos do infectado foram imediatamente isolados.

fique de olho

Em parceria com duas empresas privadas, a Academia Chinesa de Ciências anunciou que os testes de um medicamento oral desenvolvido contra a Covid-19 conseguiu encurtar o período de infecção em pacientes contaminados com a variante ômicron e que apresentaram sintomas leves.

De acordo com os pesquisadores, o composto provisoriamente nomeado VV116 agora vai passar por ensaios de fase 3 para avaliar a segurança e a eficácia. Ainda não há prazo para conclusão do estudo.

Por que importa: o Paxlovid, desenvolvido pela Pfizer para tratamento caseiro da Covid, recebeu aprovação emergencial na China em fevereiro. Contudo, o medicamento é caro (US$ 250, cerca de R$ 1.200), e sua produção é limitada, o que restringe o uso apenas a pessoas com comorbidades. Se funcionar, uma pílula com fabricação doméstica pode significar a porta de saída da China para as pesadas restrições na política de Covid zero.

para ir a fundo

  • Xi Jinping tem aparecido com menos frequência na capa do Diário do Povo (jornal oficial do Partido Comunista), o que usualmente é sinal de problemas. Neste excelente artigo, o China Media Project explica o que isso pode indicar quanto ao futuro político do líder. (gratuito, em inglês)
  • Janaína Silveira continua a série sobre as relações sino-brasileiras no canal Radar China. Ela fala nesta sexta (27) com a diretora do Centro Empresarial Brasil-China, Cláudia Trevisan, sobre os resultados da sessão entre os vice-presidentes chinês e brasileiro. (gratuito, em português)
  • A BBC publicou uma longa reportagem com fotos inéditas e relatórios sobre os campos de reeducação em Xinjiang, locais em que a China estaria aprisionando muçulmanos da minoria uigur desde 2017. (gratuito, em inglês)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.