China faz nova manobra militar como 'alerta solene' aos EUA sobre Taiwan

Ação ocorre um dia depois de exercício com a Rússia durante visita de Biden à Ásia

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São Paulo

A tumultuada passagem do presidente americano, Joe Biden, pela Ásia seguiu reverberando nesta quarta-feira (25), com a China anunciando a realização de um novo exercício militar perto de Taiwan como um "alerta solene contra a recente colusão entre os Estados Unidos" e a ilha que considera sua.

A manobra ocorreu um dia após Rússia e China fazerem a primeira patrulha conjunta com bombardeiros capazes de carregar armas nucleares no mar do Japão desde o início da Guerra da Ucrânia, há três meses.

Unidade feminina do Exército de Taiwan durante simulação de invasão da ilha pelos chineses
Unidade feminina do Exército de Taiwan durante simulação de invasão da ilha pelos chineses - Tyrone Siu - 30.mai.2019/Reuters

Quatro aviões ficaram no ar escoltados por caças —e também foram acompanhados por aviões de combate da Coreia do Sul e do Japão, por 13 horas. No período, Biden se encontrava em Tóquio com os líderes japonês, indiano e australiano, seus parceiros no grupo anti-China Quad.

Apesar da obviedade do recado, o episódio de terça (24) não recebeu comentários adicionais de Pequim ou de Moscou. Já as manobras desta quarta, sim, e foram feitos pelo Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular. "É hipócrita e fútil para os EUA dizerem uma coisa e fazerem outra na questão de Taiwan", afirmou o porta-voz Shi Yi.

O exercício aeronaval, que não foi detalhado, foi "um aviso solene contra a recente colusão entre EUA e Taiwan", disse. Se o recado de terça ampliava o escopo da questão, já que os EUA e o Quad têm feito ameaças à China no caso de Pequim querer emular Moscou e atacar Taiwan como Vladimir Putin fez na Ucrânia, agora o endereço era focado.

Era a fala de Biden na segunda, quando reafirmou que defenderia militarmente a ilha em caso de invasão. Diferentemente da Ucrânia, país soberano desde o fim da União Soviética, Taiwan é vista pelos chineses como sua —apesar da ambiguidade, EUA e praticamente todo o resto do mundo concordam na teoria.

O presidente americano até tentou consertar no dia seguinte, após ter sido acusado de "brincar com fogo" por Pequim. A incorporação de Taiwan à ditadura comunista é uma promessa do líder Xi Jinping, que escalou a atividade militar em torno da ilha nos dois últimos anos para aumentar a pressão política sobre os grupos pró-independência do território.

Na prática, analistas duvidam que seja mais do que uma ameaça. Primeiro, devido à possibilidade de trazer os EUA de fato para uma guerra, com um potencial de destruir uma frota invasora chinesa razoável.

Segundo, em razão das capacidades militares da ilha, que só tem cerca de 10% de sua costa permeável a desembarques de tropas. Isso e o terreno montanhoso facilitam sua defesa e obrigariam a China a usar poder de fogo incompatível com a ideia de que está lá para libertar a população dos capitalistas de Taipé.

Por outro lado, a determinação de Pequim parece férrea. Xi tem enfrentado dificuldades econômicas, administrativas e políticas que podem gerar uma antes impensável contestação de seu plano de permanecer no poder após o fim do seu segundo mandato —isso será definido em novembro, no congresso do Partido Comunista.

É tudo especulação, dado o grau de controle de Xi sobre o país desde que chegou ao poder, há dez anos. Nesse campo, contudo, mesmo uma ação contra Taiwan poderia asseverar sua posição: regimes autoritários adoram uma guerra, como o aliado da China Putin e a junta militar argentina de 1982 nas Malvinas provam.

O exercício conjunto de terça, mais do que a demonstração de quarta, sugerem que a distância que Xi tenta estabelecer da confusão na Europa não necessariamente se aplica à relação militar com Putin, com quem selou um pacto de amizade visto como marco da Guerra Fria 2.0 contra os EUA, 20 dias antes de as bombas caírem na Ucrânia.

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