Nos 100 dias de Guerra da Ucrânia, 100 personagens que marcam o conflito

Invasão russa mudou a geopolítica, desencadeou crises e vai redesenhar arquitetura de segurança global

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante as celebrações do Dia da Vitória, em Moscou

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante as celebrações do Dia da Vitória, em Moscou Kirill Kudryavtsev - 9.mai.22/AFP

São Paulo

A Guerra da Ucrânia chega nesta sexta-feira (3) ao centésimo dia com algumas certezas. A invasão russa mudou a geopolítica, projetou líderes (para melhor ou pior), desencadeou crises humanitárias, tirou alguns dos piores fantasmas do armário e vai redesenhar a arquitetura de segurança global. A maior das certezas, porém, é também a maior dúvida: ninguém sabe dizer quando e como o conflito vai acabar.

Protagonistas

1. Vladimir Putin

Toda história tem um protagonista, e o da Guerra da Ucrânia é Vladimir Putin. Mesmo depois de 20 anos à frente da Rússia, o aposto que o acompanhará para sempre surgiu há apenas 100 dias: o responsável pelo maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra. Antes de 24 de fevereiro, poucos afirmavam que o líder russo de fato invadiria a Ucrânia, e, hoje, muitos especulam que rumos a guerra tomará. A certeza é a de que ninguém sabe o que se passa na cabeça do chefe do Kremlin.

2. Volodimir Zelenski

Mesmo antes de se tornar presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski já era um comediante famoso, uma estrela da TV, e a experiência cênica e midiática teve papel central na narrativa de Kiev durante a guerra. Entre as frases de efeito, disse a Joe Biden, ao negar uma oferta para fugir do país, que "não precisava de carona, mas de armas". Depois, lembrou episódios históricos aos países para os quais discursou. No figurino, deixou de lado o terno para vestir roupas militares, passando a ideia de que é mais um a lutar.

3. Joe Biden

Em um momento de baixa popularidade, Biden viu na Guerra da Ucrânia a chance de afastar o apelido "Sleepy Joe". O presidente americano logo agiu para alinhar o Ocidente em uma resposta forte contra Moscou e desfilou adjetivos para classificar Putin, de "bandido" a "ditador sanguinário". Como as sanções iniciais não causaram o efeito esperado, liderou o envio de armas e de dinheiro a Kiev, até agora com relativa parcimônia, para não provocar, quem sabe, a Terceira Guerra Mundial. Ao menos até agora.

4. Emmanuel Macron

Antes da guerra, Macron se sentou com Putin para demovê-lo da ideia de invadir a Ucrânia —a uma certa distância, é verdade, dado o tamanho da mesa na qual foi recebido. Após o início do conflito, o líder francês falou diversas vezes com o chefe do Kremlin, tornando-se o porta-voz do Ocidente, o que lhe rendeu um impulso para a reeleição. Ao mesmo tempo que agiu para que a União Europeia impusesse mais sanções a Moscou, foi realista: a entrada de Kiev no bloco, avisou, pode levar décadas.

5. Olaf Scholz

Não bastasse ser o premiê a substituir Angela Merkel, Scholz passou a enfrentar, menos de três meses após assumir o poder, uma guerra contra um país com o qual a Alemanha tem elos históricos. A resposta foi romper com a tradição no pós-Segunda Guerra e triplicar o orçamento militar, com destaque para o valor para a Força Aérea —41% de 100 bilhões de euros. Nesta semana, anunciou a doação de um sistema antiaéreo a Kiev. Apesar da atuação bélica, junto com Macron é o que mais dialoga com Putin.

6. Xi Jinping

A "amizade sem limites" acertada com a China é o principal apoio da Rússia na guerra. Se não condena a invasão da Ucrânia, Pequim reclama reiteradamente das sanções contra Moscou e da belicosidade dos EUA. Mas Xi pouco fala, parece mais observar a situação, o que muitos especulam ser um laboratório para o que pode vir a fazer com Taiwan. No ano em que deve garantir um terceiro mandato, inédito na história recente da China, o líder do regime não quer turbulências que arrisquem esse objetivo.

Putin e Xi Jinping pouco antes da foto oficial do encontro de ambos em Pequim
Putin e Xi Jinping durante encontro de ambos em Pequim - Aleksei Drujinin - 4.fev.2022/Kremin/Sputnik/via Reuters

7. Recep Tayyip Erdogan

Na dualidade que permeia a guerra, Erdogan caminha numa linha tênue. A Turquia é parte da Otan e aliada de Putin. Vive às turras com os EUA devido à compra de um sistema antimísseis de Moscou e, ao mesmo tempo, dialoga com os russos em busca de uma área "limpa de terrorismo" na fronteira com a Síria. Assim, Erdogan tenta obter vantagens. Quando Suécia e Finlândia pediram para entrar na Otan, o líder turco fechou a porta e, para liberá-la, quer punir os opositores ao seu governo que vivem nos países nórdicos.

8. Boris Johnson

Entre os líderes das principais potências do Ocidente, Boris foi o único a visitar Zelenski em Kiev. De terno e gravata, caminhou pelas ruas da capital, bem no estilo midiático que marca sua trajetória. A guerra foi, ao menos por um curto período, um alento para a crise doméstica que o premiê britânico enfrentava. Quando os casos de festas em Downing Street durante o lockdown na Inglaterra pipocavam mais e mais, o conflito estourou, e o foco do noticiário mudou. Boris então engrossou o discurso anti-Putin.

Outros líderes

9. Aleksandr Lukachenko

O apoio que Lukachenko recebeu de Putin após as grandes manifestações em 2020 na Belarus cobrou um preço. Antes do início da guerra, o ditador abrigou tropas russas em seu território, na fronteira com a Ucrânia. Depois, comandou a realização de exercícios militares, ainda que sempre negue a intenção de participar diretamente do conflito. Não foram poucos os momentos em que esteve junto a Putin durante a guerra, como no dia em que o chefe do Kremlin disse que "negociações de paz são um beco sem saída".

10. Maia Sandu

Líder de um dos países mais pobres da Europa, Maia Sandu até parece ser a presidente da Ucrânia, já que Moldova lida com separatistas apoiados por Moscou e ameaças de ação militar do Kremlin, com presença de tropas russas na região da Transdnístria. Esse contexto e o conflito no país vizinho fizeram com que a presidente intensificasse o movimento de seu governo em direção ao Ocidente, buscando abrigo sob o guarda-chuva da União Europeia, com o pedido de adesão ao bloco solicitado em março.

11. Viktor Orbán

Assim como Erdogan, Orbán joga para os dois lados, mas com inclinação pró-Putin. A Hungria, que ele lidera há 12 anos, condenou a invasão e, ao mesmo tempo, afagou o presidente russo, defendendo que as sanções contra o país não se estendam. Depois, ao ser eleito premiê pela quinta vez, definiu Zelenski como um adversário, sem explicar por quê. Membro e pedra no sapato da União Europeia, a Hungria teve papel crucial nas negociações que levaram a um embargo apenas parcial ao petróleo russo.

12. Mateusz Morawiecki

País que mais recebeu refugiados, a Polônia manteve desde o início postura agressiva contra Putin. O premiê Mateusz Morawiecki, por exemplo, foi um dos primeiros líderes a visitar Kiev, num momento em que a cidade ainda sofria ataques. Além do sentimento anti-Rússia devido à repressão comunista no pós-Segunda Guerra, a oportunidade de obter vantagens da UE, usando a acolhida a ucranianos como justificativa para destravar fundos do bloco europeu, foi outro motivo a impulsionar essa posição.

