O número de mortes por overdose de drogas nos Estados Unidos bateu recorde no ano passado, segundo dados apresentados pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês) nesta quarta-feira (11).
Em 2021, foram 107.622 vítimas, um aumento de 15% em relação ao ano anterior, quando 93.655 pessoas morreram em decorrência do abuso de substâncias químicas.
A pandemia de Covid-19, o uso de opioides sintéticos e o acesso online a medicamentos falsificados ajudam a explicar o agravamento de uma crise que só piora há duas décadas —de 2015 para cá o número de vítimas de overdose no país dobrou.
Em novembro, um relatório preliminar do CDC já havia indicado a possibilidade do recorde, apontando 100.306 mortes entre abril de 2020 e abril de 2021 —aumento de 28,6% em relação ao mesmo período de 12 meses anterior, quando 78 mil americanos haviam sido vítimas do abuso de substâncias químicas.
O total de vítimas por overdose é maior do que a soma de mortes por arma de fogo e em acidentes de trânsito. Só o fentanil, opioide sintético desenvolvido para tratar dor crônica, foi responsável por mais da metade das mortes: 71.238. Em seguida, vêm a metanfetamina, a cocaína e os opioides naturais, como heroína e morfina.
O fentanil, que pode chegar a ser 50 vezes mais potente que a heroína e 100 vezes mais que a morfina, muitas vezes é usado em conjunto com outras drogas que intensificam seus efeitos. Em 2016, a ingestão desregrada de fentanil levou à morte o cantor americano Prince, aos 57 anos.
A substância é vendida apenas com receita médica, mas autoridades americanas têm divulgado apreensões recordes de medicamentos falsificados procedentes do México.
Em abril, o DEA, órgão de repressão e controle de narcóticos, advertiu para o aumento de casos de overdose de drogas misturadas com a substância.
"O fentanil é altamente viciante, está presente em todos os 50 estados e os traficantes o estão misturando cada vez mais com outros tipos de droga —em pó ou em comprimidos—, como um esforço para aumentar o vício e atrair compradores recorrentes", afirmou o órgão.
No mesmo mês, o governo de Joe Biden anunciou uma estratégia nacional para enfrentar a epidemia do abuso de drogas no país. A ideia é expandir o acesso a tratamentos, como medicamentos à base de naloxona, testes reagentes de drogas e programas de fornecimento de seringas.
O governo também solicitou um aumento no orçamento para as agências antidrogas e de controle de fronteiras para conter o fluxo de drogas ilegais no país.
Em 2020, entre as 41,1 milhões de pessoas que precisavam de tratamento por transtornos relacionados ao uso de substâncias, apenas 2,7 milhões (6,5%) receberam ajuda em um centro especializado, de acordo com o CDC.
Por ocasião da divulgação do relatório preliminar, em novembro, autoridades já haviam chamado a atenção para a dimensão do problema. "É hora de enfrentar o fato de que a crise está piorando. Precisamos colocar todos os nossos esforços nisso", disse o secretário de Saúde dos EUA, Xavier Becerra, na época.
Rahul Gupta, chefe do escritório de políticas de controle de drogas da Casa Branca, afirmou que o número de vítimas é inaceitável. "Uma overdose é um pedido de ajuda", disse ele. "Para muitas pessoas, esse pedido não tem resposta. Isso requer todo um conjunto de respostas do governo e de estratégias baseadas em evidências."
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