Após a Colômbia eleger Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda do país, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, afirmou que a relação entre as duas nações independe do governo de momento.
"A relação é de Estado para Estado, independentemente do governo", disse ele nesta segunda-feira (20).
"[Desejo] sorte ao Gustavo Petro, porque administrar um país na situação que o mundo está enfrentando não é simples. Temos interesses comuns com os colombianos, principalmente na questão da Amazônia."
O presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não se pronunciou oficialmente sobre o novo chefe colombiano. Em uma lista de transmissão que mantém no WhatsApp, no entanto, ele questionou se o Brasil seria o próximo país a eleger um líder de esquerda.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, Bolsonaro encaminhou neste grupo uma imagem de uma matéria da BBC News Brasil que tem o título "Ex-guerrilheiro vence eleição na Colômbia e será primeiro presidente de esquerda do país".
Abaixo da foto, escreveu: "Cuba... Venezuela... Argentina... Chile... Colômbia... Brasil???", numa referência ao fato de a esquerda, com Lula, ter chance de voltar ao poder no país.
Também nesta segunda, Bolsonaro comentou com apoiadores o sequestro do empresário Abílio Diniz por grupos de esquerda, em 1989. Quando uma pessoa citou a Colômbia na conversa, o presidente comentou: "É um ex-guerrilheiro do MIR, movimento de esquerda revolucionária". A cena foi registrada em vídeo.
A fala, no entanto, não deixa claro se ele se referia a Petro —que na verdade é ex-guerrilheiro do movimento M-19— ou à participação de integrantes do MIR —que é chileno— no sequestro de Diniz.
Petro foi eleito presidente neste domingo (19), com 50,44% dos votos, em um país que nunca havia visto um presidente que não fosse de direita em sua história.
De acordo com ministros e interlocutores de Bolsonaro, o presidente chamou a atenção também para a alta abstenção da eleição colombiana. O voto não é obrigatório no país, e cerca de 45% dos cidadãos habilitados a votar não compareceram às urnas. Ainda que alta, a cifra configura a menor abstenção em duas décadas na Colômbia.
Bolsonaro, no entanto, estaria preocupado com a possibilidade de a abstenção no Brasil também ser alta, mesmo com o voto obrigatório. Além de evidenciar o fortalecimento da esquerda na América Latina –candidatos progressistas venceram as eleições na Bolívia, no Peru e no Chile, além de já estarem no poder na Argentina–, a vitória de Petro teve outro simbolismo: foi reconhecida por seu principal opositor, Rodolfo Hernández, menos de uma hora depois da divulgação dos resultados.
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