Macau enfrenta grave crise econômica depois de Covid impactar cassinos

Região administrativa especial da China, que foi colônia de Portugal, não diversificou economia ao longo das décadas

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Farah Master
Hong Kong | Reuters

A queda das receitas nos cassinos de Macau, o maior centro de jogos de aposta do mundo, está afetando fortemente a economia, obrigando centenas de empresas a fechar e elevando o desemprego ao nível mais alto desde 2009.

A ex-colônia portuguesa registrou nesta quarta (1º) uma de suas piores receitas mensais com jogos de aposta desde setembro de 2020, uma semana depois de o governo local alertar que a crescente perda de empregos e os problemas financeiros podem desencadear conflitos sociais e desestabilizar a segurança.

Pessoas caminham em frente ao Cassino Lisboa, em Macau, na China - Jason Lee - 21.dez.19/Reuters

A região administrativa especial da China é o único lugar no país onde é legalmente permitido apostar em cassinos. Muito dependente dos impostos sobre esses locais, que representam mais de 80% das receitas do governo, Macau teve pouco sucesso em diversificar sua economia.

"Somos a cidade mais dependente do turismo no mundo. É claro que não tínhamos outras indústrias para recorrer", diz Glenn McCartney, professor associado da Universidade de Macau. "Se não diversificamos em 20 anos, isso não vai acontecer amanhã. Não há solução rápida."

A dependência de Macau do jogo foi exposta desde o início da pandemia de coronavírus, com as taxas de visitação no primeiro trimestre caindo mais de 80% em comparação com o mesmo período de 2019 devido às restrições de viagem da Covid. Mais de 90% dos visitantes de Macau vêm normalmente da China continental, que continua seguindo uma política de Covid zero.

As receitas do jogo em maio caíram 68% em termos anuais, para 3,3 bilhões de patacas –nome da moeda local–, algo em torno de R$ 1,9 bilhão. Embora o valor esteja 25% acima do registrado em abril, continua longe dos 26 bilhões de patacas atingidos em maio de 2019.

Os seis operadores de cassinos de Macau estão enfrentando perdas diárias de receitas e acumulam dívidas à medida que a liquidez continua a secar. As medidas da China para conter a saída de capital e reprimir a opaca indústria de jogos, encarregada de trazer grandes apostadores do continente, também prejudicaram a receita do jogo.

A redução de custos e as crescentes perdas econômicas são evidentes em todo o pequeno território, que abriga mais de 600 mil pessoas, estendendo-se a setores como varejo, serviços industriais e comerciais.
A taxa de desemprego para os residentes aumentou para 4,5%, de acordo com os últimos números do governo, acima dos 1,8% em 2019.

Citando um ambiente de negócios difícil e perspectivas sombrias para o segmento de jogos de alto nível, o Emperor Entertainment Hotel disse em abril que fecharia seu cassino a partir de 26 de junho. Pelo menos sete outros cassinos devem interromper as operações até meados do ano, informou a mídia local.

A Associação Econômica de Macau disse que o índice de clima das empresas vai se manter "ruim" nos próximos três meses. Em um relatório de abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que levará vários anos para que a economia de Macau volte ao nível pré-pandemia, com a forte contração da atividade expondo a vulnerabilidade da cidade.

O governo de Macau instou os cassinos, que empregam dezenas de milhares de habitantes, a não demitir trabalhadores. Algumas operadoras, em vez de dar salários integrais, optaram por não renovar contratos, ou ofereceram licenças não remuneradas ou bônus em ações.

Cloee Chan, ativista de um grupo trabalhista em Macau, disse que a falta de jogadores, juntamente com o fechamento de salões VIP e de alguns cassinos, representa um grande desafio para o mercado de trabalho local. "Muitos trabalhadores da indústria de jogos estão hoje sub-representados ou foram demitidos."

Com tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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