Grupos que defendem direito ao aborto nos EUA veem aumento nas doações após vazamento

Organizações pretendem gastar ao menos US$ 150 mi nas eleições de meio de mandato

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nova York | Reuters

Após o vazamento do rascunho de um documento que indica uma mudança no entendimento da Suprema Corte dos EUA sobre o aborto, grupos que defendem o direito à interrupção da gravidez observaram um aumento nas doações, enquanto se preparam para a campanha das eleições de meio de mandato.

O acesso ao procedimento é garantido nos EUA pelo caso Roe v. Wade, de 1973, mas a minuta assinada pelo juiz conservador Samuel Alito com data de 10 de fevereiro vai contra essa decisão e a de outro julgamento, de 1992 (Planned Parenthood vs. Casey), que a ratificou. O texto já teria o apoio de outros quatro conservadores na corte, Clarence Thomas, Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett.

Manifestantes a favor do direito ao aborto protestam em frente à Suprema Corte dos EUA, em Washington
Manifestantes a favor do direito ao aborto protestam em frente à Suprema Corte dos EUA, em Washington - Michael A. McCoy/Reuters

Diante disso, doadores se engajaram para ajudar o trabalho de clínicas de aborto e de grupos que auxiliam mulheres a pagar pelo procedimento, além de organizações que lutam pela preservação do direito de interromper a gravidez. Os beneficiários incluem tanto entidades nacionais, que possuem um robusto orçamento, bem como clínicas independentes e grupos regionais que muitas vezes são negligenciados.

A Abortion Care Network, por exemplo, viu sua maior onda de doações para um período de cerca de 36 horas. Entre a noite de segunda e o meio-dia desta quarta (4), mais de 4.000 doadores repassaram aproximadamente US$ 100 mil (R$ 492 mil) para a associação que reúne 150 clínicas independentes.

A verba irá diretamente para os estabelecimentos, para ajudá-los a permanecer abertos mesmo que leis estaduais proíbam o seu funcionamento, disse o diretor-executivo, Nikki Madsen. "Vamos seguir lutando para trazer de volta o acesso ao aborto. Precisamos manter as clínicas abertas nesse meio-tempo."

Nos EUA, mesmo que a Suprema Corte mude o entendimento sobre a interrupção da gravidez, cada estado pode decidir sobre a legalidade da prática e definir regras específicas. Enquanto o aborto segue autorizado em todo o território nacional, por exemplo, Legislativos locais têm endurecido as normas.

É o caso de Oklahoma, que proibiu na noite desta terça a interrupção após a sexta semana de gravidez. O estado é sede do Roe Fund, que repassa verbas para as clínicas realizarem o procedimento e recebeu mais de US$ 50 mil (R$ 246 mil) de 8.000 doadores nesta terça, segundo a tesoureira Janice Massey. "É certamente a maior onda [de doações] que eu já vi em 13 anos neste trabalho", afirmou.

Outro fundo, o Kentucky Health Justice Network, teve um fluxo similar. Desde segunda à noite, mais de mil doadores repassaram cerca de US$ 50 (R$ 246) cada um, segundo o diretor de Operações, Ashley Jacobs.

Na capital, o DC Abortion Fund recebeu mais de US$ 105 mil (R$ 516,6 mil) entre a noite de segunda e a manhã de quarta. A Naral Pro-Choice America, por sua vez, viu apenas um ligeiro aumento de 1,4% nas 24 horas após o vazamento, mas metade dos doadores eram novos, segundo sua porta-voz. A organização sem fins lucrativos recebeu US$ 12,9 milhões (R$ 63,5 milhões) em doações no ano fiscal de 2021.

O aumento nas doações vêm em um momento importante, não apenas pela perspectiva da mudança de entendimento da Suprema Corte, mas também pela previsão de três grupos que defendem o direito ao aborto de gastarem US$ 150 milhões (R$ 738 milhões) nas eleições de meio de mandato em novembro.

Junto à Naral Pro-Choice America, o Planned Parenthood Action Fund e a Emily's List explicaram que o investimento tem como objetivo "responder a ataques sem precedentes contra direitos sexuais, reprodutivos e ao aborto e conscientizar os eleitores sobre os legisladores que são os culpados."

O anúncio foi feito antes mesmo do vazamento, tendo em vista tanto a discussão que já estava prevista para ocorrer na Suprema Corte como as leis estaduais que têm restringido o procedimento.

Os três grupos explicaram que a verba será direcionada principalmente para estados-pêndulo —que oscilam entre republicanos e democratas a cada eleição— e a aqueles que podem integrar os esforços para manter o acesso ao aborto em todo o país, incluindo Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Califórnia.

"Chegamos a um momento de crise para o acesso ao aborto porque os políticos conservadores se engajaram em um esforço coordenado para controlar nossos corpos e o nosso futuro", disse Alexis McGill Johnson, presidente da Planned Parenthood, em comunicado.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.