13. Patriarca Cirilo

Chamado de "coroinha de Putin" pelo papa Francisco, o patriarca Cirilo, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, oferece uma certa base moral para justificar a Guerra da Ucrânia. Para o religioso, ecoando o chefe do Kremlin, russos e ucranianos são um só povo, e o conflito seria uma batalha entre o bem e o mal, na qual caberia aos russos proteger a Ucrânia dos que tentam perverter Kiev. Recentemente abençoou as tropas russas, e a União Europeia chegou a ter o nome em uma lista de pessoas alvo de sanções.

O patriarca Cirilo, chefe da Igreja Ortodoxa, em Rostov-on-Don, na Rússia
O patriarca Cirilo, chefe da Igreja Ortodoxa, em Rostov-on-Don, na Rússia - Serguei Pivovarov - 27.out.19/Reuters

14. Papa Francisco

Um dos mais vocais personagens da Guerra da Ucrânia, o papa Francisco colecionou frases e gestos nos últimos 100 dias: classificou o conflito de "regressão macabra da humanidade", pediu uma reunião com Putin em Moscou —que não deve acontecer—, beijou uma bandeira da Ucrânia enviada da cidade de Butcha, definiu a ação militar como "abuso perverso de poder" e, num comentário crítico ao Ocidente, afirmou que "talvez os latidos da Otan na porta da Rússia tenham obrigado Putin a agir".

15. Jens Stoltenberg

Todo mundo sabe que quem comanda a Otan são os EUA. Mas é Jens Stoltenberg o rosto do clube e seu principal porta-voz. Se no começo do conflito ele tratou de ajudar a segurar as rédeas para que a guerra não transbordasse para outros países, evitando assim uma possível Terceira Guerra e atraindo críticas de Zelenski, em um segundo momento passou a olhar a situação a longo prazo, cuidando da adesão de Suécia e Finlândia e incluindo a China na estratégia de defesa da aliança pela primeira vez.

Entorno político

16. Dmitro Kuleba

Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia desde 2020, assumiu papel de grande importância durante a guerra com a Rússia por personificar a diplomacia de Kiev. Desde antes do conflito, defende a integração de seu país à Otan, embora tenha dito que a aliança "não fez nada" pela Ucrânia nos mais de três meses de invasão russa.Tornou-se também porta-voz da demanda da adesão à UE. Bastante ativo nas redes sociais, adota discurso duro contra Moscou, semelhante ao do chefe Volodimir Zelenski.

17. Irina Vereschuk

A vice-primeira-ministra da Ucrânia desde novembro de 2021 e chefe da pasta responsável pelos territórios ocupados do país, como a Crimeia e as províncias de Donetsk e Lugansk, foi a representante do governo ucraniano nas negociações para a criação de corredores humanitários para retirada de civis, em especial em Mariupol. Em maio, disse que a influência de líderes mundiais sobre o conflito é superestimada. "Se essa influência fosse apropriada, não teria havido uma guerra."

18. Serguei Lavrov

Aos 72 anos, um dos mais importantes diplomatas da história da Rússia está à frente da chancelaria moscovita desde 2004 como um dos aliados mais fervorosos de Putin. É conhecido pela postura nas negociações (ganhou o apelido de "sr. Não") e pelas falas duras contra o Ocidente. Na Guerra da Ucrânia, fez pegadinha com a chanceler britânica, foi boicotado por outros diplomatas na ONU, criou atritos com Israel ao afirmar que Hitler tinha "sangue judeu" e manteve no ar a ameaça de uma Terceira Guerra.

19. Dmitri Peskov

Tradicionalmente estridentes, as respostas diárias de Peskov, porta-voz do Kremlin há dez anos, tornaram-se por óbvio mais belicosas nos últimos cem dias. O que ele diz frequentemente é tomado como uma fala do próprio Putin —e o que ele deixa de dizer também. Foi assim quando acusou a Ucrânia de não cooperar com as negociações de paz; quando se recusou a dizer se o presidente russo pediu desculpas a Israel e ao comentar quais eram os planos militares de Moscou no sul do país invadido.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, durante a parada militar do Dia da Vitória, em Moscou
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, durante a parada militar do Dia da Vitória, em Moscou - Maxim Shemetov - 9.mai.22/Reuters

20. Olena Zelenska

Descrita pelo marido, o presidente Volodimir Zelenski, como o "alvo número 2" da Rússia —depois dele próprio—, a roteirista de 44 anos tornou-se símbolo público da resistência ucraniana. Opôs-se à entrada do marido na política, mas assumiu o papel tradicional das primeiras-damas e o manteve durante a guerra. Nas redes sociais, publica mensagens de resiliência e destaca o heroísmo do povo ucraniano. "Ninguém tira meu marido de mim, nem mesmo a guerra", disse Zelenska, em rara entrevista à imprensa.

​21. Vitali Klitschko

Natural do Quirguistão, a lenda do boxe ucraniano transformou a fama alcançada no esporte em um trampolim para a política —desde 2014 é prefeito de Kiev. Os cinturões acumulados, os 2,01 metros de altura e o apelido (Dr. Punho de Ferro) dão a Klitschko uma aura de super-herói, imagem que ele usa para estimular os moradores da capital a resistir. "Cada casa, cada rua, cada posto de controle resistirá até a morte se for necessário", disse o prefeito ainda nas primeiras semanas da guerra.

22. Serguei Choigu

Nomeado ministro da Defesa em 2012, é o número 2 na hierarquia das Forças Armadas da Rússia, atrás apenas de Putin, seu antigo companheiro de pesca. No comando militar, supervisionou a anexação da Crimeia e a intervenção russa na Síria. Em março, teve um "sumiço", levantando rumores sobre sua saúde e sobre possíveis discordâncias com o chefe. Zelenski chegou a fazer piada com o tema, e a resposta do Kremlin foi a de que o ministro tinha mais o que fazer além de ficar aparecendo na mídia.

23. Maria Zakharova

A primeira mulher porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia assumiu o cargo em 2015 já famosa pelo estilo afiado. Zakharova era presença frequente em programas de debate de TV e entrou na chancelaria com a promessa de "responder adequadamente a ataques não diplomáticos". Em fevereiro, zombou dos relatos da mídia ocidental que acusavam Moscou de preparar um ataque e pediu o calendário das invasões. "Gostaria de planejar minhas férias." Uma semana depois, a Rússia invadiu a Ucrânia.

A porta-voz da chancelaria da Rússia, Maria Zakharova, durante entrevista coletiva em Moscou
A porta-voz da chancelaria da Rússia, Maria Zakharova, durante entrevista coletiva em Moscou - Maxim Shipenkov - 14.jan.22/Pool/Reuters

24. Alexander Dvornikov

Desde abril, é o general responsável por comandar toda a operação russa na Ucrânia. Com experiência de combate na Tchetchênia e na Síria —onde ganhou o apelido de "açougueiro" devido à brutalidade dos ataques russos—, Dvornikov assumiu o comando no conflito atual em meio a uma série de reveses atribuídos por analistas militares à falta de objetivos unificados de Moscou. O general, porém, não é visto publicamente há duas semanas, o que tem gerado rumores de que ele pode ter sido dispensado do cargo.

