Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Após oposição, Turquia discute com Finlândia e Suécia adesão à Otan

Chanceleres falarão sobre divergências na ampliação da aliança; Putin e presidente finlandês falaram por telefone mais cedo

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São Paulo

Após sinalizar que vetaria o pedido de entrada da Finlândia e da Suécia na Otan, o governo da Turquia enviou seu chanceler a Berlim neste sábado (14), para discutir com os colegas dos dois países nórdicos a possibilidade de adesão deles à aliança militar ocidental.

Helsinque e Estocolmo pediram para ingressar no grupo de 30 nações em resposta ao que consideram uma ameaça à sua segurança devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, o que atraiu promessas de retaliação por parte de Moscou e objeções da Turquia, segundo maior Exército da aliança. Qualquer ampliação da Otan precisa do apoio unânime de seus membros.

O chanceler da Turquia, Mevlut Cavusoglu, chega para encontro da Otan em Berlim - John Macdougall/AFP

Apesar de ter criticado a invasão da Rússia à Ucrânia, Ancara é próxima do governo de Vladimir Putin e se opôs a sanções contra Moscou.

Na sexta-feira (13), o presidente Recep Tayyip Erdogan disse que não seria possível apoiar a ampliação da aliança porque a Finlândia e a Suécia eram "lar de muitas organizações terroristas". Erdogan tem criticado esses países há anos por receberem refugiados perseguidos por Ancara, pertencentes a organizações que o governo turco considera terroristas.

Ao chegar a Berlim, neste sábado, o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, disse a repórteres que considera "inaceitável e ultrajante" que os possíveis novos membros da Otan apoiem o grupo militante curdo PKK.

"O problema é que esses dois países estão apoiando e se engajando abertamente com o PKK e o YPG. São organizações terroristas que atacam nossas tropas todos os dias", disse Cavusoglu.

"A grande maioria do povo turco é contra a adesão desses países e está nos pedindo para bloquear essa adesão", completou.

O ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavesto, afirmou estar confiante de que uma solução será encontrada, enquanto a chanceler da Suécia, Ann Linde, disse a uma agência de notícias de seu país que tentaria resolver quaisquer mal-entendidos.

Mais cedo, o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, teve uma conversa telefônica "direta e sem rodeios" com Putin. Em um comunicado em que afirma que ligou para o presidente russo, Niinistö diz que "correu tudo bem" e que "evitar tensões foi considerado algo importante".

Foto de arquivo mostra o presidente russo, Vladimir Putin (esq.), cumprimentando o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, em um encontro em 2017 - Alexander Nemenov - 27.jul.17/AFP

Já o Kremlin foi mais direto no relato sobre o telefonema, afirmando que Putin disse a Niinistö que acabar com a neutralidade militar da Finlândia seria um "erro". "Vladimir Putin sublinhou que acabar com a política tradicional de neutralidade militar seria um erro, pois não há ameaça à segurança da Finlândia", afirma o comunicado.

Em entrevista à Reuters, o porta-voz de Erdogan disse que seu país não fechou a porta para a entrada da Suécia e da Finlândia na Otan. "Não estamos fechando a porta. Mas estamos basicamente levantando essa questão como uma questão de segurança nacional para a Turquia", disse Ibrahim Kalin, que também é o principal conselheiro de política externa do presidente, à Reuters, em entrevista em Istambul.

Kalin afirmou que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) –designado como organização terrorista pela Turquia, Estados Unidos e União Europeia– está arrecadando fundos e recrutando integrantes na Europa e que sua presença é "forte, aberta e reconhecida" particularmente na Suécia.

"O que deve ser feito é claro: eles precisam parar de permitir que estabelecimentos, atividades, organizações, indivíduos e outros tipos de presença do PKK existam nesses países", disse Kalin.

"A adesão à Otan é sempre um processo. Vamos ver como as coisas vão. Mas este é o primeiro ponto sobre o qual queremos chamar a atenção de todos os aliados, bem como das autoridades suecas", acrescentou. "É claro que queremos ter uma discussão, uma negociação com colegas suecos."

"Se eles [Finlândia e Suécia] têm um público preocupado com sua própria segurança nacional, nós temos um público igualmente preocupado com nossa própria segurança", disse ele. "Temos que ver isso de um ponto de vista mútuo."

Kalin afirma que o descontentamento de Putin com a ampliação da Otan não é um fator na posição da Turquia.

Rússia corta envio de energia para Finlândia

Em meio à crise, a Finlândia vai ficar sem a energia elétrica fornecida a ela pela Rússia. As exportações para o país vizinho foram suspensas na madrugada de sexta-feira (13) para sábado (14) por falta de pagamento, segundo a empresa responsável, a RAO Nordic –que tem 100% de capital russo.

A rede continuou funcionando graças a importações da Suécia, de acordo com informações divulgadas em tempo real pela Fingrid, operadora finlandesa, que afirmou na sexta-feira que poderia prescindir da energia elétrica russa.

A RAO Nordic, com sede em Helsinque, é uma filial da empresa russa InterRAO. Na sexta-feira, a companhia disse que não recebe pagamento da Finlândia desde 6 de maio.

Não foi revelado se os problemas de pagamentos estão relacionados com as sanções econômicas europeias adotadas contra a Rússia após a invasão da Ucrânia.

Enquanto isso, ministros das Relações Exteriores do G7 prometeram ampliar as sanções contra Moscou para "setores nos quais a Rússia é particularmente dependente" e pediu ao governo da China para "não minar" as medidas punitivas.

Reunidos na Alemanha neste sábado, os ministros das sete nações mais ricas do planeta disseram que o grupo nunca reconhecerá "as fronteiras que a Rússia deseja impor à força" na Guerra da Ucrânia.

"Vamos manter nosso compromisso de apoiar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, incluindo a Crimeia", afirmaram, em um comunicado.

Os sete países (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) também condenaram "as ameaças irresponsáveis do uso de armas químicas, biológicas ou nucleares" por parte do presidente russo Vladimir Putin.

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