Tensão entre muçulmanos e hindus cresce na Índia, e governo local demole casas de ativistas

Comentários de membros do partido do governo provocaram revolta, e protestos terminaram em violência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Reuters

Autoridades do estado de Uttar Pradesh, no norte na Índia, demoliram as casas de uma série de pessoas acusadas de envolvimento em protestos que terminaram em violência nas últimas semanas, em meio às tensões no país envolvendo comentários de membros do governo sobre o profeta islâmico Maomé.

O gatilho para a revolta são duas manifestações feitas entre o final de maio e o início de junho por dois porta-vozes do partido BJP (Bharatiya Janata), o mesmo do primeiro-ministro Narendra Modi, considerados depreciativos contra Maomé em um programa de TV e em rede social.

Casa de ativista acusado de liderar protestos de muçulmanos é demolida após ordem do governo no norte da Índia - Sanjay Kanojia/AFP

O partido suspendeu os dois e afirmou que condenava qualquer insulto a qualquer religião. A polícia indiana também apresentou queixas contra eles, abrindo caminho para uma investigação.

O episódio, no entanto, ensejou protestos nas ruas de todo o país, muitos com registro de violência em confrontos entre muçulmanos, que pedem a prisão dos membros do BJP, e hindus, que os rotulam como heróis nacionalistas. A polícia disse ter prendido ao menos 400 suspeitos de provocar desordem em vários estados, imposto toques de recolher e suspendido serviços de internet em alguns lugares.

Na Caxemira indiana, na fronteira com o Paquistão e a China, a polícia prendeu um jovem por publicar um vídeo em redes sociais ameaçando decapitar a autora de um dos comentários considerados ofensivos, disseram autoridades. O vídeo, postado no YouTube, não está mais no ar.

No fim de semana, o ministro-chefe do estado de Uttar Pradesh, Yogi Adityanath, ordenou que as autoridades demolissem quaisquer estabelecimentos considerados ilegais e casas de pessoas acusadas de envolvimento nos protestos, disse o porta-voz do governo local.

A residência de um suposto mentor dos protestos, cuja filha é ativista dos direitos muçulmanos, foi derrubada em meio a forte presença policial no domingo. Propriedades de mais duas pessoas acusadas de atirar pedras após as orações de sexta-feira também foram destruídas no estado.

Um assessor de Adityanath publicou no Twitter a foto de uma escavadeira demolindo um prédio e escreveu: "Elementos rebeldes, lembrem-se, toda sexta-feira é seguida de um sábado". A referência é ao dia das orações dos muçulmanos, considerados sagrados. Líderes da oposição acusam o governo de Adityanath de métodos inconstitucionais para silenciar os manifestantes.

Nesta segunda (13), lideranças de importantes grupos islâmicos e mesquitas na Índia fizeram um apelo para que muçulmanos suspendam os protestos. "É dever de todo muçulmano se unir quando alguém menosprezar o islã, mas ao mesmo tempo é fundamental manter a paz", disse Malik Aslam, do Jamaat-e-Islami Hind, organização muçulmana que opera em uma série de estados indianos.

Os comentários dos membros do governo Modi foram rechaçados por países como Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã e Irã —todos importantes parceiros comerciais da Índia—, que apresentaram protestos diplomáticos, mas o primeiro-ministro não se manifestou.

Desde que chegou ao poder, em 2014, Modi minimiza suas raízes no poderoso grupo nacionalista hindu ao qual seu partido é afiliado, mas minorias muçulmanas reclamam que a repressão cresceu em seu governo. Críticos dizem que o BJP segue uma linha de confronto, promovendo a ideia de que a Índia é uma nação hindu. Muitos muçulmanos veem isso como uma tentativa de marginalizar sua comunidade, que compreende 13% da população indiana, de 1,35 bilhão de pessoas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.