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Trump brinca de rei e repete 'estilo Twitter' em rede social própria

Truth Social, plataforma criada pelo ex-presidente, reúne memes e ataques às eleições para atrair apoiadores de direita

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Washington

"Hillary Clinton deveria ser presa." "A votação na Pensilvânia foi roubada." "Johnny Depp e Amber Heard podem fazer as pazes e reatarem?" Posts assim são frequentes na página do ex-presidente Donald Trump na plataforma Truth Social, da qual ele é um dos donos.

A nova plataforma foi lançada em fevereiro, mas apenas como aplicativo para iPhone —e com lista de espera. Já a versão acessível em qualquer navegador só foi disponibilizada na última quarta (18), dois meses depois da previsão inicial. Ainda não há app para celulares com o sistema Android.

Montagem com rosto de Trump em corpo do personagem Conan, com a frase 'o grande rei Maga'
Montagem com rosto de Trump em corpo do personagem Conan, com a frase 'o grande rei Maga' - Reprodução

Trump investiu em uma plataforma própria após ser banido das principais redes sociais, como Twitter e Facebook, por postar mentiras e incitar violência na esteira da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, quando apoiadores do republicano tentaram reverter a derrota dele à força.

Na Truth Social, Trump tem 3 milhões de seguidores, número bem menor do que os 88 milhões que somava no Twitter quando foi banido.

Após baixar o aplicativo, o usuário passa a receber alertas sobre comentários do ex-presidente, mesmo que não tenha solicitado. Chegam notificações como "BREAKING: Trump responde à notícia
de que [Elon] Musk pode recuar da compra do Twitter".

A aparência da rede, aliás, lembra a da plataforma que o homem mais rico do mundo diz querer comprar, com posts curtos, limitados a 500 caracteres, e fotos. Não há lista de tópicos que estão em alta nem a opção de enviar mensagens privadas. O que for publicado fica visível apenas para usuários registrados.

O cadastro é rápido: basta informar telefone e email, confirmar que eles são válidos e, na sequência, escolher um nome de usuário. Depois, aparecem sugestões de perfis para seguir, sendo que o primeiro da lista, surpresa!, é o de Trump. Ao aceitar todas as indicações, surge um feed repleto de apoiadores do ex-presidente, teorias da conspiração e piadas de cunho político.

Na sexta (20), por exemplo, havia destaque para posts sobre "2.000 Mules", documentário que alega ter provas sobre fraudes na eleição presidencial de 2020, na qual Trump foi derrotado. Checagens feitas por agências de notícias como a Associated Press e jornais como The Washington Post afirmam que as denúncias do filme não se sustentam.

"Qualquer um que veja o grande novo documentário ‘2.000 Mules’ e que não acredite que a eleição presidencial de 2020 foi manipulada e roubada é idiota, muito corrupto ou estúpido", postou Trump.

O ex-presidente mantém o estilo que desfilava no Twitter. Além de questionar a lisura e o resultado das eleições, faz comentários ácidos sobre temas do dia, ataca adversários e republica notícias e memes —MUITAS VEZES EM CAIXA ALTA, como no passado.

Trump tem repostado materiais que se referem a ele como "o grande rei MAGA", referência a "Make America Great Again", faça a América grande outra vez, o slogan de suas campanhas. O presidente Joe Biden o chamou dessa maneira em um discurso recente, para ironizá-lo, mas o rival parece ter curtido o apelido.

Em uma das montagens, o republicano aparece como Conan, herói dos quadrinhos e de um filme dos anos 1980, com espada na mão, peito musculoso à mostra e o título "o grande rei MAGA". Em outra publicação, exalta o livro infantil "The Plot Against the King" (o plano contra o rei), conto de fadas em que a personagem Hillary Queenton, ou seja, Hillary Clinton, tenta destruir a democracia, a ser salva pelo rei MAGA.

Memes com Trump são comuns em vários perfis. Uma das páginas sugeridas no cadastro, The Babylon Bee, faz paródias do noticiário. Há tiradas como "Elon Musk troca som de buzinas de todos os carros da Tesla por ‘Let’s Go Brandon’". A frase virou uma maneira de dizer "dane-se Biden" depois de um repórter de TV confundir um xingamento ao democrata com torcida para um piloto de corrida.

O ex-presidente também usa a conta para apoiar candidatos locais nas chamadas midterms, as eleições que renovarão o Congresso e 36 governos estaduais em novembro. Há posts como "Dr. Oz será um grande senador para o povo da Pensilvânia. Ele vencerá a eleição contra a Esquerda Lunática Radical".

Trump pode concorrer à eleição de 2024 e busca formas de manter seu poder sobre o Partido Republicano e o contato com os eleitores. Outra plataforma bastante usada é o Telegram, na qual um canal dedicado ao ex-presidente, sem selo de verificação, reúne 965 mil seguidores.

Embora a Truth se apresente como uma rede que encoraja "uma conversa global, honesta, aberta e livre, sem discriminação por ideologia política", a reportagem não encontrou contas que representem visões de fora da direita, como de políticos democratas —não por censura, mas talvez por falta de interesse.

Veículos como The New York Times e CNN, alvos corriqueiros de Trump, tampouco estão lá. Já mídias ligadas à direita, como OAN e The Epoch Times, criaram contas, assim como o apresentador Sean Hannity, da Fox News, que soma 1 milhão de seguidores.

Mas outros nomes de protagonismo na direita americana, como o apresentador Tucker Carlson e o governador da Flórida, Ron DeSantis, não possuem contas oficiais na Truth. Vice-presidente na gestão de Trump, Mike Pence também não aderiu.

A TMTG, dona da plataforma, foi criada pelo ex-presidente em parceria com a DWAC (Digital World Acquisition Corp), fundada em Miami no final de 2020. As duas se fundiram e, em dezembro, anunciaram um acordo para receber mais de US$ 1 bilhão em investimentos, que se juntariam aos cerca de US$ 300 milhões levantados pela Digital World ao longo de 2021 com a venda de ações.

A TMTG tem planos ambiciosos. Além da Truth, quer criar um serviço de streaming para concorrer com Netflix e Disney+ e um canal de notícias. A longo prazo, quer entrar também no mercado de servidores em nuvem, para disputar mercado com Amazon e Google.

As falhas no lançamento da rede social, porém, colocam dúvidas sobre a capacidade de realizar esses planos. Dois executivos da empresa deixaram seus cargos em abril devido aos erros internos. E, de acordo com a revista Rolling Stone, Trump teria se queixado de que o Google estaria dificultando o lançamento do app da Truth para Android, sistema que tem cerca de 40% do mercado de smartphones dos EUA.

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