Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Turquia acerta apoio à entrada da Suécia e da Finlândia na Otan

Acordo é assinado após Erdogan conversar com Biden de olho em novos caças F-16

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O governo da Turquia assinou um acordo com Suécia e Finlândia para apoiar a entrada dos dois países nórdicos na Otan. O termo foi assinado em Madri, onde os líderes dos Estados-membros da aliança militar do Ocidente se reúnem até quinta (30), sob o patrocínio do presidente americano, Joe Biden.

A resistência turca era o principal entrave a um dos grandes efeitos colaterais da Guerra da Ucrânia: o fim da neutralidade dos vizinhos do norte europeu, dois séculos no caso sueco, e sete décadas, no finlandês.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, à esq., com os presidentes de Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ao centro, e Finlândia, Sauli Niinistö, em Madri
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, à esq., com os presidentes de Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ao centro, e Finlândia, Sauli Niinistö, em Madri - Yves Herman/Reuters

Ancara vinha resistindo à postulação, alegando que ambas as nações apoiavam grupos de oposição ao governo de Recep Tayyip Erdogan. Ainda não está claro o que foi prometido pelos nórdicos ao turco, mas, de acordo com comunicado da Presidência em Helsinque, os chanceleres dos três países assinaram um memorando para dar continuidade ao processo de adesão.

"A Turquia obteve conquistas importantes na luta contra organizações terroristas. A Turquia obteve o que queria", afirmou a Presidência ​turca, sem oferecer detalhes. Funcionários da Otan disseram que não houve um acerto detalhado de nomes de opositores a serem extraditados, por exemplo.

Como um dos 30 membros da Otan, a Turquia tem direito a veto à entrada de novos integrantes na aliança. Se o anúncio avançar na cúpula de Madri, que já prevê o aumento de tropas no Leste Europeu para conter a Rússia, as diferenças entre os países ficarão em segundo plano.

"Tenho o prazer de anunciar que agora temos um acordo que pavimenta o caminho para a Finlândia e a Suécia aderirem à Otan", disse o secretário-geral da aliança, o norueguês Jens Stoltenberg.

Erdogan, que se reuniu com a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, e o presidente finlandês, Sauli Niinistö, falou antes com Biden ao telefone. Segundo a Casa Branca, os termos da conversa foram gerais, e o assessor de Segurança Nacional, Jake Sullivan, tentou minimizar o papel do chefe no acerto.

O que não foi dito com todas as letras foi o preço da barganha. Desde que se estranhou com os EUA na gestão de Donald Trump e se aproximou do presidente russo, Vladimir Putin, Erdogan pagou um preço militar. Por ter comprado avançados sistemas antiaéreos de Moscou, a Turquia foi excluída do programa de produção multinacional do caça de quinta geração americano F-35.

O episódio deixou o país, que tem envolvimento militar ativo em locais como Síria e Líbia, além de projetar influência em pontos como o Cáucaso e o mar Negro, em posição complicada: sua frota de 260 caças F-16 está envelhecendo rapidamente.

A especulação é a de que a conversa com Biden pode ter destravado ao menos uma compra, longamente protelada, de versões mais modernas do F-16. Não se espera, contudo, mudanças na posição americana de não extraditar o clérigo acusado por Erdogan de tramar o golpe frustrado contra ele em 2016.

Um funcionário americano disse que não houve um arranjo formal sobre caças, mantendo a linha oficial de manter a discrição. O líder turco é, antes de tudo, um pragmático. Ele enfrentará eleições no ano que vem e não está numa posição muito confortável. Resta saber agora o impacto do apoio na relação boa mas com rivalidade entre Erdogan e Putin, que se estende por cooperação militar e energética.

O líder russo, após algumas ameaças por parte de membros de seu governo contra Finlândia e Suécia, acabou baixando a retórica e usando a adesão como instrumento de seu discurso de que a Otan se coloca de forma agressiva contra as fronteiras russas —um dos motivos declarados da invasão da Ucrânia era o de exigir neutralidade de Kiev, impedindo a chegada de forças ocidentais à sua maior fronteira a oeste.

Agora, se o processo nórdico for finalizado, Putin terá ganho 1.300 km de fronteira com um membro da Otan, no caso a Finlândia. A adesão pode demorar meses ou até anos para ser concluída, mas o fato é que já há um alto grau de interoperacionalidade entre os nórdicos e a Otan, além da vontade política ocidental de dar uma resposta a Putin. Haverá gastos: Estocolmo aplica 1,3% de seu Produto Interno Bruto em defesa, enquanto a meta da Otan é de 2% —já cumprida pela menos capaz militarmente Finlândia.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.