Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Putin avança no Donbass e volta a conversar com Macron e Scholz

Moscou diz ter capturado Liman, centro ferroviário próximo a principal alvo no leste da Ucrânia

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Kramatorsk | Reuters e AFP

Forças russas atacaram neste sábado (28) a maior cidade do Donbass ainda sob domínio da Ucrânia, Sievierodonetsk, depois de capturarem Liman, um centro ferroviário próximo, de acordo com o Kremlin.

Após dias de combate, o Ministério da Defesa russo afirmou que Liman está sob total controle de Moscou —uma vitória que ajudaria a preparar o terreno para a próxima fase da ofensiva no leste ucraniano.

Separatistas pró-Rússia da autoproclamada república popular de Donetsk já tinham dito na sexta que haviam capturado a cidade, localizada a oeste de Sievierodonetsk, foco principal da ofensiva moscovita.

Mulher dentro de sua casa destruída na cidade de Bakhmut, no Donbass - Aris Messinis - 22.mai.22/AFP

O próprio governo ucraniano admitiu que os russos tinham tomado grande parte de Liman, apesar de, segundo Kiev, forças do país ainda bloquearem um avanço para Sloviansk, 20 km a sudoeste.

"A situação no Donbass é muito, muito difícil", afirmou o presidente Volodimir Zelenski. "Protegemos a nossa terra e fazemos tudo para reforçar" a defesa da região, acrescentou.

O governador de Lugansk, que junto com Donetsk compõe o Donbass, havia dito na sexta que tropas russas entraram em Sievierodonetsk. Por outro lado, as Forças Armadas da Ucrânia, ainda que tenham confirmado os ataques da Rússia na área da cidade, disseram que as ações não tiveram sucesso.

O comunicado ucraniano afirma que suas tropas repeliram oito ataques em Donetsk e Lugansk nas últimas 24 h, mas que diversas ações russas atingiram infraestrutura e comunidades próximas a Kharkiv.

Também neste sábado, a Rússia disse ter atacado com mísseis postos de comando da Ucrânia em Bakhmut e Soledar. Ambas as cidades estão perto de uma estrada importante que vai a sudoeste de Lisichansk e Sievierodonetsk. De acordo com o Kremlin, as forças de Moscou destruíram cinco postos de comando e de observação, atingiram áreas em que soldados e equipamentos estavam localizados e acabaram com depósitos de munições próximos aos municípios de Nirkove, Bakhmut e Mironivka.

A agência de notícias Reuters não conseguiu confirmar de maneira independente as afirmações russas.

Os avanços russos confirmam a mudança no ímpeto da guerra. Embora as forças que invadiram a Ucrânia em fevereiro não tenham conseguido tomar Kiev, elas fazem agora avanços lentos mas constantes no Donbass, grande parte do qual já era controlado por separatistas pró-Moscou antes da guerra.

"Se a Rússia conseguir controlar essas áreas, isso provavelmente seria visto pelo Kremlin como uma conquista política substantiva e seria exibido ao povo russo como uma justificativa para a invasão", afirmou o Ministério da Defesa britânico neste sábado, em seu relatório diário de inteligência.

Enquanto intensifica a ofensiva no Donbass, a Rússia fez um novo teste de arma hipersônica neste sábado, anunciando ter disparado com sucesso um míssil de cruzeiro Zircon. ​O armamento atingiu um alvo a cerca de 1.000 quilômetros, nas águas do mar Branco, no Ártico, afirmou o Ministério da Defesa, e deve equipar os navios e os submarinos da frota russa.

No campo diplomático, o presidente russo, Vladimir Putin, voltou a dialogar com Emmanuel Macron, presidente da França, e Olaf Scholz, premiê da Alemanha. Na conversa, realizada a pedido dos dois líderes ocidentais, segundo o governo alemão, o chefe do Kremlin se disse disposto a discutir a retomada das exportações de grãos ucranianos desde que sanções contra a Rússia fossem retiradas.

Putin também disse que se dispõe a aumentar a exportação de fertilizantes e de produtos agrícolas caso as punições a Moscou sejam suspensas —uma demanda que ele já havia apresentado em conversas com os líderes de Itália e Áustria nos últimos dias e reforçada em outras declarações de autoridades russas.

A Rússia e a Ucrânia respondem por quase um terço da oferta global de trigo. Moscou também é um importante exportador de fertilizantes, e Kiev, de milho e óleo de girassol. Os países ocidentais acusam os russos pela crise alimentar provocada pela guerra, que elevou os preços de grãos, do óleo de cozinha, de combustíveis e de fertilizantes. O Kremlin, por sua vez, culpa as sanções ocidentais pela situação.

Segundo a Presidência francesa, os dois líderes ocidentais também pediram que Moscou liberte os 2.500 combatentes ucranianos feitos prisioneiros após passarem semanas escondidos na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol. O apoio europeu a esses combatentes é alvo de críticas, porque grande parte deles integra o batalhão Azov, milícia de ideologia neonazista que foi incorporada à Guarda Nacional de Kiev.

O gabinete de Scholz afirmou que Putin se comprometeu "a tratar os combatentes capturados de acordo com o direito internacional humanitário, em particular a Convenção de Genebra, e a garantir acesso irrestrito ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha".

O líder do Kremlin afirmou ainda que está disposto a retomar o diálogo, cuja responsabilidade pelo status atual ele direcionou a Kiev. Já Macron e Scholz "insistiram em um cessar-fogo imediato e na retirada das tropas russas" e "instaram o presidente russo a fazer negociações diretas e sérias com o presidente ucraniano, para encontrar uma solução diplomática para o conflito", segundo o governo alemão.

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