Minha conversa com o presidente francês, Emmanuel Macron, foi rápida e absolutamente inesperada. Mas em menos de um minuto ele não hesitou em mostrar sua simpatia pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua hostilidade em relação a Jair Bolsonaro (PL).
Foi por total acaso que encontrei o líder recém-reeleito na última sexta-feira (3). Eu jantava com uma colega em um pequeno restaurante em Paris, onde vivo há oito anos. O movimento estava fraco e havia apenas três mesas ocupadas no salão. Percebemos que algo diferente estava por acontecer quando alguns homens, que mais tarde ficaria claro serem seguranças à paisana, passaram a circular pelo restaurante e verificar o ambiente.
Poucos minutos depois, entrou no recinto Brigitte Macron, primeira-dama da França, acompanhada do marido. O casal presidencial sorriu para os poucos presentes que os reconheceram e logo desapareceram em uma pequena sala reservada.
Conheço o dono do lugar, um português, e já o tinha ouvido comentar sobre sua amizade com Macron e Brigitte, clientes antigos. Frequentavam o espaço desde antes de Macron entrar para a política, contava o dono do estabelecimento. Mesmo freguês ocasional do local, eu jamais imaginei que poderia encontrá-los —uma das pessoas mais poderosas do mundo, há cinco anos na Presidência, haveria de ter mudado um hábito prosaico como o de almoçar num restaurante de bairro.
Macron e Brigitte ficaram menos de uma hora no restaurante e, quando terminaram de comer, as outras mesas já tinham ido embora. Permanecíamos apenas eu e minha amiga. Quando o casal se preparava para sair, tomei a liberdade de abordá-los. Não me pareceu conveniente discutir a política francesa, apesar de ter diversas críticas ao político. Quis falar sobre a relação entre Brasil e França.
Quando eu disse que era brasileiro, Macron me perguntou se eu conhecia Lula. Respondi que a última vez que havia visto o ex-presidente foi em novembro de 2021, quando assisti a uma palestra sua na Sciences Po —universidade onde estudei e trabalho, que concedeu ao ex-presidente o título de doutor honoris causa há dez anos. Sempre sorrindo, o líder francês respondeu que foi uma grande alegria receber Lula no Palácio do Eliseu, na mesma viagem no ano passado.
Macron me perguntou o que eu fazia em Paris, ao que respondi ser professor de Ciência Política, com pesquisa sobre o fenômeno do populismo. "Tema pertinente", disse o político. "Na França e no Brasil", eu respondi. "Precisamos vencer o populismo, aqui e no Brasil", concluiu o presidente da França.
Não sei se concordo com a última frase de Macron —afinal, não acho que populismo seja palavrão ou necessariamente sinônimo de ataque à democracia—, mas saí do restaurante sem muitas dúvidas sobre qual deve ser a torcida dele nas eleições brasileiras deste ano.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.