Descrição de chapéu China Governo Biden

China reage a críticas de Biden e Jacinda sobre Xinjiang, Hong Kong e Taiwan

Comunicado de EUA e Nova Zelândia, porém, concentra-se nos movimentos de Pequim para aumentar influência no Pacífico

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Pequim | Reuters

O Ministério das Relações Exteriores da China criticou nesta quarta-feira (1º) um comunicado conjunto dos EUA e da Nova Zelândia no qual os países expressaram "sérias preocupações" em torno de violações de direitos humanos na região de Xinjiang e da erosão de liberdades no território de Hong Kong.

As declarações, disse Zhao Lijian, porta-voz da chancelaria chinesa, interferem gravemente em assuntos internos de Pequim. No comunicado, os líderes de EUA, Joe Biden, e Nova Zelândia, Jacinda Ardern, também afirmaram encorajar uma resolução pacífica para as questões no estreito de Taiwan.

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, durante entrevista coletiva nos jardins da Casa Branca, em Washington
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, durante entrevista coletiva nos jardins da Casa Branca, em Washington - Saul Loeb - 31.mai.22/AFP

Mesmo que a China tenha reagido especificamente às menções americana e neozelandesa a esses temas, o encontro de Biden e Jacinda, na terça, na Casa Branca, concentrou-se nos temores gerados pelos movimentos da China para aumentar sua influência no Pacífico —uma autoridade americana disse que o presidente e a primeira-ministra discutiram a necessidade de encontros presenciais com líderes da região.

A reunião em Washington chamou a atenção porque ocorre logo depois de Pequim fechar um acordo de segurança com as Ilhas Salomão e fracassar ao tentar costurar um pacto coletivo com outros países do Pacífico. A repórteres Jacinda disse que tanto os Estados Unidos quanto a Nova Zelândia estão alinhados "no foco que os líderes das ilhas do Pacífico determinaram por si mesmos".

Ainda que tenha integrado um bloco econômico proposto por Biden para a região do Indo-Pacífico durante a viagem do presidente americano à Ásia, na semana passada, idealizado para se contrapor à China, a Nova Zelândia, junto a vários outros países na região, dizem acreditar que a iniciativa não irá muito longe.

Jacinda já disse que gostaria de ver os EUA de volta a um acordo regional de negócios que o antecessor do democrata, Donald Trump, deixou em 2017. Biden, no entanto, tem sido relutante a seguir esse caminho devido a temores domésticos de que tratos do tipo possam custar empregos aos americanos.

As citações a Xinjiang, Hong Kong e Taiwan no comunicado estão aglutinadas em apenas um parágrafo, mas são pontos centrais da política de Pequim e alvo de reiteradas críticas de potências do Ocidente.

Xinjiang, no oeste do país, tornou-se palco de acusações de repressão, liderada pelo regime chinês, contra a etnia uigur. Recentemente, o vazamento de documentos apelidados de Arquivos da Polícia de Xinjiang revelaram mais de 2.800 fotos de membros da minoria muçulmana detidos e 23 mil arquivos de pessoas presas e colocadas em campos de reeducação. Entre as razões para as detenções está o envolvimento no que é descrito como atentados terroristas cometidos no passado, desde os anos 1980.

Houve, de fato, ataques isolados, especialmente nos últimos 20 anos. O regime passou a acusar uigures de promoverem terrorismo e de ter ligações com grupos fundamentalistas internacionais. A situação escalou em 2017, quando Pequim deu início a um plano de encarceramento na região com a justificativa de combater o separatismo e o terrorismo, o que teria transbordado para detenções injustificadas.

Memetimin Memet, 35, por exemplo, recebeu uma pena de dez anos de prisão. Só que, em sua ficha, revelada nos Arquivos da Polícia de Xinjiang, a acusação nada teve a ver com atos do tipo. "O suspeito aprendeu a prática de culto e das escrituras [islâmicas] por cerca de um mês em 1994; deixou a barba crescer por cerca de três meses, de maio a agosto de 2006".

Já Hong Kong, ex-colônia britânica devolvida à China em 1997 sob o arranjo "um país, dois sistemas", lida com a supressão crescente de liberdades que estariam garantidas no acordo com o Reino Unido: ilha de capitalismo desregulado, Judiciário e imprensa livres. Após a onda de manifestações pró-democracia que ocupou as ruas do território em 2019, entretanto, o regime comunista chinês instituiu a Lei de Segurança Nacional, encerrando na prática o regime de autonomia consagrado.

Por fim, Taiwan, ilha para onde fugiram os derrotados pela Revolução Comunista de 1949, é vista como uma província rebelde por Pequim, e a reunificação total do território do país se tornou um objetivo do regime comunista, missão intensificada pela liderança de Xi Jinping.

No último dia 23, quando Biden estava em viagem pela Ásia, o presidente afirmou que os EUA usariam a força para defender Taiwan caso a ilha fosse invadida pela China. Para o americano, Pequim "flerta com o perigo" ao sobrevoar, durante exercícios militares, o território. O comentário, apesar de não ser inédito, põe em xeque a "ambiguidade estratégica" que tradicionalmente gere as relações entre Washington e Taipé.

Por meio dessa abordagem, os EUA têm acordo de fornecimento de armas e outros tipos de assistência e se dizem comprometidos a garantir que a ilha possa se defender, mas não contestam formalmente a alegada soberania de Pequim em relação a Taiwan. Assim como das outras vezes em que críticas em relação a esses pontos foram feitas, os chineses sempre afirmam que Xinjiang, Hong Kong e Taiwan são assuntos estritamente de ordem interna e classificaram os comentários de interferência externa.

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