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Indígenas no Equador desafiam toque de recolher e voltam às ruas contra preço da gasolina

Protestos contra políticas do presidente Guillermo Lasso já duram 6 dias e deixaram 83 feridos

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Quito | AFP

Em desafio ao governo do Equador, a maior organização de indígenas do país fechou neste sábado (18) rodovias nas três províncias nas quais o presidente Guillermo Lasso decretou toque de recolher para controlar as manifestações, que já duram seis dias, contra sua gestão e o preço dos combustíveis.

Mesmo com o decreto de emergência, os protestos continuam em Pichincha, onde fica a capital do país, Quito, e nas vizinhas Imbabura e Cotopaxi, além de outras 11 províncias do país. Dos 24 estados equatorianos, 14 tinham bloqueios de vias na manhã deste sábado, de acordo com o governo.

Indígenas bloqueiam rodovia na província de Cotopaxi em protesto contra governo Guillermo Lasso - Johanna Alarcon/Reuters

A Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) lidera os protestos pela redução dos preços dos combustíveis após o aumento de 90% do valor do galão do diesel, que chegou a US$ 1,90 (R$ 9,79), e de 46% da gasolina comum (agora a US$ 2,55, ou R$ 13,14) entre maio de 2020 e outubro de 2021. Desde o ano passado, a entidade propõe que os preços sejam reduzidos a US$ 1,50 e US$ 2,10, respectivamente.

As manifestações, que incluíram marchas estudantis em Quito, já deixaram pelo menos 83 feridos e 40 detidos, segundo informações de autoridades e organizações indígenas. Além dos preços da gasolina, os manifestantes protestam pela renegociação de dívidas dos trabalhadores rurais com bancos e contra o desemprego e a concessão de licenças de mineração em terras indígenas.

O estado de exceção, decretado nas províncias de Pichincha, Cotopaxi e Imbabura, as mais impactadas, vale por 30 dias. A medida habilita o presidente conservador Gullermo Lasso a mobilizar as Forças Armadas para manter a ordem interna, suspender direitos dos cidadãos e decretar toque de recolher.

"Eu me comprometo a defender nossa capital e a defender o país", disse o presidente na noite de sexta-feira (17) em comunicado transmitido por rádio e televisão. O toque de recolher vale das 22h às 5h no horário local. O direito civil à reunião também foi suspenso.

O presidente da Conaie, Leonidas Iza, respondeu na madrugada deste sábado: "Confirmamos a luta em nível nacional, em caráter indeterminado", disse. A Conaie participou de revoltas sociais que depuseram três chefes de Estado entre 1997 e 2005. Em outubro de 2019, a entidade liderou violentos distúrbios contra o governo em Quito, que duraram mais de uma semana, deixando 11 mortos e mais de mil feridos.

Os protestos também têm impactado a exportação de flores, atividade econômica importante do país. "Até agora, 75% dos produtores de flores em todo o Equador não conseguiram entregar seus carregamentos. As estradas ainda estão bloqueadas, apesar do estado de emergência que alguns membros querem derrubar", disse no Twitter o sindicato dos exportadores.

Pressionado, Lasso, que está no poder há um ano, também anunciou o aumento de US$ 50 (R$ 257) para US$ 55 (R$ 283) no auxílio econômico a famílias de baixa renda. Além disso, o Executivo ordenou o perdão de empréstimos vencidos de até US$ 3.000 (R$ 15,5 mil) concedidos pelo banco estadual de desenvolvimento produtivo e deve subsidiar em até 50% o preço da ureia agrícola, fertilizante usado no campo, para pequenos e médios produtores.

Pelas redes sociais, Iza afirmou que a entidade comemora "os pontos em que há avanços. Embora sejam irrisórios, vão ajudar em alguma coisa", disse. Segundo a Conaie, o líder da entidade teve seu carro baleado neste sábado. "Ele [Iza] está bem. Alertamos com isto para o estado de emergência e a atitude beligerante do governo", afirmou o grupo no Twitter. As autoridades não comentaram o assunto.

Em 2021, a pobreza no Equador chegou a 27,7% da população, e a extrema pobreza, a 10,5%. As zonas rurais são as mais vulneráveis.

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