25. Alexander Bortnikov

É diretor do FSB (serviço secreto da Rússia, herdeiro da KGB soviética) e membro do seleto grupo que compõe o círculo íntimo de Putin. Foi alvo de sanções ocidentais tanto em decorrência da Guerra da Ucrânia quanto pelo envenenamento do ativista Alexei Navalni, atribuído pelos EUA ao FSB. De acordo com o serviço de inteligência da Ucrânia, Bortnikov seria o mais cotado a substituir Putin após uma conspiração de membros da elite russa para remover o presidente do cargo.

26. Vladimir Jirinovski

Em 27 de dezembro do ano passado, Jirinovski subiu à tribuna da Duma, a Câmara baixa do Parlamento russo, e disse: "Às 4h de 22 de fevereiro, vocês vão sentir nossa nova política. Gostaria que 2022 fosse um ano pacífico. Mas eu amo a verdade, por 70 anos venho dizendo a verdade. Não será pacífico, será um ano em que a Rússia será grande novamente". O deputado, morto em 6 de abril, errou por dois dias o início do conflito, mas é preciso reconhecer que poucos previram que Putin de fato invadiria o país vizinho.

27. Vadim Boitchenko

"Estamos lutando, não vamos parar de defender nossa terra", disse Boitchenko, prefeito de Mariupol, pouco mais de uma semana após o início da invasão russa. Engenheiro de formação, iniciou a carreira na usina de Azovstal, que na guerra se tornaria o último reduto da resistência ucraniana na cidade. Em 26 de fevereiro, deixou Mariupol. Disse que estava sendo caçado e que sua casa foi atingida. Ao tentar retornar, teria sido impedido por combatentes russos e, mesmo de fora, continuou a relatar a destruição.

28. Dmitri Medvedev

Foi presidente da Rússia de 2008 a 2012 e premiê de 2012 a 2020. Atualmente, é o número 2 do Conselho de Segurança e um linha-dura que está entre os aliados mais próximos de Putin. Na Guerra da Ucrânia, tem feito críticas duras aos EUA e à Otan e ameaças de escalada nuclear, algumas das quais podem ter limitado o envio de ajuda militar à Ucrânia. Em reação às acusações de massacre em Butcha, disse que os corpos nas ruas eram "falsificações maturadas na imaginação cínica da propaganda ucraniana".

O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, durante entrevista em Moscou
O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, durante entrevista em Moscou - Iulia Zirianova - 25.jan.22/Sputnik/Pool/Reuters

29. Valeri Gerasimov

Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, é um dos homens de confiança de Putin. Ou era. Analistas dizem que seu papel na Guerra da Ucrânia —invadir e conquistar rapidamente o país vizinho— foi considerado ineficiente. Essa tese ganhou força quando outro general assumiu o comando das forças russas no país vizinho. No Dia da Vitória, Gerasimov foi uma das ausências mais sentidas. Houve rumores de que ele foi ferido durante uma visita surpresa à linha de frente na Ucrânia.

30. Nikolai Patruchev

No entorno de Putin, é considerado um dos homens mais leais e com grande influência sobre as decisões do presidente. Patruchev trabalhou com Putin na antiga KGB na era comunista e o sucedeu como chefe do serviço secreto. Atualmente, é secretário do Conselho de Segurança. Três dias antes do início da guerra, defendeu que Putin reconhecesse a independência de Lugansk e Donetsk. Mais recentemente, afirmou que Moscou não está preocupada com prazos para cumprir seus objetivos na invasão.

31. Valentina Matvienko

Raro rosto feminino no alto escalão do poder na Rússia, é a presidente do Conselho da Federação, a Câmara alta do Parlamento. Segundo analistas, tem pouca influência sobre Putin, mas supervisionou a votação que legitimou o envio de forças russas à Ucrânia. No dia da invasão, divulgou comunicado em que diz que os ucranianos "sofreram lavagem cerebral" e que o país se transformou num Estado nazista.

32. Viktor Zolotov

Foi raro uma autoridade russa admitir que o avanço no território ucraniano estava aquém do esperado. Esse papel coube, então, ao ex-guarda-costas de Putin e diretor da Guarda Nacional –unidade vista por analistas locais como seguro contra golpismos. Zolotov, 68, reconheceu em março que "nem tudo estava indo tão rápido" quanto os russos gostariam.

33. David Arakhamia

Político ucraniano, integrou o time de negociadores de Kiev que, por mais de uma vez, reuniu-se com os russos para tentar –sem êxito– um acordo de paz. Ele chamou a atenção ao comparecer aos encontros usando boné, numa informalidade que destoava dos demais. Arakhamia nasceu em Sochi, cidade hoje parte do território russo, viveu na Geórgia, mas fugiu para a Ucrânia em meio à guerra na Abkházia, região georgiana pró-Moscou. Liderou o partido Servo do Povo, de Zelenski, no Parlamento do país.

34. Serguei Narichkin

Chefe do Serviço de Inteligência Externo russo, ele já presidiu a Câmara baixa do Parlamento russo. Mas sua participação mais simbólica na guerra veio pouco antes de o conflito eclodir: numa reunião com Putin, Narichkin, 67, titubeou ao responder se a Rússia deveria reconhecer as autoproclamadas Donetsk e Lugansk. Destoando dos demais, diz que um ultimato deveria ser dado ao Ocidente antes disso. Putin questiona: "O que isso significa?". Depois de gaguejar, ele acaba concordando com o presidente.

Locais simbólicos

35. Usina nuclear de Zaporíjia

Tchernóbil, com seu tóxico sarcófago de chumbo, já despertara preocupação. Mas alarme mesmo veio na madrugada de 4 de março, quando uma ofensiva russa para tomar a maior usina nuclear da Europa iniciou um incêndio. Autoridades de Kiev chegaram a falar no risco de uma explosão com impacto muito superior ao de Tchernóbil, "o fim de tudo", nos superlativos de Zelenski. Construída nos anos 1980, com seis reatores, a usina fornecia um quarto da energia ucraniana. Está sob controle russo —e os riscos ali ainda hoje "nos mantêm acordados à noite", disse Rafael Grossi, da Agência Internacional de Energia Atômica.

Imagens de câmera de segurança mostram explosões na usina de Zaporíjia, na Ucrânia
Iluminador é lançado próximo a usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que foi tomada pelos russos em março - Zaporíjia NPP - 3.mar.2022/Reuters

36. Complexo de Azovstal

Se por semanas a guerra foi sinônimo dos combates em Mariupol (o "inferno", segundo quem de lá saiu), muito se deveu ao labiríntico complexo siderúrgico. Entocados entre bunkers e fornalhas, soldados na casa de 2.500, misturados a um número impreciso de civis, resistiram em condições insalubres, sob bombardeio intenso, por semanas. E só. Em 20 de maio, os últimos 531 se renderam. Para Kiev, o lugar, hoje um corredor para as forças russas entre a Crimeia e o Donbass, virou moeda de troca de prisioneiros.

