Uma escultura antissemita da Idade Média poderá continuar na fachada de uma igreja no leste da Alemanha, decidiu nesta terça-feira (14) o tribunal máximo do país, em resposta a um processo que argumenta que a exibição da peça é um insulto a toda a população judaica.
O "Judensau", ou porca judia, é uma peça de arenito do século 13 exibida em uma igreja em Wittenberg, no leste do país, que faz uma caricatura de um rabino levantando o rabo de uma porca enquanto duas crianças judias se amamentam nas tetas do animal. No judaísmo, porcos são considerados impuros.
A escultura é uma das cerca de duas dúzias de peças semelhantes da Idade Média que ainda estão exibidas em igrejas ao redor da Alemanha e em outros lugares da Europa.
Nesta terça, o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha rejeitou um recurso e manteve as decisões de tribunais inferiores que arquivaram o caso de Wittenberg, dizendo que a obra não viola leis. Para a Justiça, a peça se transformou em um memorial das atitudes antissemitas da igreja ao longo dos séculos.
Isso porque a igreja que exibe a escultura instalou, em 1988, uma placa de bronze sob a obra antissemita com um quadro contextualizando a peça e lembrando os 6 milhões de judeus que morreram no Holocausto. A instalação aconteceu por ocasião dos 50 anos da Noite dos Cristais, quando propriedades de judeus foram incendiadas e destruídas na Alemanha nazista.
Em resposta à decisão da Suprema Corte, o Conselho Central dos Judeus, federação que congrega a etnia no país, afirmou que entende a decisão do tribunal, mas que a placa colocada em 1988 com a explicação não tem impacto suficiente e a igreja deve reconhecer sua culpa pelos séculos de antissemitismo.
"A difamação de judeus pela igreja deve ficar no passado de uma vez por todas", disse o presidente do Conselho, Josef Schuster.
Wittenberg é a cidade onde Martinho Lutero teria pregado suas teses desafiando o catolicismo na porta de uma igreja em 1517, o que levou à Reforma Protestante na Alemanha. A igreja Stadtkirche, que exibe a obra antissemita, é a mesma em que Lutero pregava.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.