Descrição de chapéu América Latina

Governo e indígenas no Equador firmam acordo para acabar com protestos

Capítulo final das manifestações que passam de duas semanas contou com mediação da Igreja Católica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quito | Reuters e AFP

Após voltar à mesa de diálogo nesta quinta (30), com mediação da Igreja Católica, representantes do movimento indígena do Equador e o governo de Guillermo Lasso firmaram um acordo para encerrar os protestos que há mais de duas semanas ocupam as ruas contra a alta no preço dos combustíveis.

A Conaie, maior organização indígena do país, afirmou que considera oficialmente encerrada o que chama de primeira etapa dos atos e que, em 90 dias, irá avaliar o cumprimento dos compromissos firmados.

Mesa de negociação em Quito, entre lideranças indígenas e membros do governo do Equador, após acordo ser firmado - Rodrigo Buendia - 30.jun.22/AFP

A Conferência Episcopal Equatoriana, na leitura da ata, disse que o governo se comprometeu a reduzir mais US$ 0,05 no preço do galão do diesel e no da gasolina, levando a redução total a US$ 0,15 —no primeiro anúncio de diminuição, os protestos não cessaram. Antes, a Conaie pedia redução de US$ 0,40.

Lasso, na Presidência há um ano, escapou na terça (28) de um processo de impeachment pleiteado pela oposição, que o acusava de inabilidade para lidar com os atos, em grande parte liderados por indígenas.

O presidente celebrou o acordo, que descreveu como o retorno da paz ao país. "Agora começaremos, juntos, a tarefa de transformar essa paz em progresso, bem-estar e oportunidades a todos", disse ele, que não participou do acordo final —o governo foi representado pelo ministro de Governo, Francisco Jiménez.

​Lasso, que havia suspendido o diálogo com manifestantes após a morte de um militar, chegou a chamar Leonidas Iza, presidente da Conaie, de "líder oportunista" e dizer que as figuras-chaves dos protestos buscavam capitalizar uma insatisfação ligada à economia para uma tentativa de retirá-lo do poder.

A Conaie celebrou o acordo como uma vitória da mobilização popular. Ainda que a redução final no preço não tenha correspondido ao valor solicitado, a confederação lembra que outras demandas foram atendidas. Entre elas está a revogação de um decreto presidencial que permitia ao Estado ampliar as fronteiras de extração de combustíveis fósseis, em grande parte na região da Amazônia equatoriana.

O governo também se comprometeu a derrubar o estado de exceção que havia decretado em quatro províncias. A medida permitia o uso de militares nas ruas e a suspensão do direito de livre associação, além de instituir toque de recolher noturno de 8 horas em algumas regiões e de 10 horas em outras.

A mobilização iniciada no dia 13 chegou a registrar atos com mais de 10 mil indígenas nas ruas de Quito. Ao menos seis pessoas morreram, e 600 ficaram feridas. Outros 150 foram detidos pela polícia. Há, ainda, o impacto econômico, com o governo afirmando que a produção de petróleo foi bastante afetada.

Lasso decretou zonas de segurança no entorno da infraestrutura energética de algumas províncias, o que o ministro da Energia, Xavier Vera, descreveu como a única possibilidade de recuperar a produção. Antes da crise, disse ele, o país produzia 500 mil barris de petróleo por dia. A cifra caiu para 234 mil.

O impacto veio após cerca de 1.200 poços de empresas estatais e privadas serem fechados devido ao bloqueio de vias públicas pelos manifestantes e à dificuldade de escoamento do combustível.​

O redemoinho político preocupa o presidente não apenas pelo tamanho e intensidade dos atos, mas também porque o Equador tem um histórico de destituição de governantes em meio a mobilizações lideradas pelos indígenas. Três mandatários foram retirados do cargo de 1997 a 2005 em movimentos semelhantes —Abdalá Bucaram (1997), Jamil Mahuad (2000) e Lucio Gutiérrez (2005).

As manifestações desse setor ajudaram, por exemplo, a desidratar a gestão do antecessor de Lasso, Lenín Moreno. Milhares de indígenas foram às ruas, também devido ao preço do combustível, e o forçaram a recuar em vários pontos. A situação foi agravada na pandemia, e ele nem sequer buscou a reeleição.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.