Descrição de chapéu The New York Times

Conheça a história de vítimas do massacre em escola no Texas

Ataque a tiros deixou 19 crianças e duas adultas mortas na cidade de Uvalde

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The New York Times

Jailah Silguero, 10, era a caçula de quatro irmãos, a "nenê" da família, disse seu pai. Adorava ir à escola e ver as amigas. Ela foi uma das crianças mortas na escola de ensino fundamental Robb, no Texas.

Na noite da segunda (23), véspera do ataque, Jailah disse ao pai, Jacob, 35, que queria ficar em casa na terça. Não foi uma atitude característica dela, e, na manhã seguinte, conta Silguero, a menina parecia ter esquecido o assunto: vestiu-se e foi à escola como todos os dias. "Não consigo acreditar que isso aconteceu com a minha filha, meu bebê", diz ele. "Sempre tive medo de perder um de meus filhos."

Jailah Silguero, uma das vítimas do massacre na escola de ensino fundamental de Uvalde, no Texas
Jailah Silguero, uma das vítimas do massacre na escola de ensino fundamental de Uvalde, no Texas - Arquivo Pessoal/Reuters

Silguero e a família estavam se preparando para ir a uma funerária na quarta-feira (25), depois de passar horas no dia anterior no Centro Cívico SSGT Willie de Leon, esperando por informações sobre Jailah. Funcionários pediram amostras de DNA de familiares. "Depois do teste de DNA eu desconfiei que fosse algo muito ruim", diz. "Uma hora depois, telefonaram para confirmar que ela tinha morrido."

Silguero conta que os irmãos de Jailah estão inconformados. "Eles só querem ter a irmã de volta." A menina é uma das 21 pessoas –19 crianças e duas adultas— mortas no massacre na terça-feira.

Duas primas na mesma classe

Jackie Cazares e Annabelle Rodriguez eram primas e colegas de classe na escola Robb, em Uvalde. Jackie, que fez sua primeira comunhão duas semanas atrás, era a mais comunicativa, segundo Polly Flores, tia da menina e tia-avó de Annabelle. "Ela era extrovertida. Gostava de ser o centro das atenções", diz. "Era minha pequena diva."

Annabelle, uma das melhores alunas da classe, tinha personalidade mais quieta. Mas ela e a prima eram amigas íntimas, tanto que a irmã gêmea de Annabelle, que estudava em casa no sistema de home schooling, "vivia com ciúmes", como conta Flores. "Somos uma família muito unida. Isso é devastador."

Jacinto Cazares mostra foto de sua filha, Jackie Cazares, 10, morta no massacre no Texas
Jacinto Cazares mostra foto de sua filha, Jackie Cazares, 10, morta no massacre no Texas - Jordan Vonderhaar - 25.mai.22/Getty Images/AFP

Uma garotinha que amava suas amigas

Amerie Jo Garza, 10, era comunicativa e gostava de brincar com massinha de modelar. Era "brincalhona, piadista, vivia sorrindo", conta o pai, Alfred Garza 3º, em entrevista rápida pelo telefone.

Ela não falava muito sobre a escola, mas gostava de ficar com as amigas na hora do almoço, no playground e no recreio. "Ela era muito sociável, conversava com todo mundo." A família extensa de Amerie Jo estava reunida na sala quando a polícia texana transmitiu a notícia medonha, na noite de terça-feira. Nos últimos dois anos a família já perdera vários entes queridos, mortos por Covid.

"Finalmente estávamos numa fase melhor, ninguém estava morrendo", diz Garza. "E então isso."

Amerie Jo Garza, uma das vítimas do ataque a tiros em Uvalde, no Texas
Amerie Jo Garza, uma das vítimas do ataque a tiros em Uvalde, no Texas - Arquivo Pessoal/Reuters

Ele trabalha numa revendedora de carros usados em Uvalde. Afirma que estava no horário de almoço quando a mãe de Amerie Jo lhe contou que não podia buscar a filha porque a escola estava fechada. "Fui para lá na mesma hora e encontrei o caos." Garza conta ter visto carros bloqueando as ruas, com pais tentando entrar no prédio para localizar os filhos. Havia viaturas por toda parte.

