Líderes de França, Alemanha e Itália visitam a Ucrânia em exibição de apoio em meio a críticas

Macron, Scholz e Draghi se encontram com Zelenski e manifestam apoio à entrada de Kiev na União Europeia

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Irpin (Ucrânia) | Reuters

Os líderes de França, Alemanha, Itália e Romênia caminharam nesta quinta-feira (16) em meio às ruínas da cidade de Irpin, nos arredores da capital ucraniana, em uma demonstração de apoio que o governo em Kiev espera que seja seguida de ações concretas na guerra contra a Rússia.

Depois, eles se reuniram com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e sinalizaram concordar com a demanda do país para receber o status de candidata a membro da União Europeia, gesto que aproximaria Kiev do bloco econômico. "A Ucrânia pertence à família europeia", disse o premiê alemão, Olaf Scholz, mensagem repetida pelo presidente francês, Emmanuel Macron, posteriormente no Twitter.

Ambos os líderes se tornaram alvo de pressão de Kiev para demonstrarem mais apoio à Ucrânia, tanto na área militar quanto na diplomática. No caso do chefe do Palácio do Eliseu, há um elemento adicional: no final deste mês, a França deixa a presidência do Conselho da União Europeia. Também em rede social, Macron afirmou que, nos próximos dias, "teremos de tomar importantes decisões históricas em conjunto para cumprir as nossas promessas". "Devemos mostrar à Ucrânia um ato decisivo e claro."

O presidente da França, Emmanuel Macron, ao centro, de braços cruzados, o premiê da Itália, Mario Draghi, à esq., e o líder da Romênia, Klaus Iohannis, durante visita a Irpin
O presidente da França, Emmanuel Macron, ao centro, de braços cruzados, o premiê da Itália, Mario Draghi, à esq., e o líder da Romênia, Klaus Iohannis, durante visita a Irpin - Ludovic Marin/Pool/Reuters

Na visita que levou semanas para ser organizada, os líderes rechaçaram as alegações de que estariam muito ciosos dos laços com a Rússia de Vladimir Putin, sobretudo devido à dependência de seus países no campo energético. Os críticos compararam a postura de Macron e Scholz à do premiê britânico, Boris Johnson, que visitou a capital ucraniana há mais de dois meses e fez seguidos repasses militares.

Em entrevista coletiva, eles reforçaram a mensagem de que são fortes apoiadores da Ucrânia e disseram ter tomado medidas práticas para reduzir o consumo do petróleo e do gás que vêm de Moscou. Do outro lado, as críticas recentes de Kiev se concentraram na demora para o envio de armas por parte da Alemanha e na declaração do presidente francês de que a Rússia "não deve ser humilhada".

Já a Itália, que no ano passado obteve 40% de suas importações de gás natural da Rússia, propôs um plano de paz que os ucranianos temem que implique a entrega de territórios. Depois das conversas nesta quinta em Kiev, Macron afirmou que ainda é necessário algum tipo de canal de comunicação com Putin e que "cabe à Ucrânia decidir" que concessões o país fará para chegar ao fim do conflito com a Rússia.

Rodeados por soldados, os líderes europeus, que além de Scholz e Macron incluíam ainda o premiê italiano, Mario Draghi, e o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, todos de terno e sem equipamentos de segurança visíveis, observaram prédios destruídos em Irpin, um dos pontos focais de combate antes de as tropas russas se concentrarem no leste da Ucrânia, no Donbass, o objetivo declarado do Kremlin.

Ao saírem da cidade, os soldados de Moscou deixaram corpos espalhados pelas ruas, cenas que o primeiro-ministro alemão descreveu como "crueldade inimaginável" e "violência sem sentido".

Zelenski, após a reunião com os colegas europeus, agradeceu o gesto e disse esperar novas entregas, "principalmente de armas pesadas, artilharia moderna de foguetes e sistemas de defesa antimísseis". Em resposta, Macron disse que a França intensificará as entregas de armamentos.

Olaf Scholz (premiê da Alemanha), Emmanuel Macron (presidente da França), Volodimir Zelenski (presidente da Ucrânia), Mario Draghi (premiê da Itália) e Klaus Iohannis (presidente da Romênia) após encontro em Kiev - Ludovic Marin/Pool - 16.jun.22/Reuters

Antes da visita a Irpin e à capital ucraniana, Macron pediu à fabricante de armas francesa Nexter que aumentasse a produção de obuseiros Caesar, já que nesta quinta anunciou o envio de mais seis armamentos do tipo ao Exército ucraniano, que se somariam aos 12 entregues anteriormente.

Além de armas, Zelenski pediu um sétimo pacote de sanções da UE que inclua um embargo ao gás de Moscou, justamente no momento em que a empresa russa Gazprom anunciou a redução do fornecimento do item por meio do gasoduto Nord Stream, o que Berlim e Roma viram como um ato político.

Scholz disse que a Alemanha apoiará o caminho da Ucrânia para a adesão à UE, mas também disse que os requisitos sobre democracia e estado de direito precisam ser cumpridos

No front diplomático, Scholz afirmou no Twitter ter convidado o presidente ucraniano para participar da cúpula do G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo, e que Zelenski, por óbvio, aceitou.

Nesta sexta-feira (17), o braço executivo da União Europeia deve propor que o país ora invadido pelas tropas russas formalize a candidatura ao bloco, de acordo com diplomatas e autoridades. O movimento seria um gesto político de peso para o país, ao mesmo tempo em que gera divisões entre líderes da UE.

A visita repercutiu em Moscou. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse esperar que os líderes usassem a reunião para fornecer "uma visão realista da situação", não para acertar o envio de mais armas.

Já o ex-presidente russo Dmitri Medvedev adotou tom irônico em post no Twitter. Referindo-se aos líderes europeus como "fãs de rãs, salsichas e espaguete" —alusão a comidas típicas de França, Alemanha e Itália—, disse que a visita foi inútil. "Não aproximará a Ucrânia da paz; o relógio está correndo."

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