Como Guerra na Ucrânia e seus efeitos dominam Davos

Fórum Econômico Mundial toma partido contra Rússia e prevê impactos nas finanças globais com conflito

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São Paulo

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Na edição de hoje, explicamos como a invasão russa repercute no Fórum Econômico Mundial, que reúne políticos, empresários e intelectuais na Suíça, desde 1971.

O reflexo na economia global é o assunto mais óbvio relacionado à Guerra na Ucrânia, mas não o único na Davos sem neve e sem a vodca, tradicionalmente distribuída na casa que recebia festas bancadas pelos russos e que foi rebatizada, este ano, de "Casa dos Crimes de Guerra da Rússia".

A tradicional Casa da Rússia, que promove negócios no país, foi substituída pela "Casa dos Crimes de Guerra da Rússia", em Davos - Reuters/Arnd Wiegmann

A enviada da Folha à Suíça Luciana Coelho responde sobre como o país ausente no evento virou o principal assunto dele. "O Fórum assumiu inequivocamente o lado ucraniano, excluindo os russos, por anos financiadores importantes de programas da entidade", relata.

Além da fala de Volodymyr Zelensky na segunda, como o tema guerra tem repercutido em Davos? Até pelo caráter predominantemente europeu do encontro em Davos neste ano, com baixas causadas pela Covid e pela mudança de data entre os participantes de outras regiões, o assunto ofuscou todos os demais debates. O tom é o de que a mudança geopolítica, com realinhamento de blocos, é definitiva. O temor de que a inflação global cresça ainda mais com a reverberação do conflito e que falte comida para os pobres e energia para os ricos assombrou boa parte dos paineis.

A Rússia foi por anos uma das principais financiadoras do evento, com festas e a tradicional Casa da Rússia, que promovia negócios no país. Essa relação anterior gera algum tipo de desconforto? O Fórum não se constrange com seus laços pregressos com Moscou, tampouco em anunciar que os cortou e escolheu o lado da Ucrânia. Pedidos de ampliação de sanções contra o país governado por Putin e a caracterização da Rússia como criminosa foram duas constantes.

O que muda sem a Rússia, além da ausência da casa em Davos e das festas com vodca de graça? Sem nada de Rússia e com uma participação mais tímida dos chineses, seus aliados, o debate pendeu para um só lado, e o Fórum perdeu parte de seu brilho como local de convergência, em cujos corredores soluções palpáveis são debatidas e até encontradas. Aliás, a delegação ucraniana neste ano é vultosa.

O que o relatório divulgado no Fórum Econômico Mundial destacou sobre efeitos da guerra na economia? O relatório dos economistas ligados a Davos coloca a economia global à beira da recessão, ainda que haja vozes dissonantes, como a da economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, que vê risco de menor potencial sistêmico. Há três pontos chaves, segundo participantes que eu ouvi em entrevistas e nos paineis: (1) As cadeias de fornecimento, inclusive de comida, levarão muito mais tempo do que antes pensado para serem restabelecidas; (2) A energia vai ficar mais cara, posto que a Rússia é crucial na exportação de petróleo e gás; (3) Considerando os dois itens anteriores, a inflação continuará subindo, o que deve levar bancos centrais a subirem juros, pondo freio na retomada pós-pandemia.

O que significa "fazer retroceder a globalização", quadro pintado por economistas ligados ao Fórum? Há temores disseminados de que a guerra e os solavancos nas cadeias de suprimentos levem os países a preferirem negociar apenas com vizinhos ou aliados, ou mesmo a estimularem produção local em detrimento de importar. Isso interromperia, ou mesmo faria retroceder parcialmente, as últimas três décadas de globalização e integração de mercados. Nem todos concordam que isso equivalha a uma fragmentação, claro, mas a reorganização desses eixos parece mesmo em curso.

Não se perca

O editor da newsletter FolhaMercado, Artur Búrigo, lista e explica os principais impactos econômicos do conflito que dura três meses.

Inflação: no momento em que o mundo ainda tentava frear a alta dos preços gerada durante a pandemia, a eclosão da guerra provocou carestia em dois itens essenciais: energia e alimentos.

  • A Rússia era uma das principais fornecedoras de petróleo e gás natural para a Europa. Com as sanções impostas por países do Ocidente, a oferta desses dois itens diminuiu e os preços dispararam no mundo todo.
  • Os dois países do conflito tinham participação importante na oferta global de grãos, em especial trigo e milho, dois itens que seguem com preços acima da média histórica. Óleo de soja e fertilizantes também encareceram.

Juros: ferramenta dos bancos centrais para debelar a inflação, esse remédio amargo deve não só encarecer o crédito e diminuir a liquidez nos mercados, mas também frear o crescimento econômico global.

Transição energética: a crise provocada pela guerra balançou com o discurso de prioridade às fontes renováveis, preocupando a Agência Internacional de Energia. O objetivo passou a ser evitar o desabastecimento no curto prazo, o que fez o tão demonizado carvão voltar ao jogo.

Fuga de empresas: as retaliações não ficaram apenas entre os países do Ocidente e grandes multinacionais também deixaram ou suspenderam a venda de seus produtos na Rússia com o agravamento do conflito. Estão entre elas McDonald’s, Ferrari e Apple; veja aqui a lista completa.

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