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Macron perde maioria absoluta no Legislativo da França, e ultradireita atinge melhor marca

Presidente terá de forjar alianças para garantir governabilidade após pleito descrito como 'tsunami' e 'choque democrático'

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A coalizão do presidente Emmanuel Macron conquistou a maior parte das cadeiras do Legislativo da França no segundo turno das eleições, realizado neste domingo (19), mas não a maioria absoluta almejada para que pudesse governar sem ter de forjar mais alianças.

Dados do Ministério do Interior mostram que a aliança Juntos, do centrista, reuniu 246 das 577 cadeiras —seria necessário conquistar 289 para ter a maioria absoluta. Em segundo lugar, ficou a aliança de partidos de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), que, com 142 assentos, torna-se a principal força de oposição.

O presidente da França, Emmanuel Macron, em meio a apoiadores após votar no segundo turno das eleições legislativas - Pascal Rossignol - 19.jun.22/Reuters

​A ultradireita, representada pelo Reunião Nacional, de Marine Le Pen, ficou com a fatia recorde de 89 cadeiras do Legislativo —seu antigo recorde datava de 1986, com 35 assentos conquistados à época. Já os tradicionais Republicanos perderam força e ocuparão 64 lugares.

O Reunião Nacional definiu os resultados do pleito como um "tsunami" na política francesa. "É uma onda azul marinho em todo o país; o povo fez de Macron um presidente minoritário", disse Jordan Bardella, líder interino da sigla, referindo-se à cor que simboliza seu partido.

A população foi às urnas sob uma onda de calor na região, e projeções indicam que esta pode ser a segunda vez na história da 5ª República francesa, iniciada em 1958, em que o índice de abstenção supera metade dos eleitores na rodada final para o Parlamento.

O instituto Ipsos, com base na projeção da participação às 17h (12h em Brasília), calcula que 54% devem se abster de participar da votação —no primeiro turno, esse índice foi de 52,5%. Até aqui, o recorde de abstenção para a rodada final foi registrado em 2017, com 57,4%. ​

Às 17h, mostram informações compiladas pelo jornal Le Monde, a participação no atual turno chegava a 38,1%, queda em relação ao domingo passado, quando 39,4% já haviam votado neste horário. O número, porém, supera o registrado há cinco anos, no final da tarde, quando somente 35,3% tinham comparecido às urnas de votação.

O atual pleito é decisivo para o presidente centrista Emmanuel Macron, reeleito em abril, quando derrotou a ultradireita nas urnas. Sem maioria parlamentar, ele veria o cenário para a aprovação de projetos que pleiteia, como a mudança na idade de aposentadoria, complicar-se.

A porta-voz do governo, Olivia Gregoire, disse que Macron vai procurar todos os partidos moderados para tentar maioria parlamentar absoluta. "Alcançaremos aqueles que querem levar o país adiante", declarou, após descrever o resultado como decepcionante.​

A primeira-ministra Elisabeth Borne, a segunda mulher a ocupar o cargo no país, disse que a situação constitui um risco para a estabilidade do país. "Trabalharemos a partir de amanhã para construir uma maioria", afirmou. Borne foi eleita nas legislativas, no segundo turno, pelo departamento de Calvados.

Macron e sua base de apoio vinham colocado em prática um discurso alarmista de que, sem apoio majoritário no Parlamento, haveria uma crise institucional sem precedentes. O próprio presidente, antes de votar, disse a repórteres que "nada seria pior do que adicionar a desordem francesa à desordem mundial".

O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, afirmou ao canal France 2 que o resultado das legislativas representa um "choque democrático" e que os temores de que Paris possa se tornar ingovernável não têm fundamento. Ele disse que o trabalho, agora, será buscar outras agrupações políticas que compartilhem das ideias do governo.

Houve apenas dois casos na história francesa recente em que a maioria absoluta não foi formada em torno do líder: com o general de Gaulle (1958-1962) e com François Mitterrand (1988-1991). Mas especialistas afirmam que isso não paralisou a ação do Executivo.

No primeiro turno das legislativas, a Juntos, coligação de centro-direita em torno de Macron, ficou praticamente empatada com a Nupes. Cada grupo obteve cerca de 5,8 milhões de votos, com uma vantagem de apenas 21.285 para o bloco do presidente.

O segundo turno também tende a forçar uma repaginação no governo de Macron. Quinze ministros nomeados por ele estão disputando o pleito, a maioria contra candidatos da esquerda, e o presidente já sinalizou que, se perderem a disputa, eles terão de deixar o cargo.

Foi o que já aconteceu com Justine Benin, secretária de Estado para o Mar, que foi derrotada em Guadalupe, território ultramarino francês no Caribe, por um candidato da esquerda. A ministra Amélie de Montchalin, da Ecologia e do Desenvolvimento Sustentável, também perdeu em seu distrito, assim como Brigitte Bourguignon (Saúde).

Com AFP, Reuters e The New York Times

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