37. Maternidade de Mariupol

A imagem estará nas galerias de fotos históricas do conflito: no pátio de árvores calcinadas e construções se desfazendo, cinco homens levam numa maca a grávida com olhar perdido e uma mão segurando a barriga. Os escombros fumegantes da "destruição colossal", segundo Zelenski, avivaram a acusação de crime de guerra. Moscou alegou que no local havia soldados ucranianos de prontidão, não pacientes. Kiev falou em quase 20 mulheres e crianças feridas. A da foto perdeu o bebê numa cesariana e pediu, segundo um cirurgião: "Me matem agora". Ela não resistiu.

38. Teatro de Mariupol

A ideia era que civis se encontrassem no teatro para formar um comboio humanitário e deixar a cidade. Mas ataques fizeram o ponto de parada virar abrigo, com pé-direito alto, paredes grossas e um porão. Com mais de mil pessoas se amontoando, o local ficou insalubre, e a ideia de escrever "crianças" na calçada veio para permitir a circulação delas próximo às janelas. Segundo a Ucrânia, não foi suficiente: o teatro virou alvo. A Rússia nega o ataque. Na guerra de versões, o número de vítimas é até hoje incerto.

39. Estações de metrô

Quando as explosões começaram, muitos que não tinham porão ou abrigo antibombas lembraram de outra estrutura a até 100 metros de profundidade: o metrô. Então, estações em cidades como Kiev viraram proteção. De transporte para 13 milhões de passageiros por mês, o metrô de Kharkiv se tornou moradia a até 700 pessoas. Corredores, escadas e vagões se transformaram em escola, quadra e quartos. E palco: Bono e orquestras locais se apresentaram aos entocados. Há pouco, o metrô de Kharkiv voltou a circular.

Ucraniana em barraca dentro de estação de metrô de Kiev, capital da Ucrânia
Ucraniana em barraca dentro de estação de metrô de Kiev, capital da Ucrânia - Lynsey Addario - 2.mar.22/The New York Times

40. Babi Yar

Oitenta anos após um dos mais sombrios massacres da Segunda Guerra, no qual 33 mil judeus foram enganados pelos nazistas para serem mortos empilhados numa ravina, seria simbólico que um ataque a uma torre de TV em Kiev em 1º de março danificasse o memorial Babi Yar. Zelenski disse que a ação havia atingido o local, Israel condenou o atentado pelo risco de violação da "santidade" do espaço, mas ao fim a estrutura para honrar a memória das vítimas do episódio em 1941 não foi diretamente atingida.

41. Butcha

Por difícil que seja nomear o horror da guerra, imagens talvez caibam para resumi-lo. No começo de abril, a Ucrânia chamou a imprensa a Butcha para denunciar valas comuns, mais de 400 corpos na rua, amarrados, baleados de modo aparentemente desvairado e atingidos por tiros de tanque ao dobrar a esquina. Tudo depois de semanas de atrocidades. A versão russa é a de que houve uma armação para incriminar Moscou, mas depois que as tropas de Putin deixaram a cidade a pressão do Ocidente se potencializou e o outrora moderno subúrbio de Kiev se tornou sinônimo de crime de guerra.

42. Donbass

No extremo leste da Ucrânia, a região esteve no cerne do conflito e, cada vez mais, ganha importância estratégica. Nela estão localizadas duas autoproclamadas repúblicas separatistas nas quais a população é majoritariamente russófona: Donetsk e Lugansk. Juntas, as áreas somam 4 milhões de habitantes. Putin reconheceu os territórios pouco antes de invadir o país vizinho e alega que, ali, Kiev pratica o crime de genocídio. Os combates foram intensificados na região ao longo das últimas semanas.

43. Kiev

Cidade de 2,8 milhões de habitantes, a capital carrega grande valor histórico, e até a grafia e a pronúncia de seu nome são alvo de disputa: os russos grafam Kiev e pronunciam "ki-iev", e os ucranianos, Kyiv e "ki-iv", respectivamente. Kiev também foi o nome do Estado que deu origem à Rússia, à Ucrânia e a Belarus. Ali convivia, sem diferenciação, a população que daria origem aos povos dos três territórios –fator usado por Putin para validar o argumento de que russos e ucranianos são um só povo.

44. Lviv

Na porção oeste da Ucrânia, a cidade de 700 mil habitantes se tornou uma espécie de cordão umbilical entre o país e as nações do Ocidente. A cerca de 70 km da fronteira com a Polônia, Lviv passou a receber deslocados internos e centenas de milhares de pessoas que, dali, tomavam trens em direção a países vizinhos para fugir. A cidade permaneceu sob controle de Kiev, mas chegou a ser atacada pelos russos mais de uma vez.

Prisioneiros de guerra

45. Viktor Medvetchuk

Compadre de Vladimir Putin, deputado, ponte entre Kiev e Moscou. Em meio à escalada nas tensões entre os dois países, o oligarca era apontado como potencial governante-títere no caso de uma rápida vitória russa. Como ela não veio, ele passou a alvo de sanções, foragido acusado de traição, dirigente de partido banido e, por fim, preso de guerra. Um lado lavou as mãos, outro apresentou acusações, a família falou em agressão. Medvetchuk aguarda o fim da guerra de versões para saber seu destino.

46. Vadim Chichimarin

Parecendo assustado, de cabeça baixa na cela de vidro, Vadim Chichimarin, 21, admitiu: atirou, sem querer matar, mas matou. Oleksandr Chelipov, civil de 62 anos, morreu em 28 de fevereiro. O advogado disse que o soldado russo disparou para cumprir ordens, temendo por sua segurança e torcendo para não acertar o alvo. Moscou reclamou por não poder acompanhar o caso, e Kiev condenou o militar a prisão perpétua. O primeiro julgamento do tipo na Ucrânia indica os limites da Justiça da guerra.

O soldado russo Vadim Chichimarin escuta sentença em tribunal de crimes de guerra, em Kiev
O soldado russo Vadim Chichimarin escuta sentença em tribunal de crimes de guerra, em Kiev - Serguei Supinski - 23.mai.22/AFP

Equipamentos militares e de infraestrutura

47. T-72

Modelo soviético usado pelos dois lados, em versões mais ou menos modernizadas, é o principal tanque em ação na guerra. Analistas viram o fracasso de seu uso como um epitáfio do armamento, mas na realidade o problema foi de emprego: os russos os expuseram a fogo antitanque sem apoio de infantaria leve. Com a destruição de lado a lado, os ucranianos receberam mais de 200 T-72 antigos da vizinha Polônia, e os russos apelaram a blindados antigos de suas reservas.

48. Javelin e NLAW

Lançadores portáteis de mísseis antitanque, respectivamente americano e sueco-britânico, são as armas que simbolizam o sucesso de Kiev em repelir a primeira onda de ataque russa à capital e ao norte do país. Os russos foram pegos de surpresa por uma tática inventada pelos soviéticos nos anos 1960, deixando suas colunas blindadas expostas a ações rápidas dos ucranianos. As armas foram enviadas por americanos, britânicos e suecos, entre outros que repassaram modelos parecidos.

49. Moskva

Cruzador soviético e nau capitânia da Frota do Mar Negro russa, o navio foi a mais simbólica perda de Moscou na guerra. Seja pela versão mais provável, abalroado por dois mísseis antinavio de Kiev, ou por um incêndio no paiol de armas, como diz Moscou, o episódio foi vergonhoso para a Marinha que reina soberana nas águas em torno do conflito. O cruzador, com sistemas obsoletos de defesa, não estava em operação direta de combate, mas dando apoio de comunicação e controle aéreo perto de Odessa.

