Novas fotos em festa colocam Boris Johnson de volta ao furacão do 'partygate'

Canal de TV revela imagens de premiê britânico com taça na mão em celebração na época de lockdown na Inglaterra

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Londres | Reuters

A revelação de mais fotografias do premiê Boris Johnson, desta vez bebendo em uma festa de despedida em Downing Street, sede do governo britânico, provocaram novas acusações da oposição de que o político quebrou as regras que ele mesmo impôs para evitar a disseminação da Covid no Reino Unido.

As imagens, obtidas pelo canal ITV News, foram feitas durante uma reunião em homenagem ao diretor de comunicações Lee Cain, que deixou a gestão do primeiro-ministro em novembro de 2020. As fotos, reveladas nesta segunda (23), mostram Boris fazendo um brinde enquanto segura uma taça.

À época, reuniões com pessoas fora de casa estavam proibidas, uma vez que a Inglaterra foi colocada em lockdown em razão do aumento de casos de coronavírus.

O premiê britânico, Boris Johnson, faz brinde durante festa em Downing Street, em Londres
O premiê britânico, Boris Johnson, faz brinde durante festa em Downing Street, em Londres - 13.nov.20/ITV News via Reuters

A agência de notícias Reuters não conseguiu verificar de maneira independente quando e onde as imagens foram feitas. O gabinete do premiê, por sua vez, disse que a polícia teve acesso a todas as informações na investigação que realizou, incluindo fotografias.

Boris não foi multado pela participação no evento de novembro de 2020, mas recebeu uma notificação devido a uma festa que marcou seu aniversário, em junho daquele ano —evento no qual, diz ele, permaneceu por menos de dez minutos.

Na ocasião, o primeiro-ministro pediu desculpas pelo que chamou de erro, mas se negou a renunciar.

Ao ser questionada sobre o conhecimento em relação às imagens da festa de despedida de Cain, a Polícia Metropolitana de Londres fez referência a um comunicado divulgado na semana passada tratando do fim da apuração. O gabinete de Boris, que vem tocando uma investigação independente, não quis se pronunciar sobre o caso.

A expectativa é a de que o governo divulgue nesta semana o aguardado relatório conduzido pela servidora Sue Gray sobre os eventos ocorridos em Downing Street durante o período de lockdown no país. Até agora, a polícia emitiu 126 multas em conexão com as festas na sede da administração britânica.

Segundo reportagem do jornal The Times, Boris teria pressionado a servidora a "lançar o relatório em uma reunião secreta". O premiê ainda teria questionado o sentido da publicação do documento, que deve incluir detalhes de eventos que não foram apurados pelos agentes. O caso tem o potencial de gerar mais críticas ao líder do Reino Unido, que há meses está sob pressão em razão dos escândalos e das derrotas de seu Partido Conservador nas eleições regionais.

As imagens reveladas nesta segunda-feira parecem enfraquecer as justificativas de Boris. Ao ser questionado no Parlamento em dezembro sobre os relatos de uma festa em Downing Street no mês anterior, o premiê disse ter certeza que "as regras foram seguidas o tempo todo".

Com o agravamento da crise política, em janeiro ele pediu pela primeira vez desculpas ao Parlamento por participar de um dos encontros durante o lockdown. O premiê afirmou, à época, ter acreditado que se tratava de um evento de trabalho —já que o jardim da residência oficial funciona, segundo ele, como extensão do escritório.

Depois, se desculpou também com a rainha Elizabeth 2ª por causa de uma das festas de sua equipe, realizada na véspera do funeral do marido dela, o príncipe Philip. Segundo o britânico Telegraph, funcionários do gabinete quebraram regras do confinamento, beberam álcool em abundância e dançaram até tarde na despedida do diretor de comunicação James Slack e de um fotógrafo.

Angela Rayner, vice-líder do Partido Trabalhista, de oposição, acusou nesta segunda o primeiro-ministro de mentir. "Boris Johnson afirmou repetidamente que não sabia nada sobre desrespeitos à lei —agora não há dúvidas de que ele mentiu", afirmou. "Ele fez as regras e então as quebrou."

Boris enfrenta pedidos de renúncia também de membros do próprio partido devido ao "partygate". O ex-líder do Partido Conservador Mark Harper, por exemplo, escreveu em suas redes sociais que não acha mais que o político "seja digno do cargo que ocupa".

De acordo com o código parlamentar, enganar conscientemente os legisladores é uma ofensa que deve resultar em renúncia. Pelo sistema parlamentar britânico, Boris também poderia ser removido por meio de uma moção de desconfiança. Seria necessário que ao menos 54 dos 360 parlamentares conservadores enviassem um pedido a um órgão do partido chamado Comitê de 1922. O número dos que já enviaram essa carta é conhecido apenas pelo presidente do colegiado, mas, de acordo com a imprensa britânica, já chegou perto dos 30, no auge do escândalo —alguns teriam retirado sua assinatura depois.

A série recente de escândalos envolvendo o premiê começou no final do ano passado, quando veio à tona outro evento realizado em Downing Street durante o Natal de 2020, num momento em que celebrações presenciais estavam proibidas. Segundo a imprensa britânica, Boris organizou um "quiz natalino" na residência oficial. Imagens mostram o premiê usando um chapéu de Papai Noel e lendo perguntas no meio de funcionários.

No mês passado, o político, sua esposa, Carrie, e seu secretário de Finanças, Rishi Sunak, foram multados. O premiê disse ter acatado a decisão.

Em janeiro, relatório da investigação interna que apurou os eventos realizados em Downing Street concluiu, sem mencionar Boris diretamente, que houve "falhas de liderança e de julgamento" por diferentes membros do governo. ​A Scotland Yard investigou ao menos 12 festas no local —o líder britânico participou de alguns dos encontros.

Diante de publicações que contradisseram versões de Boris, legisladores aprovaram uma investigação para apurar se o premiê mentiu deliberadamente ao Parlamento.

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