Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump pressionou vice a não certificar vitória de Biden, aponta comitê americano

Assessores disseram que imposição veio após o então presidente ser informado que ação era ilegal

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Washington | Reuters e AFP

O ex-presidente dos EUA Donald Trump pressionou seu vice, Mike Pence, a contestar a vitória do democrata Joe Biden nas eleições de 2020, segundo assessores do ex-número 2 da Casa Branca. A denúncia foi feita nesta quinta-feira (16), no comitê do Congresso americano que investiga a invasão ao Capitólio.

A imposição de Trump veio mesmo após ele ser informado de que o então vice-presidente não tinha autoridade para se opor formalmente à sua derrota. O episódio se refere a 6 de janeiro do ano passado, quando Pence e legisladores americanos se reuniram no Capitólio para certificar a vitória de Biden na eleição presidencial.

Comitê da Câmara dos Deputados dos EUA responsável por investigar a invasão ao Capitólio apresenta vídeo em que o ex-presidente dos EUA Donald Trump conversa com seu vice-presidente, Mike Pence
Comitê da Câmara dos Deputados dos EUA responsável por investigar a invasão ao Capitólio apresenta vídeo em que o ex-presidente dos EUA Donald Trump conversa com seu vice-presidente, Mike Pence - Jonathan Ernst - 16.jun.22 / Reuters

À época, Trump organizou um comício em Washington para repudiar supostas fraudes nas eleições. O então presidente desejava que Pence se recusasse a reconhecer o resultado da votação. Como o sinal não foi seguido, apoiadores republicanos invadiram a sede do Legislativo americano, em um dos maiores atentados à democracia do país.

De acordo com o comitê investigador, liderado por parlamentares democratas, Trump pressionou Pence, ainda sabendo que uma multidão violenta de seus apoiadores seguia rumo ao Capitólio. Segundo familiares do ex-presidente, os dois brigaram por telefone no dia da invasão. Um ex-assessor de Trump disse que ouviu a palavra "covarde" na discussão.

Um vídeo gravado à época da invasão e exibido nesta quinta pela comissão mostrou milhares de apoiadores do ex-presidente gritando para que Pence fosse retirado do Capitólio ou enforcado. Liz Cheney, vice-presidente do comitê, disse na semana passada que Trump respondeu os gritos dizendo que "talvez nossos apoiadores estejam certos".

No mesmo dia, Pence, por outro lado, escreveu ao Congresso que os fundadores dos EUA nunca pretenderam que o vice-presidente tivesse "autoridade unilateral" para anular as recontagens eleitorais. Ele também acrescentou que "nenhum vice-presidente na história dos Estados Unidos fez valer tal autoridade".

O ex-número 2 da Casa Branca disse em fevereiro que sabia quais eram suas obrigações e que manteve seu juramento "ainda que isso tenha doído".

"Mike Pence disse não. Ele resistiu à pressão. Ele sabia que era ilegal. Ele sabia que era errado", disse o deputado democrata Bennie Thompson, presidente do comitê. "Essa coragem o colocou em tremendo perigo", acrescentou.

Marc Short, então chefe de gabinete do ex-vice-presidente, disse em depoimento gravado ao comitê que Pence alertou a Trump "muitas vezes" de que não tinha autoridade para impedir a certificação de votos no Congresso.

Na mesma linha, o advogado de Pence afirmou nesta quinta que o professor de direito John Eastman –um dos articuladores da tese de que a eleição americana foi fraudada– avisou Trump de que o plano de fazer Pence interromper o procedimento violaria a Constituição do país.

O jurista teria sido o responsável por levantar a hipótese de o então vice-presidente rejeitar os resultados da eleição.

A sessão desta quinta é mais uma programada pelos democratas para tentar mostrar que os esforços de Trump para reverter sua derrota foram ilegais. Na segunda (13), por exemplo, o órgão divulgou que os principais conselheiros do ex-presidente o alertaram que suas alegações de fraude nas eleições de 2020 eram infundadas.

​Ao final do processo, o comitê que investiga o episódio pode recomendar a abertura de investigações criminais. Mais de mil testemunhas foram ouvidas. Desde o ataque, aproximadamente 800 pessoas foram presas e acusadas em tribunal —a maioria por entrada sem permissão em um prédio federal.

Trump e aliados, por sua vez, consideram o órgão uma estratégia política do Partido Democrata. O líder dos republicanos na Câmara, Kevin McCarthy, afirmou na semana passada que a comissão é "a mais política e a menos legítima da história dos EUA". O Partido Republicano já prometeu enterrar o trabalho do grupo se assumir o controle do Congresso nas chamadas "midterms", eleições que em novembro vão renovar parte da Casa.

Ainda nesta quinta, Bennie Thompson defendeu que a esposa do juiz da Suprema Corte Clarence Thomas testemunhe para o comitê. O pedido do deputado remete a suspeitas de que o magistrado tenha envolvimento com articuladores da tese de fraude nas eleições –o que poderia acarretar no afastamento de Thomas em futuras decisões relacionadas ao tema.

O jornal The Washington Post informou no início desta semana que o comitê obteve emails entre o juiz e o professor de direito Eastman. Além disso, a esposa de Thomas, Virginia, é ativa em círculos políticos conservadores e teria participado do comício que Trump realizou antes da invasão ao Capitólio.

Em janeiro, Clarence Thomas foi o único dos nove juízes da Suprema Corte a votar a favor do pedido de Trump para bloquear a divulgação dos registros da Casa Branca solicitados pelo comitê.

Após a fala de Thompson, Virginia disse à imprensa americana que aceitaria testemunhar para o órgão.

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