50. Su-34

Caça-bombardeiro tático e estrela do arsenal de Putin, o avião já tinha sido usado na Síria, sem oposição antiaérea. Na Ucrânia, um número incerto já foi derrubado, resultado de tática de seus pilotos, que voaram muito baixo para fugir do fogo de baterias de média altitude e acabaram expostos ao fogo de lançadores portáteis de mísseis. O arranhão inicial parece ter confirmado a preferência de Moscou em usar mísseis de longo alcance, sem expor tanto suas aeronaves.

51. Su-25 e MiG-29

O Su-25 é o principal avião em uso na guerra, modelo soviético de ataque a solo empregado pelos dois lados. A frota de Kiev, estimada em 31 antes da guerra, ainda tem alguns exemplares voando. No caso dos MiG-29, o modelo só tem sido utilizado pela Ucrânia, e há rumores de que os caças só estão no ar porque receberam peças e assistência de países da Otan que o utilizam, como a Polônia. O velho combatente soviético ainda dá caldo: derrubou, na semana passada, um moderno Su-35S russo.

52. Antonov An-225

O Mria, maior avião do mundo, não participou da guerra, mas foi uma de suas primeira vítimas. Na batalha pelo controle do aeroporto de Hostomel, no qual estava abrigado no hangar da fabricante Antonov, o aparelho foi atingido —provavelmente por fogo amigo, segundo relatos. Um monstro com seis turbinas, o An-225 fora construído na Ucrânia soviética e por lá ficou. Um grupo de entusiastas de aviação agora quer fazer uma vaquinha para reconstruí-lo, mas é algo na casa dos US$ 3 bilhões.

53. Bayraktar-TB2

Drone turco que ganhou os olhos do mundo militar ao ser usado pelo Azerbaijão contra forças armênias, com sucesso, em 2020, ele havia sido fornecido já antes da guerra por Ancara a Kiev. Virou estrela na internet, com suas câmeras registrando ataques precisos a colunas blindadas e a soldados russos. Há um debate sobre seu impacto geral contra os invasores, mas é inegável que pontificam propaganda eficaz.

54. Nord Stream 2

Gasoduto que liga a Rússia à Alemanha, foi concluído em 2021 e colocado na geladeira durante a transição do governo Merkel-Scholz. Com a guerra, sua operação foi suspensa. Segundo ramal de obra já existente, era o símbolo da sinergia energética entre Europa e Kremlin, com a vantagem de tirar o trânsito de gás das vias pela Ucrânia, privando assim Kiev do pedágio. Agora, tudo está em suspenso enquanto os europeus tentam achar alternativas ao fornecimento russo (40% de seu consumo).

Jornalistas

55. Eugeni Sakun

A primeira morte confirmada de um jornalista na Guerra da Ucrânia foi a do cinegrafista ucraniano que trabalhava para o canal Kiev Live TV. Ele foi atingido no dia 1º de março durante bombardeio a uma torre de rádio e televisão na capital do país. Ao todo, cinco pessoas morreram durante o ataque. O episódio provocou reações de organizações que defendem a liberdade de imprensa, entre as quais a Repórteres Sem Fronteiras, que divulgou comunicado alertando que "mirar jornalistas é um crime de guerra".

56. Brent Renaud

Documentarista premiado, o americano de 50 anos registrou as guerras do Iraque e do Afeganistão, os efeitos do terremoto no Haiti e a disputa entre cartéis de drogas no México antes de chegar à Ucrânia para a cobertura da ofensiva russa. Foi baleado e morto em março, perto da cidade de Irpin, na primeira baixa de um repórter estrangeiro no conflito. Em um primeiro momento foi identificado como repórter do New York Times, mas o jornal americano informou que ele colaborou para o diário pela última vez em 2015.

O jornalista Brent Renaud, que documentou países em conflito como Afeganistão, Iraque e Líbia
O jornalista Brent Renaud, que documentou países em conflito como Afeganistão, Iraque e Líbia - Universidade do Arkansas/Divulgação

57. Pierre Zakrzewski e Oleksandra Kuvshinova

O cinegrafista francês e a produtora ucraniana trabalhavam para o canal americano Fox News e foram mortos durante ataque nos arredores de Kiev que também atingiu o veículo em que estavam. Veterano em coberturas de conflitos, Zakrzewski, 55, foi descrito por colegas como um profissional de espírito positivo, energia ilimitada e faro para a notícia. Kuvshinova, 24, conhecida como Sasha, tinha sido contratada para auxiliar profissionais da emissora com a produção de reportagens e traduções.

58. Maks Levin

O fotógrafo e documentarista de 40 anos foi encontrado morto em abril próximo a Kiev. Além da perda, a família e os quatro filhos de Maks Levin tiveram de suportar três semanas em que o ucraniano ficou desaparecido. A ONG Instituto de Comunicação de Massas, citando informações da promotoria do país, comunicou que o jornalista estava desarmado e foi atingido por dois tiros. Ele trabalhou para vários meios de comunicação ucranianos e internacionais. Desde 2013 colaborava com a agência de notícias Reuters.

59. Frederic Leclerc-Imhoff

"Frederic Leclerc-Imhoff estava na Ucrânia para mostrar a realidade da guerra", escreveu nas redes sociais o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre o jornalista da rede BFM morto na segunda (30) durante a retirada de civis perto de Severodonetsk, na região do Donbass. O francês de 32 anos foi atingido no pescoço por estilhaços que romperam o blindado ucraniano em que viajava. O governo da Ucrânia acusa os russos de terem atirado. A chanceler francesa, Chatherine Colonna, disse que o ataque foi um crime.

60. Robert Dulmers

O jornalista holandês de 56 anos foi expulso da Ucrânia pelo Serviço de Segurança da Ucrânia por ter publicado em uma rede social imagens de depósitos de combustível em chamas após um ataque russo com mísseis em Odessa, no sul do país. Segundo autoridades, ele violou a lei que proíbe filmar alvos militares. A norma é objeto de contestação por ser altamente restritiva. Dulmers, que trabalha para o jornal Nederlands Dagblat, tinha credenciamento regular e foi proibido de voltar à Ucrânia por três anos.

61. Aleksandr Nevzorov

O russo de 63 anos era um popular apresentador de TV antes da guerra. Em março, foi a primeira pessoa enquadrada por Moscou na lei que proíbe a publicação de "informações falsas" sobre o conflito. Ele é acusado de agir com má fé na divulgação de um bombardeio russo contra uma maternidade na cidade de Mariupol e pode pegar pena de até 15 anos de prisão. Em maio, passou a ser procurado pela Justiça.

62. Marina Ovsiannikova

Era só mais uma edição do programa Vremia (Tempo), no estatal russo Canal Um, até que a jornalista surpreendeu os telespectadores ao aparecer ao vivo, atrás da apresentadora, gritando pelo fim da guerra e exibindo um cartaz com frases como "não acreditem na propaganda" e "aqui todos mentem". A cena viralizou, e Ovsiannikova acabou no banco de réus e foi multada pelo ato. Depois de se demitir, foi contratada pelo jornal alemão Die Welt.

Vítimas

63. Vinicius de Andrade

Ex-militar da Marinha, o brasileiro pretendia se alistar no Exército ucraniano e foi dado como desaparecido em abril. Vinicius viajou com um amigo —não identificado— e fez contato pela última vez em Varsóvia, capital da Polônia, segundo pessoas próximas. Dali, ele planejava seguir para a fronteira com a Ucrânia. Os perfis mantidos pelo brasileiro foram excluídos das redes sociais. Seu paradeiro ainda é desconhecido.

