Descrição de chapéu China Governo Biden

Chefes de Defesa de EUA e China trocam rusgas sobre Taiwan em 1º encontro

Autoridades se reuniram em Singapura antes de evento que discute segurança da região

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Singapura | Reuters

Os chefes de Defesa de China e EUA reuniram-se pela primeira vez para um encontro presencial nesta sexta (10), em Singapura, no qual mantiveram posições opostas sobre Taiwan —ilha que na prática é autônoma, embora sem reconhecimento internacional, e que Pequim diz ser uma província rebelde.

Lloyd Austin, secretário de Defesa dos EUA, e Wei Fenghe, ministro da Defesa da China, encontraram-se por quase uma hora, o dobro do tempo inicialmente previsto, à margem da cúpula Shangri-La Dialogue, que reúne autoridades e especialistas para discutir a segurança da região.

O ministro da Defesa da China, general Wei Fenghe (centro), chega a encontro com autoridades americanas em Singapura - Caroline Chia/Reuters

Os dois já haviam conversado por telefone em abril. O primeiro encontro cara a cara entre eles ocorre enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, tenta dedicar mais tempo a questões de segurança na Ásia após meses com os esforços voltados para a Guerra da Ucrânia. No mês passado, o democrata chegou a afirmar que usaria a força para defender a ilha do leste asiático.

Embora tanto Pequim quanto Washington digam publicamente que querem melhorar seu relacionamento, permanecem polarizados em várias questões de segurança, da soberania de Taiwan à atividade militar no mar do Sul da China e a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Após o encontro desta sexta, autoridades chinesas e americanas destacaram a cordialidade dos diálogos e afirmaram que o encontro dava sinais de que haveria portas abertas para mais comunicação. Wei chegou a dizer que as negociações "correram sem problemas", mas mais tarde sua pasta subiu o tom e reiterou a posição firme de Pequim de que Taiwan é parte da China.

"O Exército de Libertação Popular [Forças Armadas da China] não teria escolha a não ser lutar a qualquer custo e esmagar qualquer tentativa de independência de Taiwan, salvaguardando a soberania nacional e a integridade territorial", afirmou o porta-voz do ministério. O regime chinês vai defender "com determinação a unificação da pátria", disse Wei a Austin, de acordo com um comunicado do país.

O americano, por sua vez, pediu à China que "se abstenha de novas ações desestabilizadoras", segundo nota divulgada pelos EUA após as negociações. Uma autoridade, sob condição de anonimato, disse que a maior parte da reunião se concentrou no tema de Taiwan. Austin teria criticado as posições agressivas da China e afirmado que o entendimento de Washington sobre a ilha permanecerá o mesmo.

Mais tarde, o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan agradeceu aos EUA pela demonstração de apoio e criticou as "reivindicações absurdas" de soberania da China. "Taiwan nunca esteve sob a jurisdição do governo chinês, e o povo de Taiwan não vai sucumbir às ameaças de força", disse a porta-voz da chancelaria, Joanne Ou.

Os EUA são o mais importante ponto de apoio internacional e maior fornecedor de armas a Taiwan, o que é fonte de atrito constante entre Washington e Pequim. A China aumentou a atividade militar perto da ilha nos últimos dois anos, respondendo ao que chama de conluio entre Taipé e Washington.

Em maio, um avião de combate chinês interceptou uma aeronave australiana de vigilância na região do mar do Sul da China. Além disso, militares do Canadá acusaram aviões de Pequim de assediarem suas aeronaves de patrulha enquanto monitoravam evasões de sanções contra a Coreia do Norte.

A reunião entre Austin e Wei também abordou outras questões, incluindo a Guerra da Ucrânia. No encontro, o americano "desencorajou fortemente" a China de fornecer apoio material à Rússia para a guerra e ouviu do contraparte que nenhuma assistência militar foi dada por Pequim.

Os chineses não condenaram o ataque a Kiev e não chamam o conflito de invasão, mas têm pedido uma solução negociada do conflito. Pequim e Moscou se aproximaram nos últimos anos e, em fevereiro, assinaram uma ampla parceria estratégica destinada a combater a influência dos EUA. Segundo a China, não há "temas proibidos de cooperação".

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, em encontro com o vietnamita Phan Van Giang, em Singapura - Roslan Rahman/AFP

Japão promete reforçar presença na segurança da região

No primeiro dia do Shangri-la Dialogue, o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, prometeu reforçar a presença do país na segurança da região para combater múltiplas ameaças, desde a expansão chinesa no mar do Sul da China até o programa de mísseis nucleares da Coreia do Norte.

Kishida, que assumiu o cargo no ano passado, afirmou em discurso no evento que a invasão da Ucrânia pela Rússia abalou os "fundamentos da ordem internacional", deixando o mundo em uma encruzilhada.

Ele disse que o Japão entrará em uma nova era de "diplomacia realista", mais um passo de Tóquio para se distanciar da linha de pacifismo que adotou no pós-Segunda Guerra Mundial e sair da sombra dos EUA, seu principal aliado, para assumir um papel maior na segurança regional, envolvendo China, Coreia do Norte e Rússia. "Seremos mais proativos do que nunca ao enfrentar os desafios e crises com que Japão, a Ásia e o mundo se deparam."

Embora o evento tenha como foco questões de segurança na Ásia, a Guerra da Ucrânia foi tema central nas discussões.

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