Descrição de chapéu Rússia

Pedro, o Grande, abriu janelas da Rússia para a Europa no século 17

Imperador fez série de reformas que colocaram país entre as grandes potências do continente

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Alexei Labetski

Embaixador da Rússia no Brasil

O nascimento de Pedro, o Grande, o primeiro imperador da Rússia, completou 350 anos nesta quinta-feira (9). Sua personalidade e seus feitos ainda são objetos de muita atenção e debates acalorados entre os historiadores.

A infância de Pedro foi ensombrada pela luta sangrenta e intrigas entre as influentes famílias de boiardos Narishkin e Miloslavski após a morte de seu pai, o czar Aleixo da Rússia (1629-1676), que era famoso tanto pelas reformas brandas como pela severa repressão a rebeliões e quaisquer manifestações de insubordinação.

Os educadores do jovem czar, envolvidos na turbulenta vida política, deixaram a Pedro um amplo campo de ação independente: o jovem prestou muita atenção aos jogos de guerra e aos estudos da navegação. Ele cercou-se de amigos leais que tinham diferentes estamentos e nacionalidades (entre eles, por exemplo, os holandeses e alemães do subúrbio de Nemetskaia Sloboda, perto de Moscou –hoje é o bairro de Lefortovo no sudeste da capital russa).

Lua atrás de estátua do Pedro, o Grande, em Moscou, na Rússia
Lua atrás de estátua do Pedro, o Grande, em Moscou, na Rússia - Viktor Korotayev-26.dez.1999/Reuters

Esta foi a razão pelas quais as primeiras decisões independentes de Pedro chocaram seus adversários políticos, que não esperavam ações decisivas e fortes do jovem governante tão "dedicado aos jogos".

O ponto de virada na visão de mundo do jovem soberano foi a chamada "Grande Embaixada" (1697-1698), uma missão diplomática em que Pedro viajou incógnito por vários países europeus. Essa missão não conseguiu atingir seu principal objetivo político –uma série de acordos de aliança para completar com sucesso a guerra contra o Império Otomano– mas Pedro aproveitou a oportunidade única para estudar navegação, construção naval, fortificação, artilharia e as ciências exatas durante mais de um ano.

No seu regresso da missão no estrangeiro, Pedro percebeu que a Rússia só poderia se desenvolver ganhando uma saída fiável para o mar, construindo uma Marinha, Exército e administração civil modernos, além de reformando o comércio e a indústria do país. O czar decidiu resolver essa questão com toda a sua determinação. Recusando-se a continuar as campanhas militares para o sul, Pedro voltou os olhos para a costa báltica e para o desenvolvimento das riquezas dos Urais e da Sibéria.

Aproveitando a aliança militar com o eleitor da Saxônia Augusto 2º (1670-1733), ao mesmo tempo rei da Polônia e grão-duque da Lituânia, concluída durante a "Grande Embaixada", o czar entrou na guerra contra a Suécia, que tinha dominado o mar Báltico desde meados do século 17.

No entanto, ao longo de 21 anos de conflito a Rússia adquiriu uma nova divisão territorial e administrativa, os prikazes (os antigos órgãos de governança que existiam desde Ivan 3º) foram substituídos por colégios (análogos de ministérios) mais eficientes, os sistemas judicial e financeiro foram reformados, o Exército foi reestruturado de acordo com os padrões modernos. Também foi criada a Marinha militar, que conseguiu alcançar uma vitória decisiva sobre os suecos.

Pedro, o Grande, impôs a "Tabela de Patentes" que regulamentava as patentes civis, militares e da corte, proporcionando aos funcionários públicos a rara oportunidade de serem recompensados pelas suas realizações e capacidades e não pela sua origem de classe alta.

Em 1721, a Grande Guerra do Norte terminou. A Suécia assinou o Tratado de Nistad, que garantiu à Rússia as terras e o acesso ao mar Báltico. O tratado de paz concedeu amnistia a todos os "criminosos e desertores", exceto aos apoiantes do traidor Ivan Mazepa, hetman dos cossacos de Zaporozhie, que durante a guerra desertou para o lado do rei sueco.

Logo após a vitória, o czar Pedro tomou o título de Imperador de Toda a Rússia, e o Czarado da Rússia, com a posição geoestratégica firme no norte e leste europeu, foi proclamado Império Russo. A cidade de São Petersburgo, fundada por Pedro o Grande às margens do rio Neva em 1703, tornou-se a capital do Império.

A Rússia entrou de forma constante na família das grandes potências europeias. Em menos de cem anos, o país lideraria o "Concerto da Europa" após a vitória histórica sobre Napoleão e o Congresso de Viena.

O próprio imperador e czar foi trabalhador e criador. Ele introduziu um novo estilo de vida, insistindo em usar ternos ocidentais, barba raspada e incluindo termos estrangeiros na corte russa mas, junto com a modernização forçada, procurou apoiar e desenvolver talentos domésticos e preservar uma identidade única. Os descendentes de Pedro seguiram seu exemplo: adotando as melhores práticas estrangeiras, eles preservaram o caráter único nacional e se dedicaram ao serviço da pátria.

Em conclusão gostaria de anotar que nos trabalhos dos historiadores russos e estrangeiros o reinado de Pedro é frequentemente criticado porque, sob o ponto de vista deles, as reformas do czar visavam principalmente atender às necessidades militares, em vez de promover uma verdadeira modernização do sistema de governança.

Mesmo que se aceite estas observações como válidas, é impossível negar o sucesso das reformas de Pedro, que foram implementadas durante um tempo difícil de guerra. Pelo contrário, os críticos e inimigos da Rússia não devem esquecer esse exemplo histórico, especialmente hoje, quando se tenta mais uma vez "fechar para a Rússia a janela à Europa", que Pedro, o Grande, tão habilmente abriu.

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