64. Olga Sukhenko

As imagens aéreas de valas cheias de cadáveres são um símbolo do conflito e um argumento dos que defendem o julgamento da Rússia por crimes de guerra. Em uma dessas covas, na pequena Motijin, perto de Kiev, foram encontrados, em 2 de abril, os corpos da prefeita Olga Sukhenko, 50, e de seu filho. Segundo a Ucrânia, eles foram sequestrados e torturados por se recusarem a colaborar com os russos. O marido de Olga, que insistiu para ser levado com ela, também foi morto e achado em um cano de esgoto.

65. Família Perebinis

O trágico destino de uma família morta a tiros ao tentar fugir de Irpin, no subúrbio de Kiev, foi registrado pela fotógrafa Lynsey Addario, para o New York Times. Tetiana Perebinis, 43, e os filhos Mikita, 18, e Alisa, 9, tentavam deixar a cidade após um bombardeio ao prédio onde moravam. O marido dela, Serhi, estava cuidando da mãe, com Covid, em Donetsk, no leste, e ficou retido lá após o início da guerra. A guardas que o pararam na fronteira ele disse: "Façam o que quiserem comigo. Não tenho mais nada a perder".

Membros da família Perebiinis após serem mortos em ataque russo, nos arredores de Kiev
Membros da família Perebiinis após serem mortos em ataque russo, nos arredores de Kiev - Lynsey Addario - 6.mar.22/The New York Times

66. Andrei Sukhovetski

Morto no front, o general russo faz parte de um dado incômodo para o Kremlin: o grande número de baixas de oficiais de alta patente na Ucrânia. Segundo o New York Times, 12 generais das tropas russas morreram nos primeiros dois meses de guerra —o dobro do registrado em dez anos de campanha militar soviética no Afeganistão. O jornal diz que a inteligência americana ajudou a localizar esses oficiais. A Rússia contesta algumas dessas mortes, mas a de Sukhovetski foi divulgada pela mídia estatal.

67. Iuri Illich Prilipko

Prefeito de Hostomel, cidade a noroeste de Kiev, Prilipko morreu enquanto distribuía pão e remédios para pessoas doentes, afirmou o município em um comunicado. "Ninguém o obrigou a enfrentar as balas inimigas. Ele poderia, como centenas de outros, se esconder em um porão. Mas ele tomou sua decisão", diz a nota. "Ele morreu por sua comunidade, morreu como um herói."

68. Boris Romantschenko

Em 1942, quando tinha 16 anos, Romantschenko foi deportado para a Alemanha por nazistas que ocupavam a Ucrânia e sobreviveu a três campos de concentração. Aos 96, o ucraniano fo i morto após o prédio onde vivia em Kharkiv ser atingido por uma bomba. Doente e com problemas de locomoção, morava sozinho num apartamento no oitavo andar. "Isso é o que os russos chamam de 'operação desnazificação'", criticou o chefe de gabinete da Presidência ucraniana, ao comentar a morte.

Dissenso e alvos de protestos

69. Oleg Tinkov

Um dos empreendedores mais famosos da Rússia, o magnata criticou a ofensiva de Moscou e evidenciou o dissenso presente mesmo entre a elite política e econômica no país sobre a decisão de Putin de invadir o vizinho. "Noventa por cento dos russos são contra essa guerra insana. Dez por cento pintam o 'Z' [símbolo da invasão] porque são idiotas, mas todo país tem 10% de idiotas", escreveu nas redes sociais. Ele mora em Londres e, no começo da guerra, foi alvo de sanções que impediram acesso a seus bens.

70. Anatoli Tchubais

O russo de 66 anos foi um dos últimos elos entre o Kremlin de Putin e o Ocidente. Fundamental para a tentativa de Moscou de se relacionar com Europa, EUA e aliados, deixou o posto de assessor especial do presidente em março, pouco depois do início da guerra. O Kremlin confirmou sua saída citando "motivos pessoais". Liberal convicto, também é considerado o "pai" do programa de privatizações russo.

71. Lilia Gildeeva

A âncora estava havia 16 anos à frente do programa Hoje, do canal de TV NTV, mas fugiu da Rússia em março. Ela disse que deixou o país com medo de não conseguir sair depois —embora não tenha citado o motivo óbvio, a Guerra da Ucrânia. A NTV foi o primeiro canal a sofrer intervenção do governo Putin, em 2001, quando foi tirado de um oligarca rival do Kremlin e comprado pela estatal Gazprom. Gildeeva nem de longe parecia uma opositora: recebeu duas vezes uma comenda de Putin por seu trabalho.

72. Serguei Andreev

O embaixador russo na Polônia protagonizou uma das imagens mais emblemáticas do conflito, mesmo longe do front. Em maio, durante caminhada para depositar flores no Cemitério Militar Soviético em Varsóvia, em evento que marcou o 77º aniversário da vitória sobre os nazistas, Andreev foi atingido por tinta vermelha. Um vídeo da cena viralizou. Andreev estava cercado por manifestantes, alguns com bandeiras ucranianas, que aos gritos o chamavam de fascista. O diplomata não se feriu.

73. Dmitri Muratov

O jornalista russo, vencedor do Nobel da Paz de 2021 ao lado da filipina Maria Ressa, também foi atacado em um trem com tinta vermelha. O ato em Moscou seria um protesto contra o posicionamento do jornal que dirige, o Novaia Gazeta, em relação à Guerra da Ucrânia. Em abril, a publicação suspendeu suas atividades até o fim do conflito, em meio ao cerco à imprensa profissional no país. Muratov já havia retirado das páginas do jornal o noticiário sobre a invasão, mas continuou cobrindo temas correlatos.

Refugiados

74. Oleg

Entre trocas de acusações, corredores humanitários travaram enquanto combates seguiam. Num cenário em que até a Cruz Vermelha se retirou, civis se viram forçados a se arriscar para buscar quem ficou para trás em Mariupol. Oleg, 47, contou à Folha sua empreitada, que demandou quatro tentativas e um trajeto de quatro horas cumprido em quatro dias. Num carro velho, ele espremeu o filho, a ex-mulher, a ex-sogra e um retrato da mãe —única lembrança dela que pôde recuperar. Só no meio do caminho de volta se permitiu chorar. Ele ainda voltaria para tentar buscar mais parentes.

75. Clara Magalhães

Enquanto na fronteira com a Polônia formavam-se filas quilométricas de pessoas tentando atravessar da Ucrânia para o outro lado, Clara Magalhães, 31, fazia o trajeto contrário. A brasileira —que foi de carro da Alemanha, onde mora, até a cidade polonesa de Medyka— fez viagens de ida e volta durante semanas, oferecendo carona a desconhecidos que buscavam uma saída. Clara também criou a Frente BrazUcra, grupo de voluntários que ajudam os afetados pelo conflito.

76. Mikaela

A bebê passou os primeiros dias de vida num abrigo antibombas. Nascida em Kiev, mas de nacionalidade brasileira, ela foi gestada em uma barriga de aluguel na Ucrânia, destino popular entre estrangeiros que buscam o procedimento. Seus pais, Kelly e Fábio Wilke, tinham ido ao país buscar Mikaela quando foram surpreendidos pela guerra. Protegeram-se por dias no subsolo de um restaurante, com mais dez crianças e casais na mesma situação. Após várias tentativas, conseguiram sair de trem e voltar com a filha.