Num primeiro momento, ele não imaginou que alguém tivesse se ferido. Então ouviu que crianças tinham morrido. Passou horas aguardando notícias da filha. Depois de ser contatado pela polícia, conta, ficou em choque. Voltando para casa, começou a olhar as fotos da menina. "Só então a emoção tomou conta de mim", diz. "Comecei a chorar."

'Ela unia a vizinhança'

Eva Mireles, de quarenta e poucos anos, adorava lecionar na escola Robb, mais recentemente dando aulas para o quarto ano. Os vizinhos afirmam que era uma pessoa bem-humorada e normalmente sorridente. "Ela unia a vizinhança", comenta Javier Garcia, 18. "Eva amava aquelas crianças."

Um primo dela, Joe Costilla, 40, conta que, fora do trabalho, ela gostava de correr maratonas e praticar esportes. "Sempre passávamos tempo junto, íamos a churrascos —era uma pessoa maravilhosa", diz, segurando as lágrimas. Eles tinham planejado se encontrar no feriado do Memorial Day.

A mãe de Costilla, Esperanza, foi à casa dele para consolar seus netos, de 14 e 10 anos, que conheciam Mireles bem. "Eles estão sofrendo muito. Eva era o tipo de professora que todo mundo adorava."

A professora Eva Mireles, morta no ataque a tiros em Uvalde, no Texas
A professora Eva Mireles, morta no ataque a tiros em Uvalde, no Texas - Arquivo Pessoal/Reuters

Audrey Garcia, 48, tem uma filha com Down e diz que Mireles, como professora, transformou a vida dela. Gabby tem hoje 23 anos e diploma do ensino médio, e a docente deu aulas para ela no terceiro ano. A mãe conta que isso se deu dois anos antes de as escolas da região de Uvalde começarem a integrar alunos com deficiência intelectual às salas de aula regulares.

"Foi uma novidade para os professores", diz, destacando que Mireles se envolvia no trabalho de corpo e alma. "Ela usou todos os métodos que conhecia para ajudar Gabby a alcançar seu potencial máximo. Nunca a enxergou como inferior a qualquer outra pessoa da classe."

'Um cara durão'

José Flores, 10, tinha uma camiseta estampada com a frase "homens durões andam de cor-de-rosa". O avô, George Rodriguez, o chamava de "meu pequeno Josesito" e carregava uma foto do garoto na carteira.

Rodriguez, que também perdeu uma sobrinha no massacre, recebeu atendimento psicológico no centro cívico de Uvalde, mas diz que isso não aliviou sua dor. "Eram crianças lindas, inocentes."

José Flores, uma das vítimas do ataque a tiros em uma escola de Uvalde, no Texas
José Flores, uma das vítimas do ataque a tiros em uma escola de Uvalde, no Texas - Arquivo Pessoal/Reuters

Na lista dos melhores alunos

No dia em que foi morto, Xavier López, 10, entrou para a lista dos melhores alunos da sala. Estava ansioso para voltar para casa e compartilhar a notícia com os três irmãos, mas os avós disseram que, em vez disso, ele decidiu ficar na escola mais um pouco para assistir a um filme e comer pipoca com os colegas.

Segundo eles, Xavier adorava jogar beisebol e futebol e tinha uma namorada na escola com quem costumava conversar ao telefone. Diante da casa da família, na quarta, o avô Leonard Sandoval, 54, tentava entender o incompreensível. "Por quê?", questionou. "Por que ele? Por que as crianças?"

Xavier López, morto no massacre em escola na cidade de Uvalde, no Texas
Xavier López, morto no massacre em escola na cidade de Uvalde, no Texas - Arquivo Pessoal/Reuters
Christina Morales , Edgar Sandoval , Campbell Robertson , John Yoon e Jack Healy

Tradução de Clara Allain

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