Descrição de chapéu União Europeia

Austrália faz acordo de US$ 580 milhões com França por crise dos submarinos

Cancelamento de contrato de Camberra com Paris levou a crise diplomática no ano passado

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Wellington (Nova Zelândia) | Reuters

O​ recém-eleito premiê australiano Anthony Albanese anunciou, na manhã deste sábado (11), ainda noite de sexta no Brasil, que o país chegou a um acordo com o estaleiro francês Naval Group por causa do rompimento, em setembro, de um contrato bilionário para a construção de submarinos de propulsão nuclear.

À época, Camberra enterrou a compra com Paris, acertada inicialmente em 2016, depois de firmar um pacto militar com Estados Unidos e Reino Unido para o desenvolvimento dessas embarcações. Agora, o país acertou um pagamento de US$ 583 milhões como forma de compensação.

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, durante entrevista coletiva em Sydney - Loren Elliott - 10.jun.22/Reuters

"É um acordo justo e equitativo", disse Albanese em entrevista coletiva. Segundo ele, Emmanuel Macron —que também passou por eleições recentemente— participou das conversas que culminaram no acerto. O australiano agradeceu ao líder francês pela maneira cordial pelas quais as relações entre os dois países estão se restabelecendo.

Na época do anúncio do pacto com americanos e britânicos, que ficou conhecido pela marca Aukus, uma crise diplomática foi disparada, com Paris chamando os embaixadores em Washington e Camberra para consultas. No jargão diplomático, o movimento significa forte insatisfação com o país que abriga os diplomatas.

O então chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, classificou a ação de "punhalada nas costas" e disse que Joe Biden se parecia com o antecessor, Donald Trump, por tomar uma decisão "unilateral, brutal e imprevisível".

O pacto do Aukus integrou uma iniciativa americana de buscar reforçar seus aliados na disputa contra a China no Indo-Pacífico. Em entrevista na ocasião, Joe Biden, Boris Johnson e o então premiê australiano Scott Morrison —derrotado por Albanese no pleito do mês passado— disseram que o programa para fabricar as embarcações na ilha-continente seria desenvolvido em um ano e meio. Ele também previa cooperação nos campos de cibersegurança, inteligência artificial e informações.

A aproximação foi mais um indício de como Biden decidiu acelerar a estruturação de um arcabouço visando a conter estrategicamente Pequim em seu quintal geopolítico, os mares por onde passam exportações e importações do país. A China, aliás, pediu que os rivais "sacudissem a mentalidade de Guerra Fria" após o anúncio de setembro.

Crise mesmo, porém, veio com a França. O acordo anterior com Paris previa fabricar na Austrália 12 modelos de propulsão diesel-elétrica franceses, derivados do desenho nuclear Barracuda —o Naval Group é o mesmo que fabrica no Brasil quatro modelos convencionais e, no futuro, um nuclear em acordo com a Marinha.

Cancelá-lo significou o fim de um negócio de cifras superiores a US$ 40 bilhões, segundo a mídia do país, e um golpe para as ambições francesas de fortalecer a presença no Indo-Pacífico. A Marinha do país é a única da União Europeia com presença relevante na região, por causa dos territórios ultramarinos da Nova Caledônia e da Polinésia Francesa.

Embarcações de propulsão nuclear, que podem permanecer submersas por muito tempo e agir em longas distâncias, mudariam o padrão de jogo da Austrália, permitindo patrulhas, por exemplo, no mar do Sul da China. Hoje só os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França), além da Índia, operam modelos de submarino do tipo —todos têm também barcos com capacidade de lançar mísseis balísticos armados com ogivas atômicas.

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