77. Júnior Moraes

Depois de a invasão russa obviamente ter interrompido campeonatos esportivos, dezenas de brasileiros que jogavam em times de futebol da Ucrânia buscaram deixar o país. Júnior Moraes, à época no Shakthar Donetsk, foi um deles. Retido com outros atletas e suas famílias, ele pediu ajuda nas redes sociais. "A situação é grave e estamos presos em Kiev esperando uma solução para sair! Estamos dentro de um hotel. Orem por nós!", escreveu o jogador, naturalizado ucraniano. O grupo conseguiu sair, dias depois, em um comboio organizado pela embaixada brasileira.

78. Olga Ponomarenko

Natural de Donetsk, no Donbass, Olga Ponomarenko, 41, não sabia quase nada sobre o Brasil nem tinha ideia de como pronunciar "São José dos Campos". Agora, vive na cidade do interior paulista com a mãe e dois filhos e faz aulas de português ao lado de outros refugiados. Cristã, Olga integra um grupo resgatado por uma missão evangélica que tem levado ucranianos para o Brasil. Ela ainda não sabe por quanto tempo ficará. "Vivemos um dia de cada vez. Nos sentimos seguros, é o que importa no momento."

79. Daiane Anzolin

Com milhões de pessoas fugindo da Ucrânia para a Polônia, voluntários se mobilizaram para recebê-los. Entre eles, brasileiros em Cracóvia, como Daiane Anzolin, 38.​ Ela e o noivo foram à estação de trem oferecer ajuda aos recém-chegados e hospedaram vários refugiados em seu apartamento. Quando falou com a Folha, Daiane dormia na sala para ceder seu quarto a duas refugiadas. "São pessoas que deixaram pai, filho lá, perderam parentes, viajaram por dias. Fazemos o possível para deixá-las mais à vontade."

80. Konstantin B.

Trabalhando para empresas de defesa, Konstantin está preocupado. Não gosta de Putin, mas diz acreditar que a Rússia deveria ter "resolvido a questão com a Ucrânia em 2014, quando ela estava fraca" e teme pelo desfecho da guerra. Pessoalmente, teve de cancelar duas participações em seminários nos EUA e na França. "Viramos a escória do mundo", disse ele, que viu seu cartão de crédito internacional desconectado no segundo mês da guerra. "Nada vai ser igual a antes, mas é o preço pelo atraso na ação."

81. Silvana Pilipenko

Entre as centenas de brasileiros que estavam na Ucrânia quando a guerra começou, a artesã Silvana Pilipenko, 54, viveu umas das situações mais críticas. Com o marido ucraniano, ela ficou cercada por semanas em Mariupol, quando o cerco russo à cidade levou à falta de água e alimentos e a cortes de energia e comunicação. A família no Brasil ficou sem notícias dela por 27 dias, até conseguir contato no fim de março. Silvana por fim conseguiu fugir para a Crimeia e voltou a João Pessoa em 10 de abril.

Silvana Pilipenko, 54, paraibana que morava havia 27 anos na Ucrânia e voltou ao Brasil
Silvana Pilipenko, 54, paraibana que morava havia 27 anos na Ucrânia e voltou ao Brasil - Reprodução

82. Korrine Sky

Não bastasse a tensão inerente à fuga de uma guerra, imigrantes negros na Ucrânia dizem ter enfrentado dificuldades adicionais: vários postaram relatos contando que foram barrados em trens, ônibus e nas fronteiras, por motivos racistas. Uma delas foi a estudante de medicina britânico-zimbabuana Korrine Sky. Depois de publicar um desabafo em vídeo sobre como foi tratada ao cruzar para a Romênia, ela escreveu um artigo na revista Nature com o título "Nem todos os refugiados são iguais na fronteira da Ucrânia".

83. Mikhail P.

Mikhail, 41, foi um dos que se assustaram com a implantação de leis draconianas contra russos que falassem mal da guerra, ou mesmo a chamassem assim. "Vim para Riga [Letônia], onde tenho parentes. Não acho que poderei voltar tão cedo." Ele segue seu trabalho de consultoria para empresas ocidentais, mas a demanda caiu em 50%. "Pelo menos aqui é mais barato do que em Moscou", disse. Deixou para trás a namorada, que segue trabalhando em um banco, e os pais. "Eles acham que eu sou um desertor."

84. Anna Rudavina

Anna deixou sua casa em Cracóvia, que não foi atingida pelas bombas russas, e refugiou-se numa fazenda de conhecidos a oeste de Kharkiv, onde trabalha como gerente de marketing numa rede de spas e hotéis. Temia não voltar. Ficou fora em março e abril, e agora voltou à cidade, esperando encontrar a normalidade vendida na TV ucraniana após o recuo russo na região, no mês passado. "Tudo está diferente, e há sons de bombas ao longe. O 23 de fevereiro [véspera da invasão] nunca mais chegará", afirma a jornalista.

Extremistas

85. Batalhão Azov

A guerra da Crimeia fez florescer na Ucrânia células de extrema direita que alimentaram o discurso fantasioso de Putin de que o Estado vizinho é nazista. Mas fato é que o batalhão tem essa inspiração —a ponto de ter adotado insígnia associada à SS, há pouco abandonada, segundo o jornal The Times. O grupo foi integrado à Guarda Nacional e no conflito atual treinou civis, com papel central em embates como o da usina de Azovstal, em Mariupol, "capital espiritual" do batalhão que conta com pouco mais de mil homens.

86. Taras Bobanitch

Na alegada luta de Putin para "desnazificar" a Ucrânia, o Pravi Sektor (Setor Direito) tem papel de destaque. O grupo paramilitar de extrema direita se formou em 2013, combateu na guerra da Crimeia e virou partido político. Banido na Rússia, que considera a legenda terrorista e neonazista, teve bandeiras presentes em atos bolsonaristas. O vice-comandante Bobanitch, segundo Moscou, defendia a tese da superioridade da raça ucraniana e executou falantes de russo no Donbass. O Ministério da Defesa anunciou sua morte em abril; o Pravi Sektor o chamou de "lendário nacionalista".

Membros de dois grupos extremistas da Ucrânia, o Batalhão Azov e o Setor Direito, reunidos durante manifestação em Kiev; nas bandeiras empunhadas, está o símbolo de um tridente, brasão do país
Membros de dois grupos extremistas da Ucrânia, o Batalhão Azov e o Setor Direito, reunidos durante manifestação em Kiev; nas bandeiras empunhadas, está o símbolo de um tridente, brasão do país - Gleb Garanich - 14.out.16/Reuters

87. Denis Puchilin

Antes de a guerra estourar, era nas províncias de Lugansk e Donetsk, de grande população russófona, que a tensão pulsava. Em 2014, Puchilin já se referia à Ucrânia como "país vizinho". Nas autoproclamadas repúblicas populares se deram paroxismos que, dia a dia, desembocaram na invasão russa. Retirada de civis sob acusação de iminente ação de Kiev, mobilização militar, reconhecimento da independência por Moscou. Dirigente pró-Kremlin em Donetsk, Puchilin coordena as ações separatistas. Em 9 de maio, Dia da Vitória, liderou a marcha de uma fita de São Jorge de 300 metros, símbolo patriótico russo, em Mariupol.

