Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Itamaraty

Espião russo deportado da Holanda está preso no Brasil, diz PF

Homem, que afirmava ter nascido em Niterói, relatava saga de problemas pessoais e tentava ingressar no Tribunal de Haia

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Guarulhos

A Polícia Federal informou nesta quinta (16), segundo a agência Reuters, que o russo Serguei Vladimirovitch Tcherkasov, 36, está sob custódia das autoridades brasileiras e será processado por uso de falsos documentos após ser deportado pela Holanda, que o acusa de espionagem.

O Serviço de Inteligência holandês anunciou ter impedido Tcherkasov, que se passava por cidadão brasileiro, de se infiltrar no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, responsável por investigar, entre outras acusações, possíveis crimes de guerra cometidos na Guerra da Ucrânia.

Tcherkasov trabalharia para o GRU, unidade de inteligência militar da Defesa russa, e teria se passado por Viktor Muller Ferreira para entrar em território holandês. O episódio ocorreu em abril, mas só agora foi divulgado.

Sede do Tribunal Penal Internacional, na cidade holandesa de Haia - Piroschka van de Wouw - 31.mar.21/Reuters

A inteligência holandesa publicou documentos com a história apresentada pelo suposto espião. Ele dizia ter nascido em 4 de abril de 1989, em Niterói (RJ), e descrevia uma saga pessoal com diversos episódios de dificuldades financeiras e abandono paterno.

No documento, cheio de tarjas pretas que escondem parte do conteúdo, o homem conta ter vivido durante anos no exterior, com uma tia, após sua mãe morrer de pneumonia. Ele não seria fluente em português, o que se nota pelos seguidos erros gramaticais no relato, e o espanhol seria uma de suas línguas.

Segundo a PF, Tcherkasov entrou no Brasil em 2010 e assumiu a falsa identidade de brasileiro, com a qual viveu por anos na Irlanda e nos EUA. Ele teria retornado ao Brasil para preparar sua mudança para a Holanda. A Folha procurou o Itamaraty, que não respondeu até a publicação deste texto.

"Se o oficial da inteligência tivesse obtido acesso ao TPI, ele poderia reunir informações e recrutar fontes; teria sido capaz de influenciar processos criminais", diz um trecho do comunicado. "Por se apresentarem como estrangeiros, eles [espiões] têm acesso a informações que seriam inacessíveis a um cidadão russo."

No material tornado público, o homem diz que foi abandonado pelo pai. Assim, teria sido criado pela mãe, que fazia apresentações de música. Quando ela ficou doente, uma tia que não morava no Brasil o levou.

Entre outros episódios, ele descreve uma crise financeira no ano de 2001 que fez com que a situação da família se agravasse. Menciona, ainda, aulas de espanhol na escola e momentos em que tomava chimarrão. Quando ainda estava no Brasil, segundo o documento, diz se recordar da ponte Presidente Costa e Silva, conhecida como Rio-Niterói, e, por isso, teria aversão ao cheiro de peixe.

Afirma ainda ter obtido um bacharelado em ciências humanas e cogitado trabalhar como jornalista. Depois da morte da tia, ele teria procurado o pai no Rio de Janeiro e, apesar de, segundo o depoimento, ter conseguido contato, frustrou-se com a conversa que tiveram.

Dali, diz ter ido para Brasília, onde "em paralelo com a restauração da cidadania" teve aulas particulares de português. Sobre a capital, ele lista lugares que gostava de frequentar, como o restaurante A Tribo —que, de fato, existe. "Esse restaurante faz a melhor feijoada da cidade."

A Holanda diz que o documento provavelmente foi redigido em 2010 pelo próprio Tcherkasov, para que ele memorizasse a versão, que mescla fatos e impressões criadas sobre lugares. "Foi uma operação da GRU de longo prazo que custou tempo, energia e dinheiro", disse Erik Akerboom, chefe da inteligência do país.

Com Reuters

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