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Soldados LGBTQIA+ da Ucrânia usam símbolo de unicórnio na farda

Casal conta experiência de lutar como voluntários contra russos

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Kiev | Reuters

Enquanto fazem as malas para retornar à ativa, os combatentes voluntários ​Oleksandr Zhuhan e Antonina Romanova contemplam a insígnia de unicórnio que dá a seus uniformes uma rara distinção: um símbolo de seu status de casal de soldados ucranianos LGBTQIA+.

Membros da comunidade LGBT da Ucrânia que se alistaram para lutar na guerra começaram a costurar a imagem do personagem mítico em seus uniformes padrão, logo abaixo da bandeira nacional.

Oleksandr Zhuhan e Antonina Romanova mostram insígnia de unicórnio em seus uniformes - Edgard Su - 25.mai.22/Reuters

A prática remonta ao conflito de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia, e "muitos disseram que não havia gays no Exército", conta o ator, diretor e professor de teatro Zhuhan enquanto ele e Romanova se vestem em seu apartamento para a segunda rodada de combates de três meses. "A comunidade lésbica, gay, bissexual, transgênero e queer escolheu o unicórnio porque é uma criatura fantástica inexistente."

Zhuhan conheceu Romanova, que se identifica como pessoa não binária e se mudou da Crimeia para a capital após ser deslocada pelo conflito de 2014, por meio do teatro. Nem ele nem ela tinham treinamento para usar armas, mas, depois de passarem dias se escondendo no banheiro no início da guerra, decidiram que queriam fazer mais. "Lembro-me que ficou óbvio que só tínhamos três opções: escondermo-nos num abrigo, fugirmos ou nos juntarmos aos voluntários da Defesa. Escolhemos a terceira", diz Romanova.

Antonina Romanova mostra a insígnia de unicórnio em seu uniforme, abaixo da bandeira da Ucrânia - Edgar Su - 25.mai.22/Reuters

Para Zhuhan e Romanova, que prefere ser tratada por pronomes femininos, sua condição lhes dá um senso de responsabilidade adicional. "Porque a Rússia não apenas toma nossos territórios e mata nosso povo. Eles querem destruir nossa cultura, e nós não podemos permitir que isso aconteça", afirma Zhuhan.

'Sem bullying'

Na primeira missão, o casal lutou na mesma unidade em Mikolaiv, no sul. A experiência, definida como aterrorizante mudou suas vidas. Zhuhan contraiu pneumonia, mas os companheiros de luta os aceitaram.

"Não houve agressão nem bullying. Foi um pouco incomum para eles, mas, com o tempo, as pessoas começaram a me chamar de Antonina, alguns até usaram o pronome ‘ela’", conta Romanova.

O casal diz ter recebido muitos tapinhas nas costas quando se juntou à nova unidade, na estação central de Kiev, para um segundo período de três meses de combate. Zhuhan e Romanova conheciam alguns membros da equipe, mas os comandantes não estavam na estação.

"Estou um pouco preocupado com isso", diz Zhuhan, enquanto o clima fica mais sombrio, à medida que a unidade se dirigia para o trem, ao anoitecer. "Sei que em algumas unidades as regras são mais rígidas. Não era assim na nossa [primeira]."

O desconforto melhora quando um comandante deixa clara sua recusa em tolerar a homofobia. Um oficial mais graduado disse à agência de notícias Reuters posteriormente, por telefone, que a única coisa que importa na linha de frente é ser um bom combatente.

Mas um temor permanece. "O que me preocupa é que, caso eu seja morto durante a guerra, eles não permitam que Antonina me enterre do jeito que eu quero", afirma Zhuhan. "Espero que não deixem minha mãe me enterrar com o padre lendo orações bobas... Sou ateu e não quero isso."

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