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Carlos França

ONU se mostra incapaz de tomar decisões na Guerra da Ucrânia

Brasil, na presidência do Conselho de Segurança, buscará diálogo para fim do conflito armado

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Carlos França

Ministro das Relações Exteriores do Brasil no governo de Jair Bolsonaro

A primeira participação do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas remonta a 1946. Membro fundador da ONU, o país fez parte da primeira configuração do Conselho, naquela época ainda sediado em Londres, e foi o segundo país a exercer sua presidência rotativa.

Com a Europa destruída e o mundo convulsionado pelos efeitos da Segunda Guerra, coube ao representante brasileiro, o embaixador Cyro Freitas-Valle, conduzir, por um mês, os trabalhos daquele recém-criado mecanismo de segurança coletiva.

Em seus primeiros meses de atuação, o Conselho de Segurança esteve às voltas com reclamações levantadas pela Síria e pelo Líbano contra a presença de tropas britânicas e francesas em seus territórios. O Brasil votou contra a permanência dos militares estrangeiros naqueles países e em favor dos princípios da não intervenção e da igualdade soberana dos estados, hoje consignados na Constituição Federal como norteadores das relações exteriores do Brasil.

Reunião do Conselho de Segurança da ONU na sede da entidade, em Nova York
Reunião do Conselho de Segurança da ONU na sede da entidade, em Nova York - Loey Felipe - 3.jun.21/ONU via Xinhua

No mês de julho, o Brasil exercerá novamente a presidência do Conselho de Segurança, como fez inúmeras vezes, em seus 11 mandatos no órgão, ao longo dos 75 anos de existência da ONU. Os desafios à paz e à segurança internacional continuam significativos, e atualmente voltam a se acirrar as divergências no Conselho, como o foram durante os longos anos de Guerra Fria.

O conflito na Ucrânia potencializou os embates no Conselho e vem gerando, além do grande sofrimento humano, fortes distúrbios sistêmicos, que afetam a segurança energética e alimentar de todo o mundo. O órgão tem se revelado incapaz de tomar decisões a respeito da situação na Ucrânia —mesmo sobre questões que deveriam unir todos os membros, como a garantia de acesso para a assistência humanitária e a proteção de civis.

Diante dessas tensões geopolíticas, a diplomacia brasileira buscará, durante sua presidência do Conselho de Segurança, abrir espaços de diálogo entre os membros com vistas a favorecer a construção de soluções para os desafios à paz e à segurança internacional constantes da agenda do órgão naquele mês.

A situação na Ucrânia seguramente será tratada da perspectiva de seu impacto sobre a segurança alimentar mundial, mas também será necessário insistir na promoção de diálogo sério que leve à cessação do conflito armado.

Estarão, também, na agenda da presidência brasileira, negociações importantes sobre os mandatos da ONU na Líbia, na Síria, no Haiti, no Chipre e no Iêmen, além de discussões sobre a missão de paz na Colômbia, temas humanitários e crianças em situação de conflito armado.

Há, pelas razões já apontadas, a necessidade urgente de ampliar a representatividade dos Estados-membros da ONU no Conselho, de forma que suas discussões e decisões ganhem em legitimidade. Em 1945, havia 51 Estados-membros na organização, dos quais 11 ocupavam assentos no Conselho de Segurança. Hoje, são 193 membros e apenas 15 sentam-se no Conselho –dos quais cinco como membros permanentes.

O Brasil continua a defender uma reforma abrangente da organização, inclusive da configuração do Conselho de Segurança. E continuamos sendo um dos melhores candidatos a membro permanente, em representação do mundo em desenvolvimento e de nossa região, a América Latina e o Caribe, que nunca contou com um membro permanente, como é o caso também da África.

Ao exercer a presidência do Conselho de Segurança em julho de 2022, o Brasil reafirmará suas sólidas credenciais para ocupar um assento permanente no órgão.

Em 12 de julho, terei a honra de presidir debate aberto do Conselho de Segurança sobre o tema da comunicação estratégica em missões de paz, com a presença do secretário-geral da ONU. As missões de paz da ONU são criadas com o objetivo de ajudar na manutenção da paz pós-conflito e na construção dos meios para uma paz duradoura. São cada vez mais complexas e trazem altos riscos para os capacetes azuis.

A comunicação estratégica visa a coibir a violência, promover o respeito aos direitos humanos e apresentar à população local e a todos os atores envolvidos os objetivos da ONU em cada área de atuação. Uma comunicação estratégica eficaz contribui para garantir a segurança dos capacetes azuis e a implementação do mandato de cada missão de paz aprovado pelo Conselho de Segurança.

Desde 1956, quando o Brasil enviou um batalhão para a Força de Emergência das Nações Unidas no Sinai, cerca de 55 mil militares, policiais e civis brasileiros trabalharam para a promoção da paz, sob a bandeira azul-claro das Nações Unidas. E um grande brasileiro, Sérgio Vieira de Mello, morreu defendendo essa mesma bandeira da paz, no Iraque.

Julho será um mês de intenso trabalho, o que requererá habilidade diplomática e esforço concentrado para cumprir todo o programa, com o desafio adicional de promover o espírito de cooperação entre os membros do Conselho de Segurança. A diplomacia brasileira não poupará esforços para contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais, como tem feito desde 1946.

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