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Partido Comunista Chinês está mais repressivo em casa e mais agressivo no exterior, diz Blinken

Secretário de Estado prometeu novas barreiras contra 'roubo' de conhecimento técnico pelos chineses

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Washington

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, fez nesta quinta (26) um discurso duro contra a China, no qual acusou o país asiático de agir de modo desleal com outras nações e de ampliar a repressão interna.

"Sob o presidente Xi [Jinping], o Partido Comunista se tornou mais repressivo em casa e mais agressivo no exterior. Vemos que Pequim tem aperfeiçoado a vigilância em massa e exportado essa tecnologia para mais de 80 países", afirmou Blinken, em pronunciamento na Universidade George Washington.

O secretário de Estado, Antony Blinken, durante discurso na Universidade George Washington - Alex Wong/AFP

No discurso, que teve a política dos EUA em relação à China como tema, o chefe da diplomacia americana disse que a estratégia de seu país se concentra em três pontos: fortalecimento para competir em melhor nível com o rival asiático, criação de mais parcerias com outros países, especialmente os da Ásia, e esforços para impedir que a China tire vantagens desleais das regras americanas e internacionais.

A China não havia comentado o discurso até a publicação deste texto. O jornal Global Times, ligado ao Partido Comunista, publicou uma reportagem classificando a fala do americano de "tediosa". No texto, especialistas ouvidos pelo jornal avaliam que os EUA agem com hipocrisia ao usar palavras bonitas enquanto mantêm práticas erradas, como a de colocar o país em posição de vilã, com argumentos falsos.

Blinken começou a fala, de 45 minutos, com elogios sobre a capacidade de crescimento chinês e as possibilidades de cooperação. Também disse que os EUA não querem uma nova Guerra Fria e, por isso, buscam manter a paz com Pequim. Porém, logo partiu para as críticas, como a de que a atuação chinesa no exterior coloca em risco o sistema global criado após a Segunda Guerra, que inclui órgãos como a ONU.

Para ele, a China é o desafio mais sério e de longo prazo a esse modelo. "É o único país com a intenção de reformar a ordem internacional e com poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazer isso", afirmou. O secretário disse ainda que os EUA querem mudanças no sistema internacional, para adaptar as regras aos tempos atuais, mas sem deixar de lado valores como democracia e direitos humanos.

"[A China] se coloca como defensora da soberania e da integridade territorial enquanto fica ao lado de governos que as violam. Mesmo quando a Rússia estava claramente se mobilizando para invadir a Ucrânia, os presidentes Xi e [Vladimir] Putin declararam ter uma amizade 'sem limites'", acrescentou.

Ainda no campo externo, afirmou que a China usa seu poder econômico para pressionar outros países a se alinharem a ela, citando o caso da Austrália, alvo de novas tarifas comerciais e de barreiras ao turismo chinês depois de o país defender mais investigações sobre a origem do coronavírus.

Ao falar sobre repressão interna, Blinken acusou a China de manter mais de 1 milhão de pessoas em campos de detenção em Xinjiang, onde a maioria da população é muçulmana, de fazer campanha brutal contra o Tibete e de impor medidas antidemocráticas em Hong Kong. "Pequim insiste que são questões internas, que os outros não têm direito de mencionar. Isso é errado. Essas ações vão contra a Carta das Nações Unidas e a Declaração Internacional dos Direitos Humanos", disse.

Sobre Taiwan, que Pequim considera uma província rebelde, Blinken afirmou que a posição ambígua dos EUA segue a mesma: defender o conceito de uma só China ao mesmo tempo que ajuda a ilha a fortalecer sua defesa militar e reforça a atuação internacional do governo em Taipé. "Nos opomos a qualquer mudança unilateral no status quo e não apoiamos a independência de Taiwan", ressaltou.

Na segunda-feira (23), durante viagem à Ásia, o presidente Joe Biden afirmou que os EUA usariam a força para defender Taiwan caso o território fosse invadido pela China. Pouco depois, a Casa Branca buscou minimizar a declaração e reforçar que a posição americana sobre o tema seguia igual.

Na área econômica, o secretário fez diversos ataques às ações comerciais do rival. Acusou o país de concorrência desleal, por práticas como subsídio estatal a empresas e desrespeito a direitos trabalhistas. Ofereceu como exemplo fabricantes chineses que vendem aço a preços baixos por não terem a obrigação de obter lucro. Assim, teriam dominado o mercado e quebrado indústrias do setor de vários países.

Blinken disse ainda que a China se aproveita da abertura ocidental para espionar e roubar conhecimento técnico. "Empresas americanas que operam na China têm sido sujeitas a transferências obrigatórias de tecnologia, enquanto empresas chinesas na América têm sido protegidas pela lei. Filmes chineses podem ser vendidos livremente nos EUA, sem nenhuma censura. Mas Pequim limita estritamente o número de filmes estrangeiros no mercado chinês, e os que são permitidos estão sujeitos à censura pesada. Essa falta de reciprocidade é inaceitável e insustentável", afirmou.

Como resposta, disse que os EUA continuarão a combater subsídios e barreiras comerciais, mas não anunciou novas medidas. "Estamos afiando nossas ferramentas, que incluem controles novos e mais fortes sobre exportação, para garantir que inovações importantes não terminem em mãos erradas." A produção de baterias para carros elétricos e painéis de energia solar foi citada como uma área crítica.

O secretário também defendeu mudar as cadeias de produção, para trazer indústrias de volta ao solo americano e de outros países parceiros, de modo a diminuir a dependência chinesa. A relação é complexa porque, apesar das diferenças políticas, os países possuem economias muito integradas, em que empresas americanas aproveitam as indústrias chinesas para produzir itens a preços mais baixos.

Durante o governo do presidente Donald Trump (2017-21), os EUA adotaram uma postura agressiva em relação à China. O republicano, que acusava o país asiático de tirar empregos de americanos, aumentou tarifas de importação e buscou ampliar barreiras contra produtos chineses. A guerra comercial foi contida após um acordo entre os dois países, no começo de 2020.

Em seu mandato, Biden manteve a retórica anti-China. Um novo distanciamento entre Washington e Pequim se deu neste ano, com a Guerra da Ucrânia. Os americanos buscaram parcerias para ajudar Kiev, enquanto os líderes chineses procuraram se abster ou ficar contra medidas internacionais contra Moscou.

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