88. Ramzan Kadirov

Centrais para a formação da Rússia sob liderança de Putin, as brutais guerras da Tchetchênia terminaram com a ascensão da família Kadirov, aliada a Moscou. Ramzan, o filho, assumiu em 2007 e reconstruiu a região implantando uma autocracia. Na guerra, como "soldado raso" de Putin, tornou-se bastião de irascível fidelidade: desmentiu negociador que falou em concessões, fez provocações à Ucrânia, mobilizou militares —os tchetchenos atuaram em locais como Mariupol e Popasna.

Histórias marcantes

89. Fantasma de Kiev

O personagem de um vídeo que circulou nas redes representava um piloto ucraniano que supostamente derrubou dezenas de unidades da Força Aérea da Rússia. O material foi compartilhado como verídico por autoridades e ministérios do país, incluindo o da Defesa –mas era falso. O fantasma havia sido tirado de um game de simulação de combate. O episódio foi um em meio a milhares que representaram a desinformação na guerra.

90. Amelia Anisovitch

A menina de 7 anos de idade viralizou nas redes cantando "Let it Go", trilha sonora de "Frozen: Uma Aventura Congelante", em um bunker, onde estava com sua família para se proteger dos bombardeios em Kiev no mês de março. Ao lado do irmão, Misha, 15, e da avó, refugiou-se na Polônia. Lá, foi convidada para cantar o hino nacional ucraniano em um estádio lotado. Mais de 260 crianças, que também constituem a maior parte dos refugiados da guerra, morreram no conflito.

91. Palianitsa

Quando um soldado ucraniano deseja se certificar de que não está lidando com um infiltrado russo, essa é a estratégia: "Diga palianitsa!". O termo dá nome a um tradicional pão artesanal ucraniano. Os russos, no entanto, têm dificuldade de pronunciar a palavra. Rússia e Ucrânia têm idiomas que dividem o mesmo alfabeto –o cirílico– e são originados no eslavo oriental. A língua já foi motivo de conflito, como, por exemplo, em 2019, quando Kiev tornou o ucraniano obrigatório no setor público.

92. Mamãe Falei

O ex-deputado Arthur do Val (União Brasil) visitou a Ucrânia e publicou fotos nas redes sociais ajudando na produção de coquetéis molotov. Dias depois, vieram à tona áudios de teor sexista nos quais falava de refugiadas da guerra –dizia, entre outras coisas, que elas são "fáceis" por serem pobres. Ele admitiu o erro, retirou sua candidatura ao Governo de São Paulo e teve o mandato cassado pela Assembleia Legislativa estadual. Mulheres formam a maioria dos refugiados da guerra.

93. Victoria Bonia

A influenciadora russa de 42 anos, com um perfil de 9,2 milhões de seguidores no Instagram, publicou um vídeo cortando com uma tesoura uma bolsa Chanel vendida por milhares de dólares. "Se a Chanel não respeita seus clientes, por que nós devemos respeitar a Chanel?", disse. A ação foi uma resposta à política adotada pela empresa, de suspender suas operações na Rússia e passar a pedir a clientes em suas lojas globais para atestar que os artigos que compram não serão usados na Rússia.

94. Oleg Sentsov

Um dos nomes mais conhecidos do cinema ucraniano, o diretor do filme "Rhino", vencedor do Festival de Veneza em 2021, foi para a região do Donbass. Ele tem usado as redes sociais para compartilhar seu cotidiano como soldado –muitos trabalhadores da área da cultura tiveram de abandonar sua profissão para se alistar no Exército desde a invasão russa. "Os Rhinos foram à guerra", disse ele numa publicação.

95. Hassan al-Khalaf

A Guerra da Ucrânia forçou a família do garoto de 11 anos a se tornar refugiada pela segunda vez. Três semanas após a invasão russa, ele atravessou o país sozinho com destino à vizinha Eslováquia, que já recebeu mais de 461 mil imigrantes ucranianos. Após uma viagem de 1.600 km de trem e a pé, com duração de mais de um dia, encontrou-se com a família, que emigrou aos poucos. Sírios, eles já tinham fugido da guerra civil em seu país natal, onde a Rússia apoia a ditadura de Bashar al-Assad.

96. Roman Gribov

O soldado ucraniano foi condecorado por Kiev após ter supostamente participado da resistência na ilha de Cobra, no mar Negro. Ali, em 25 de fevereiro, tripulantes russos exigiram que militares ucranianos se rendessem, ao que Gribov respondeu: "Vá se f*!". A gravação não foi confirmada de maneira independente, mas a cena, ilustrada com um soldado mostrando o dedo do meio para os russos, estampou um selo nacional que, comercializado, arrecadou milhões para as Forças Armadas da Ucrânia.

97. Luka Zatravkin

O pianista russo se algemou à porta de uma lanchonete do McDonald's na Rússia, em março, para protestar contra a suspensão das operações da rede de fast food no país —a chegada da marca à então União Soviética, em 1990, foi especialmente simbólica. "Eles não têm o direito de fechar!", dizia ele, antes de ser levado por policiais. O protesto foi em vão. Em maio, o McDonald's confirmou que pôs à venda a cadeia russa de 850 restaurantes que empregam 62 mil pessoas. "Os negócios na Rússia não são consistentes com nossos valores", afirmou a empresa, em comunicado.

Alvos de sanções

98. Filhas do Putin

Maria Vorontsova e Katerina Tikhonova, as duas filhas do presidente russo, foram alvo de sanções dos EUA e do Reino Unido, que buscam asfixiar financeiramente o núcleo familiar próximo ao líder do Kremlin —nenhuma delas confirma publicamente o parentesco com Putin, no entanto. Katerina é executiva de tecnologia e trabalha para o governo na indústria de defesa. Maria lidera programas que receberam bilhões de dólares do Kremlin para pesquisas genéticas.

99. Alina Kabaeva

Medalhista olímpica, a ex-ginasta e hoje diretora de um conglomerado de mídia pró-Kremlin seria a namorada secreta e mãe de três filhos do líder russo, segundo a imprensa ocidental. Seu nome emergiu durante a guerra depois de o Wall Street Journal noticiar que, a despeito de ter entrado na mira de sanções econômicas americanas, Kabaeva acabou poupada delas, pelo temor de Washington de que as tensões com Moscou pudessem piorar. Ela vive na Suíça, e uma petição online já pediu que fosse expulsa do país.

Alina Kabaeva, suposta namorada de Putin
Alina Kabaeva, suposta namorada de Putin - BBC News Brasil

100. Roman Abramovich

A guerra cruzou fronteiras nas retaliações impostas ao oligarca russo, dono de fortuna avaliada em US$ 13 bilhões e próximo a Putin —ele chegou a integrar uma comitiva russa em diálogos para um cessar-fogo. No Reino Unido, recebeu sanções e se viu forçado a anunciar, em março, que venderia o Chelsea, do qual era dono, prometendo doar o dinheiro para ajudar o povo ucraniano. Em Portugal, onde tinha cidadania por ser descendente de judeus sefarditas, viu uma investigação sobre a obtenção de sua nacionalidade ser acelerada. O país acabou alterando a lei e restringindo o acesso ao benefício nesses casos.

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