Otan fala em guerra longa em meio a declarações sobre fadiga da Ucrânia

Implicações econômicas fazem Alemanha recorrer a carvão, e Itália assiste a crise na maior força parlamentar se agravar

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Berlim e Kiev | AFP

A Guerra da Ucrânia pode durar anos, afirmou o secretário-geral da Otan em entrevista ao jornal alemão Bild publicada neste domingo (19). "Não devemos abandonar nosso apoio a Kiev", disse Jens Stoltenberg.

Mais de 110 dias após o início da invasão russa, ele defendeu a manutenção da ajuda independentemente dos altos custos econômicos e políticos. "Esse preço não é nada se comparado ao que os ucranianos pagam", disse, acrescentando que as consequências seriam bem maiores no caso de uma vitória russa.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, durante reunião de ministros da Defesa da aliança militar ocidental em Bruxelas - Yves Herman - 16.jun.22/Reuters

"Armas modernas aumentam a chance de a Ucrânia repelir as tropas de [Vladimir] Putin no Donbass", seguiu o chefe da aliança militar ocidental, citando o leste da Ucrânia onde estão as autoproclamadas repúblicas separatistas e onde Moscou concentrou seus ataques ao longo das últimas semanas.

Os russos voltaram a afirmar que a ofensiva em Severodonetsk, localizada em Lugansk, obteve sucesso. O Ministério da Defesa russo disse em comunicado que a região de Metiolkine, na periferia da cidade, havia sido tomada, informação que não pôde ser checada de forma independente.

Em uma guerra de narrativas, Kiev também afirmou ter tido êxitos ao frear o avanço das tropas russas nos arredores de Severodonetsk, na região de Tochkivka. "Todas as declarações dos russos segundo as quais controlam a cidade são mentira", escreveu o governador Serhii Haidai em um aplicativo de mensagens.

As falas do secretário-geral da Otan ao jornal alemão se assemelham a declarações dadas pelo premiê do Reino Unido, Boris Johnson, no sábado (18). Ele, que fez uma visita surpresa a Kiev na véspera, disse que está se formando uma "fadiga da Ucrânia". Mas ressaltou: "Nesse momento, é importante mostrar que estamos com eles a longo prazo, que estamos dando a eles a resiliência estratégica da qual precisam".

Fala semelhante foi dada pela ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, em maio, quando disse que o Ocidente está cansado do conflito. "Chegamos a um momento de fadiga", afirmou, logo acrescentando que é justamente esse o desejo de Moscou. Recente pesquisa revelou que esse sentimento parte também dos europeus. Levantamento do Conselho Europeu de Relações Exteriores mostrou que cerca de 35% dizem preferir que o fim do conflito ocorra mesmo que a Ucrânia tenha de ceder às demandas russas.

Consequências domésticas na Europa

Desdobramento direto da guerra, a Alemanha anunciou neste domingo um pacote de medidas de emergência para suprir suas necessidades energéticas e diminuir a dependência do gás que vem da Rússia. O ponto principal gira em torno do carvão, combustível fóssil que voltará a ser priorizado por ora.

"Trata-se de uma medida dolorosa, mas imprescindível para reduzir o consumo de gás", afirmou o ministro das Finanças e Ação Climática, Robert Habeck, dos Verdes, em comunicado. "A situação é grave."

Os anúncios vêm após as entregas da estatal russa Gazprom por meio do gasoduto Nord Stream 1 serem reduzidas em 40% nesta semana. Moscou alega problemas técnicos de infraestrutura, mas Berlim atribui a queda no fornecimento a uma decisão política em resposta ao apoio da União Europeia (UE) a Kiev. Outras nações, como a França, também foram consequentemente afetadas.

A decisão alemã pode ter implicações domésticas, já que marca uma mudança da política da coalizão governante formada pelo social-democrata SPD, ao qual pertence o premiê Olaf Scholz, pelos Verdes e pelo liberal FDP, que prometeu reduzir o uso de carvão até 2030.

Na Itália, o envio de armas a Kiev tem aprofundado o racha no Movimento 5 Estrelas, legenda do chanceler Luigi Di Maio. Ele, que vê sua liderança na sigla desafiada, acusou correligionários de minarem esforços do governo do premiê Mario Draghi para apoiar a Ucrânia e enfraquecerem a posição de Roma na UE.

"Esta é uma atitude imatura que tende a criar tensões e instabilidade dentro do governo", disse ele em nota. O governo enfrenta uma votação no Parlamento na terça (21) sobre a Ucrânia, e membros do partido se articulam para limitar o envio de armamentos ao país ora invadido pelas tropas de Putin.

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