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Presidente do Equador escapa de destituição em votação tumultuada

Protestos capitaneados por movimento indígena seguem no país, e governo alega impactos econômicos

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Guarulhos

um ano na Presidência do Equador, Guillermo Lasso escapou de um pedido de impeachment na noite de terça (28). Legisladores propuseram retirá-lo sob o argumento de que ele teria instigado uma grave crise interna ao fracassar nas negociações com setores do movimento indígena que protesta nas ruas.

A moção obteve 80 votos a favor, 12 a menos que o necessário para que fosse aprovada. Estavam presentes 137 parlamentares. Outros 48 votaram contra a destituição, e nove se abstiveram na última de três votações realizadas durante a sessão, após deputados alegarem fraudes e problemas no sistema.

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, em Quito - Bolivar Parra - 29.jun.22/Presidência do Equador via AFP

Lasso celebrou o resultado como uma vitória da democracia. "Apesar das tentativas golpistas, a institucionalidade do país prevaleceu", escreveu o líder equatoriano no Twitter. "Seguimos trabalhando pelo Equador, e está evidente quem são os que trabalham para máfias políticas."

A vitória do presidente no Legislativo veio pouco depois de ele suspender as negociações com a Conaie, maior organização indígena do país, que o presidente acusa de liderar as mobilizações nas ruas contra o preço dos combustíveis para alcançar objetivos políticos e tirá-lo do poder.

Nesta quarta, Lasso decretou estado de exceção em quatro províncias que, de acordo com o governo, "concentram a maioria dos atos violentos". A medida se aplica às regiões de Azuay, Imbabura, Sucumbíos e Orellana, e não inclui Pichincha, cuja capital é Quito e onde milhares de manifestantes estão reunidos.

Milhares protestam no país há mais de duas semanas, o que levou ao fechamento de estabelecimentos comerciais e a cenas de confronto com policiais. Lasso chegou a ceder e a baixar os preços do diesel e da gasolina, mas o movimento não acabou com os atos populares, que persistem. A sobrevivência política do presidente também não aplacou a insatisfação com os efeitos econômicos dos bloqueios e dos protestos.

Pesquisa do instituto Cedatos, publicada na quinta-feira passada (23), mostrava que 80% da população equatoriana afirmava querer o fim das manifestações, que já duram mais de duas semanas.

O Ministério da Energia disse que o país produziu 1,8 milhão de barris de petróleo a menos durante os protestos, já que os bloqueios impediram o transporte de suprimentos da cadeia de produção. "Em 15 dias, o Estado deixou de receber US$ 166,4 milhões [R$ 870 milhões]", afirmou a pasta em nota.

Ainda segundo o governo, a situação é crítica em algumas instituições de saúde, como o hospital Vicente Corral Moscoso, em Cuenca, devido à falta de oxigênio, uma vez que o abastecimento teria sido afetado.

Até aqui, ao menos seis pessoas morreram em meio aos protestos e mais de 600, entre manifestantes e agentes, ficaram feridas —cerca de 150 teriam sido detidas. Lasso anunciou a suspensão do diálogo com lideranças indígenas após um ataque deixar um soldado morto na região da Amazônia equatoriana.

Grupos de direitos humanos acusam o governo de adotar táticas violentas de repressão contra os manifestantes, com uso excessivo da força e detenções arbitrárias, lembrando cenas de outubro de 2019, quando uma grave crise social atingiu o país. "Para evitar que a história se repita, o presidente deve interromper a repressão e abordar as causas estruturais dos protestos, incluindo a crise econômica e o impacto de suas políticas nos direitos dos grupos mais afetados pela pandemia de coronavírus, como os povos indígenas e os mais pobres", afirmou a Anistia Internacional em nota.

O redemoinho político preocupa o presidente não apenas pela continuidade dos atos, mas também porque o Equador tem um histórico de destituição de governantes em meio a mobilizações lideradas pelos indígenas —três presidentes foram retirados do cargo de 1997 a 2005 em movimentos semelhantes.

As manifestações desse setor ajudaram, por exemplo, a desidratar a gestão do antecessor de Lasso, Lenín Moreno. Milhares de indígenas foram às ruas, também devido ao preço do combustível, e o forçaram a recuar em vários pontos. A situação foi agravada na pandemia, e ele nem sequer buscou a reeleição.

Com AFP e Reuters

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